Quando o
Divino Respirar emanou o inefável sopro que devia dar alma e voz ao infinito
reino das sombras, a matéria inerte, despertada pelo Supremo Querer, serviu à
vida do homem.
A
natureza tornou-se o seu reino prodigioso que, ocultando na imanência natural a
transcendência do espírito cósmico, devia fatalmente exprimi-la transfigurando
os seus primeiros valores.
E
quando a existência criada encheu o vácuo espacial com a sua manifestação, à
vontade do espírito foi confiada a trama de seu destino desconhecido.
Desde
então descobrir o mistério das origens converteu-se no tormento mortificante
que te impelia à aflita procura da Verdade. Ansioso na tentativa de extrair da
imensidade cósmica o segredo da unidade de que guardas a oculta herança e de
que te sentes partícipe, aprendeste através do sofrimento humano que o
espírito, tênue centelha emanada do Fogo Eterno, leva em si a marca da sua
divindade.
Porém
não te basta mais intuir a fonte originária da qual brota a vida; tu tens sede
e queres dessedentar-te na fonte maravilhosa daquelas origens ainda ocultas.
Elas te serão reveladas pouco a pouco mediante a realização dos valores
espirituais que, sendo a intrínsica realidade do Absoluto, sustêm a
manifestação das fôrças vivas do homem.
Porque
tudo está contido nos admiráveis aspectos da vida universa, o absurdo real, o
espírito e a matéria, o pensamento e a
ação; ela, plasmando a substância sob o impulso de um misterioso querer, torna-se
a alma das cousas passadas e a linfa das futuras, pronta a elevar-se nos
soberbos vôos para os céus irradiantes de azul ou a precipitar-se atraída pela
convidativa e misteriosa voz dos desejos.
No
seu eterno dualismo, sempre em harmonia nos seus contrastes, tu encontrarás a
síntese de todos os aspectos e de todas as leis que disciplinam o criado, onde,
do microcosmos ao macrocosmos, o equilíbrio com o seu dinamismo, imprimindo um
impulso perene a toda manifestação, realiza o prodigioso processo evolutivo.
A
luz se tornará o espírito da sombra, o espaço assinalará o ritmo do tempo, o
negativo combaterá o positivo e assim por diante até às formas mais humanas
que, no seu campo de ação, compreendem tudo no duplo aspecto: a vida e a morte.
A primeira, manifestação concreta do espírito no ciclo da carne; a segunda,
realidade abstrata da carne subjugada pela lei da evolução, fôrça inelutável
que ninguém conseguirá deter nunca.
Nessa
grande cadeira a centelha energética espiritual do perecível remonta ao eterno
ciclo, enquanto a centelha energética material volta como fôrça informe ao
Absoluto e n”Êle repousa.
Duas
expressões do Eu, diversas uma da outra, das quais surge o princípio dominante
do universo cosmos, e onde se oculta e se manifesta a transcendência e a
imanência divinas.
Esses
caracteres que fazem parte do Eu espiritual e do Eu material são transmitidos
por Deus que é transcendente porque representa o inconcebível, a irrealidade
real, a absurda verdade do Todo que tudo transfigura no Seu sopro criador, e é
imanente porque está no homem, no seu espírito e na sua consciência, na sua
carne e na sua palavra, porque tudo Lhe pertence, o absoluto e o relativo, o
permanente e o transitório, o necessário e o contingente.
D”Ele
só, Princípio de cada cousa, Manancial Onipotente e Motor Imóvel, emana a
realidade universal da poeira estelar. E é por essa razão que, atraído pelo
brilhante resplandecer dos mundos, o teu desejo vai em busca da felicidade perdida. Mas o ardor da
alma deve deter-se nos umbrais do imprecrustável Poder, até quando, compreendendo a sua
imanência, transfigurar-te-ás na divina transcendência.
Por isso, no fascinante mistério da existência,
no perene e constante dualismo entre a perecibilidade da matéria e a eternidade
do espírito, tu, realizando o maravilhoso ciclo da polaridade da lei,
encontrarás, refletidas em ti mesmo, a imanência e transcendência divinas.
Muitas
vezes, durante o caminho da vida, a matéria ofusca a consciência contrastando,
em uma luta surda, o espírito que procura arduamente afirmar os seus valores
supremos.
Mas
tu, meu filho, afronta conscientemente essa luta tormentosa que, realizando o
ciclo humano, te oferece a possibilidade de adquirir as admiráveis virtudes
graças às quais poderás levantar-te, da amarga simbiose da carne, da amarga
simbiose da carne, à unidade do espírito.
Só
então, no especo sem limites, na calma terrificante do vácuo infinito, o teu
espírito vibrará de novo na inefável felicidade do Absoluto.
Porque
no duplo Eu da matéria-espírito, na união harmônica do negativo e positivo dos
teus valores espirituais, terás encontrado o equilíbrio.
E
na ânsia universal de um novo vórtice, a tua vontade anulará o passado e o
futuro em um eterno presente onde refulgirá o esplendoroso mistério da
ressurreição. Ressurreição do espírito do tormento da carne, ressurreição da
carne no triunfo do espírito.
ERGOS