20.3.11

O KARMA - PARTE 5/5

A terceira grande classe de energias manifesta-se no plano físico sob a forma de ações, produzindo grande parte do karma, por seus efeitos sobre o meio circundante, mas afetando pouco o homem interior. As ações são efeitos dos pensamentos e dos desejos do passado, e o Karma que elas representam fica na maior parte esgotado, à medida que se vão produzindo.
Podem afetar o homem indiretamente, porque podem despertar pensamentos novos, desejos e emoções mais vivos; mas é nestas atividades mais altas que se concentra a força geradora, e não nas próprias ações. É igualmente verdadeiro que as ações, frequentemente repetidas, produzem no corpo físico uma habito, cujo efeito é limitar a expressão do Ego no mundo exterior; mas este hábito não sobrevive ao corpo, e o Karma da ação, quanto ao seu efeito sobre a alma, fica assim restringido a uma única encarnação.
Mas tudo isto é diferente quando chegamos a estudar o efeito de nossas ações sobre o próximo. A felicidade e a desgraça de que são causa e a influência que exercem, pelo fato de serem exemplos, ligam-nos aos nossos semelhantes graças a esta influencia; e constituem, por conseqüência, um terceiro fator na determinação, no futuro, do nosso meio familiar. Duma maneira geral, o ambiente material favorável ou desfavorável em que viemos ao mundo, depende do efeito que nossas ações passadas exerceram no meio, levando os seres ou à felicidade ou à miséria. Os efeitos físicos produzidos sobre outrem por nossos atos físicos neutralizam-se na operação do Karma, envolvendo-nos de condições materiais boas ou más, para uma futura existência. Si tivermos dado aos homens a felicidade material, com o sacrifício de nossas riquezas, de nosso tempo ou de nossos esforços, esta ação nos será devolvida sob a forma de circunstancias felizes, que nos levam à felicidade material. Si formos para nossos semelhantes causa de uma miséria profunda, espalhando a ruína, recolheremos o Karma por meio de circunstancias físicas deploráveis, que levam ao sofrimento físico. Tanto em um, como outro caso, as conseqüências do ato físico são independentes do motivo do ato, o que nos conduz a considerar a segunda grande lei:

Cada força opera em seu próprio plano.

Si um homem semeia, no plano físico, a felicidade para os outros, colherá condições conducentes à sua própria felicidade neste plano; e o motivo que presidiu a sua ação não intervirá absolutamente no resultado. Um homem pode semear trigo com um fim de especulação para levar a ruína ao seu vizinho; mas o seu motivo perverso não fará nascer grama no lugar do trigo que ele semeou. O motivo é uma força mental ou astral, conforme procede da vontade ou do desejo, e, por conseqüência, reage sobre o caráter mental e moral ou sobre a natureza astral. A realização da felicidade física por uma ação é uma força física que opera sobre o plano físico. O homem, por suas ações, afeta seus semelhantes no plano físico; espalha em torno de si a felicidade ou a miséria; aumenta ou diminui a soma do bem-estar humano. Este acréscimo ou diminuição de bem-estar pode proceder de motivos muito diversos, bons, maus ou mistos. Um homem pode fazer uma ação que leve muito longe a felicidade, por uma simples boa vontade ou benevolência, por um ardente desejo de fazer o bem aos seus semelhantes. Suponhamos que, impulsionado por um tal motivo, faça presente dum parque à cidade para livre uso dos seus habitantes. Um outro pode executar o mesmo ato pelo desejo de atrair a atenção daqueles que concedem distinções sociais (por exemplo: obter um título de nobreza). Um terceiro, enfim, fará a mesma ação por motivo misto, parte por desinteresse. Parte por egoísmo. Os motivos afetarão respectivamente os caracteres destes três homens em suas futuras encarnações, para o bem, para o mal ou de maneira mista. Mas o efeito que esta ação produz, levando a alegria a um grande numero de seres, não depende do motivo do doador. O povo goza igualmente deste parque, qualquer que tenha sido a causa da doação; esta alegria, devida à ação do doador, dá a este sobre a natureza uma divida karmica, que lhe será escrupulosamente devolvida. Nascerá num meio confortável ou mesmo luxuoso, conforme a alegria que derramou; e o seu sacrifício de bens físicos facilitará a recompensa devida, o fruto karmico de sua ação. É este o seu direito. Mas o uso que fará de sua posição, a felicidade que encontrará em sua riqueza e no meio que o cerca, dependerão essencialmente do seu caráter; ainda mais uma vez receberá a devida recompensa, porque cada semente produz frutos segundo a sua espécie.
Na verdade os caminhos do Karma são justos. O Karma não recusa ao mau a exata recompensa duma ação benéfica; mas dá-lhe também o caráter aviltado que merece, por seus motivos perversos, de forma que, no meio de suas riquezas, permanece sombrio e descontente. O homem bom não escapará também do sofrimento físico si espalhar a miséria física por ações errôneas, embora procedentes dum bom motivo. A miséria que ocasionou ser-lhe-á devolvida, no futuro, pelo meio físico que o rodear; mas o seu motivo puro, enobrecendo o seu caráter, fará jorrar nele uma fonte de eterna felicidade, de forma que será paciente e sentir-se-á satisfeito no meio da própria desgraça. Inúmeros enigmas poderão ser resolvidos pela aplicação destes princípios aos fatos da vida corrente.
Esta diferença entre o efeito do motivo e o efeito da ação material é devida a este fato: “cada força possui os caracteres do plano onde foi produzida”.
Quanto mais elevado for o plano, mais poderosa e mais persistente será a força. O motivo é, pois, mais importante que a ação; e uma ação lamentável, nascida de um bom motivo, dá ao agente maior soma de felicidade do que uma ação benfazeja, procedente de um mau motivo. O motivo, reagindo sobre o caráter, dá nascimento a uma longa série de efeitos; porque as ações futuras, determinadas por este caráter, serão todas influenciadas por seu progresso ou por sua determinação. A ação, ao contrário, levando ao seu autor a felicidade ou a desgraça físicas, conforme o efeito por elas produzido sobre outrem, não possui em si nenhuma força geradora e se esgota por seu próprio efeito. Quando um conflito de deveres aparentes faz com que seja difícil reconhecer o caminho da justiça, o homem que conhece o Karma esforça-se por escolher a melhor estrada, tirando todo o partido possível de sua razão e seu critério.
Si for absolutamente escrupuloso quanto aos motivos, si afastar todas as considerações egoístas e purificar seu coração; si, em seguida, agir sem temor, mas si a ação se transformar em num erro, aceitará pacientemente o sofrimento dela resultante como uma lição que mais tarde frutificara. Mas, entrementes, aquele motivo digno enobrecerá para sempre o seu caráter.
Este principio geral, de que a força pertence ao plano no qual foi gerada, tem um alcance imenso. Si a força emitida tem por motivo a obtenção de objetos materiais, atua no plano físico e prende a este plano o seu creador; si visar objetos celestes, opera no plano devakhanico, ligando o seu autor a este plano; si não tem outro móvel a não ser a fonte de amor divino, é libertada no plano espiritual e não pode absolutamente ligar o individuo, porque este nada pediu.

Fim.

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