13.3.11

O KARMA - PARTE 1/5

Karma é um termo sânscrito que significa literalmente “ação”. Admitindo que toda a ação deriva, como efeito, de causas anteriores, e que cada efeito se torna, por sua vez, causa de efeitos futuros, esta noção de causa e efeito é um elemento essencial na idéia de ação. Eis porque o termo ação, ou karma, é empregado no sentido de “causalidade” e designa a série ininterrupta, o encadeamento das causas e efeitos de que se compõe toda a atividade humana. Daí a frase que muitas vezes empregamos ao falar dum acontecimento: “é meu karma”, isto é, “este acontecimento é o efeito de uma causa posta em jogo por mim no passado”. Nenhuma existência está isolada; cada vida é o fruto de todas as que a precederam, o gérmen de todas as que vão seguir-se, no conjunto total das vidas de que se compõem a existência contínua da individualidade humana. Não existe nem o “acaso” nem o “acidente”; cada acontecimento está ligado às causas antecedentes e aos efeitos subseqüentes; pensamentos, ações, circunstancias, procedem do passado e influem no futuro. Envolvidos num véo de espessa ignorância que, simultaneamente, nos oculta o passado e o futuro, os acontecimentos nos parecem sair de repente do nada e ser “acidentais”; mas esta aparência é ilusória e procede exclusivamente do nosso limitado saber. Assim como o selvagem, que ignora as leis do universo físico, considera os acontecimentos naturais como destituídos de causas e admite como “milagres” as operações das leis físicas desconhecidas, assim também a grande maioria dos homens, ignorando as leis mentais e morais, considera os acontecimentos mentais e morais como destituídos de causas e admite a ação das leis desconhecidas, mentais e morais, como sendo a boa ou má “fortuna”.
Quando, pela primeira vez, surgiu no horizonte do pensamento humano esta idéia duma lei inviolável, imutável, em um domínio até então vagamente atribuído ao acaso, nasceu para muitos um sentimento de impotência, quase de paralisia mental e moral. O homem sente-se preso pela mão de ferro dum destino inflexível, e o “kismet” resignado do muçulmano parece ser a única formula filosófica possível. É esta a sensação que experimenta o selvagem quando a sua inteligência, aturdida, surpreende-se ao conceber, pela primeira vez, a idéia duma lei física; quando compreende que cada movimento de seu corpo e todos os movimentos da natureza exterior se executam sob a ação de leis imutáveis. Mas, depois percebe, pouco a pouco, que as leis naturais não fazem senão apresentar, ou por outras palavras, expor as condições indispensáveis a toda a ação, sem para isto prescreverem a própria ação; de forma que o homem, no meio delas, permanece livre, embora limitado em suas atividades exteriores, pelas condições do plano sobre que atua. Compreende mais que as condições que o reduzem à impotência, anulando seus mais intrépidos esforços, enquanto as ignora ou enquanto, conhecendo-as, as combate; tornam-se suas escravas e suas auxiliares desde que as compreende e lhes sabe determinar a direção e calcular o poder.
Na verdade, se a Ciência é possível no plano físico, é porque as leis deste plano são invioláveis e imutáveis. Se não existissem leis naturais, Ciência nenhuma poderia existir. Um investigador faz um certo numero de experiências com o fim de saber como a natureza opera. Uma vez adquirido este conhecimento, o investigador pode tomar as disposições requeridas para conduzir a um determinado resultado. Se nada conseguir, sabe que foi por ter esquecido alguma condição necessária: ou, então, porque o seu conhecimento das leis é ainda imperfeito, ou por se ter enganado em seus cálculos. Volta aos seus estudos, retifica o seu método, retoma seus cálculos com toda serenidade, perfeitamente convencido que, a toda pergunta bem feita, a natureza deve responder com invariável precisão. O hidrogênio e o oxigênio não lhe dão hoje água e amanhã acido prussico; e o fogo que o queima hoje, não o gelará amanhã. Se a água pode ser liquida hoje e sólida amanhã, é porque as condições do meio foram alteradas; o restabelecimento das condições originais dar-nos-á o resultado positivo.
Cada nova informação obtida, com relação às leis da natureza, constitui não uma restrição nova, mas um poder novo. Porque todas as energias da natureza se tornam forças utilizáveis nas mãos do homem, à medida que ele consegue compreende-las. Daí o provérbio: “saber é poder”, porque o uso que se pode fazer das forças depende do conhecimento que delas se tem. Escolhendo as que deseja utilizar, equilibrando-as entre si, neutralizando as energias contrarias que impedem seus desígnios, o sábio pode previamente determinar o resultado, provocando a realização do que calculou. Compreendendo e manipulando as causas, pode predizer os efeitos.
Assim a rigidez da natureza, que, à primeira vista, parece paralisar a ação do homem, pode ser empregada por ele em produzir resultados infinitamente variados.
A fixidez perfeita de cada força, considerada isoladamente, torna possível a perfeita flexibilidade de suas combinações. Porque as forças sendo de toda a espécie, movendo-se em todas as direções e todas calculáveis, pode ser feita entre elas uma cuidadosa escolha, e as forças escolhidas, combinadas de maneira a produzir qualquer resultado desejado. Uma vez que determinamos obter um certo resultado, basta para o alcançar fazer uma ponderação metódica das forças, causa da combinação escolhida. Mas devemos ter sempre presente que, para dirigir os acontecimentos que devem produzir o resultado visado, é necessário o conhecimento. O ignorante caminha tropeçando, impotente, chocando-se com as leis naturais imutáveis e vendo falirem todos os seus esforços; enquanto o homem de saber vai metodicamente para a frente, previdente, despertando certos efeitos, impedindo outros, ajustando todas as coisas, realizando enfim seus desígnios não porque tem sorte, mas porque tudo compreende.
Um é o joguete, o escravo da natureza, arrastado ao sabor das forças imutáveis; o outro é o senhor delas, utilizando as energias cósmicas para as conduzir para onde a sua vontade determina.
O que é verdade para o domínio da lei física, é igualmente verdadeiro no mundo moral e no mundo mental, mundos estes regidos também por leis.

Continua.

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