15.11.11

UMBANDA 103 PASSOS NA LONGA JORNADA

Enfim chegamos ao dia em que comemoramos 103 anos de existência da Umbanda, para muitos dia de gratidão e alegria nos corações e consciências, onde ocorre verdadeiramente a festa, para outros a confirmação da imposição de legitimação de uma figura em detrimento da possibilidade da existência da Umbanda antes de 1908, e para tantos outros ainda tanto faz como tanto fez.


Dia de reflexão, pois é preciso durante a jornada, parar algumas vezes, recostar-se à sombra de uma árvore, respirar fundo e olhar para o tanto de caminho já percorrido, e após alguns momentos se perguntar;


Jesus, Zambi, Oxalá, Olorum, tua mão me trouxe até aqui, me ajuda a enxergar, tenho vivido o que o Teu Amor depositou em confiança em mim?


A resposta poderá vir numa brisa refrescante, num raio luminoso, numa chama que arde sem se consumir, num aroma de folhas, ou quem sabe em gotas de chuva, como a que cai hoje ininterrupta e que sincero, faço votos lave não só o corpo, a alma, o pó, a lama, de quem se propõe este tempo de encontro interior, mas muito mais profundamente dissolva e perdoe os passos equivocados dados em nome do ego divindade, os despachos sanguinolentos, as amarrações ilusórias, os arroubos humilhantes que visam manter medo controlador em nome da autoridade, os discursos demagógicos, os tapinhas nas costas no intuito de angariar correligionários, os espetáculos fantasiosos de cores e brilhos e tecidos e acessórios que distam da compreensão mais essencial do que seja o valor humildade, a conversa astuta e envolvente aos ouvidos do necessitado de amparo e auxílio, com objetivos de ganho monetário, os obstáculos ao incentivo do estudo esclarecedor em fontes abençoadas como o Evangelho e a Doutrina Espírita, enfim lave as plumas, os lamês, a maquiagem, as máscaras enganadoras e deixe frente a si mesmo apenas o próprio ser e suas crenças, suas certezas, suas fé, diante da pergunta esfinge;


Tenho vivido o que o Teu Amor depositou em confiança em mim?


"A Umbanda tem progredido e vai progredir. É preciso haver sinceridade, honestidade e eu previno sempre aos companheiros de muitos anos: a vil moeda vai prejudicar a Umbanda; médiuns que irão se vender e que serão, mais tarde, expulsos, como Jesus expulsou os vendilhões do templo.


O perigo do médium homem é a consulente mulher; do médium mulher é o consulente homem. É preciso estar sempre de prevenção, porque os próprios obsessores que procuram atacar as nossas casas fazem com que toque alguma coisa no coração da mulher que fala ao pai de terreiro, como no coração do homem que fala à mãe de terreiro. É preciso haver muita moral para que a Umbanda progrida, seja forte e coesa.


Umbanda é humildade, amor e caridade – esta a nossa bandeira. Neste momento, meus irmãos, me rodeiam diversos espíritos que trabalham na Umbanda do Brasil: Caboclos de Oxósse, de Ogum, de Xangô. Eu, porém, sou da falange de Oxósse, meu pai, e não vim por acaso, trouxe uma ordem, uma missão.


Meus irmãos: sejam humildes, tenham amor no coração, amor de irmão para irmão, porque vossas mediunidades ficarão mais puras, servindo aos espíritos superiores que venham a baixar entre vós; é preciso que os aparelhos estejam sempre limpos, os instrumentos afinados com as virtudes que Jesus pregou aqui na Terra, para que tenhamos boas comunicações e proteção para aqueles que vêm em busca de socorro nas casas de Umbanda.


Meus irmãos: meu aparelho já está velho, com 80 anos a fazer, mas começou antes dos 18. Posso dizer que o ajudei a casar, para que não estivesse a dar cabeçadas, para que fosse um médium aproveitável e que, pela sua mediunidade, eu pudesse implantar a nossa Umbanda. A maior parte dos que trabalham na Umbanda, se não passaram por esta Tenda, passaram pelas que safram desta Casa.


Tenho uma coisa a vos pedir: se Jesus veio ao planeta Terra na humildade de uma manjedoura, não foi por acaso. Assim o Pai determinou. Podia ter procurado a casa de um potentado da época, mas foi escolher aquela que havia de ser sua mãe, este espírito que viria traçar à humanidade os passos para obter paz, saúde e felicidade.


Que o nascimento de Jesus, a humildade que Ele baixou à Terra, sirvam de exemplos, iluminando os vossos espíritos, tirando os escuros de maldade por pensamento ou práticas; que Deus perdoe as maldades que possam ter sido pensadas, para que a paz possa reinar em vossos corações e nos vossos lares.


Fechai os olhos para a casa do vizinho; fechai a boca para não murmurar contra quem quer que seja; não julgueis para não serdes julgados; acreditai em Deus e a paz entrará em vosso lar. É dos Evangelhos.


Eu, meus irmãos, como o menor espírito que baixou à Terra, mas amigo de todos, numa concentração perfeita dos companheiros que me rodeiam neste momento, peço que eles sintam a necessidade de cada um de vós e que, ao sairdes deste templo de caridade, encontreis os caminhos abertos, vossos enfermos melhorados e curados, e a saúde para sempre em vossa matéria.


Com um voto de paz, saúde e felicidade, com humildade, amor e caridade, sou e sempre serei o humilde Caboclo das Sete Encruzilhadas".


Mensagem gravada pela jornalista Lilian Ribeiro, diretora da TULEF (Tenda de Umbanda Luz, Esperança, Fraternidade – RJ), em 1971 na Tenda Espírita Nossa da Piedade, 1ª Tenda de Umbanda do Brasil, fundada em 1908, e que bem espelha a humildade e o alto grau de evolução desta entidade de muita luz, o Caboclo das Sete Encruzilhadas, entidade espiritual responsável pela surgimento da Umbanda, através do médium Sr. Zélio Fernandino de Moares.


Paz e Luz Profundas a todos!


Postado por Edenilson Francisco às 11/15/2011 09:41:00 AM no blog umbanda...aprecie com moderação

1.11.11

AMBIÇÃO E ÉTICA

O museu de grandes novidades (meteóricas) no movimento umbandista
Este artigo do consultor Stephen Kanitz continua a calar fundo...


AMBIÇÃO E ÉTICA

Ambição é tudo o que você pretende fazer na vida. São seus objetivos, seus sonhos, suas resoluções para o novo milênio. As pessoas costumam ter como ambição ganhar muito dinheiro, casar com uma moça ou um moço bonito ou viajar pelo mundo afora. A mais pobre das ambições é querer ganhar muito dinheiro, porque dinheiro por si só não é objetivo: é um meio para alcançar sua verdadeira ambição, como viajar pelo mundo. No fim da viagem você estará de volta à estaca zero quanto ao dinheiro, mas terá cumprido sua ambição.

As pessoas mais infelizes que eu conheço são as mais ricas. Quanto mais rico, mais infeliz. Nunca me esqueço de um comentário de uma copeira, na casa de um empresário arquimilionário, que cochichava para a cozinheira: "Todas as festas de rico são tão chatas como esta?" "Sim, todas, sem exceção", foi a resposta da cozinheira.

De fato, ninguém estava cantando em volta de um violão. Os homens estavam em pé numa roda falando de dinheiro, e as mulheres numa outra roda conversavam sobre não sei o que, porque eu sempre fico preso na roda dos homens falando de dinheiro.

Não há nada de errado em ser ambicioso na vida, muito menos em ter "grandes" ambições. As pessoas mais ambiciosas que conheço não são os pontocom que querem fazer um IPO (sigla de oferta pública inicial de ações) em Nova York. São os líderes de entidades beneficentes do Brasil, que querem "acabar com a pobreza do mundo" ou "eliminar a corrupção do Brasil". Esses, sim, são projetos ambiciosos.

Já ética são os limites que você se impõe na busca de sua ambição. É tudo que você não quer fazer na luta para conseguir realizar seus objetivos. Como não roubar, mentir ou pisar nos outros para atingir sua ambição. A maioria dos pais se preocupa bastante quando os filhos não mostram ambição, mas nem todos se preocupam quando os filhos quebram a ética. Se o filho colou na prova, não importa, desde que tenha passado de ano, o objetivo maior.

Algumas escolas estão ensinando a nossos filhos que ética é ajudar os outros. Isso, porém, não é ética, é ambição. Ajudar os outros deveria ser um objetivo de vida, a ambição de todos, ou pelo menos da maioria. Aprendemos a não falar em sala de aula, a não perturbar a classe, mas pouco sobre ética. Não conheço ninguém que tenha sido expulso da faculdade por ter colado do colega. "Ajudar" os outros, e nossos colegas, faz parte de nossa "ética". Não colar dos outros, infelizmente, não faz.

O problema do mundo é que normalmente decidimos nossa ambição antes de nossa ética, quando o certo seria o contrário. Por quê? Dependendo da ambição, torna-se difícil impor uma ética que frustrará nossos objetivos. Quando percebemos que não conseguiremos alcançar nossos objetivos, a tendência é reduzir o rigor ético, e não reduzir a ambição. Monica Levinski, uma insignificante estagiária na Casa Branca, colocou a ambição na frente da ética, e tirou o Partido Democrata do poder, numa eleição praticamente ganha, pelo enorme sucesso da economia na sua gestão.

Definir cedo o comportamento ético pode ser a tarefa mais importante da vida, especialmente se você pretende ser um estagiário. Nunca me esqueço de um almoço, há 25 anos, com um importante empresário do setor eletrônico. Ele começou a chorar no meio do almoço, algo incomum entre empresários, e eu não conseguia imaginar o que eu havia dito de errado. O caso, na realidade, era pessoal: sua filha se casaria no dia seguinte, e ele se dera conta de que não a conhecia, praticamente. Aquele choro me marcou profundamente e se tornou logo cedo parte da ética na minha vida: nunca colocar minha ambição na frente da minha família.

Defina sua ética quanto antes possível. A ambição não pode antecedê-la, é ela que tem de preceder à sua ambição.


Publicado na Revista Veja edição 1684 ano 34 no 3 de 24 de janeiro de 2001

http://www.kanitz.com.br/veja/ambicao_e_etica.asp

17.10.11

UMBANDA - MANIFESTAÇÃO DO ESPÍRITO PARA A CARIDADE

Conforme anunciou o Caboclo das Sete Encruzilhadas em 1908 através do Sr. Zelio Fernandino de Moraes que a Umbanda é a manifestação do Espírito para a Caridade, e como Caridade é um termo muito pouco compreendido em todo seu alcance, ofereço aos irmãos o texto a seguir.

A CARIDADE SEGUNDO O APÓSTOLO PAULO

O que é a caridade? Seria darmos esmolas, levarmos comida aos necessitados, comprarmos uma rifa beneficente? Fazer isso nos daria a consciência tranqüila do dever cumprido como cristãos?
Paulo, nesta passagem, mostra aos cristãos de Corinto que a caridade é algo muito mais profundo e importante do que apenas darmos o que nos sobra aos carentes. Embora isto também seja um ato caritativo, não resume a grandiosidade desta virtude.
"Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos, e não tivesse caridade, seria como o metal que soa ou como o sino que tine".
Este trecho é um alerta a todos os que são oradores, sejam espíritas, católicos, evangélicos, umbandistas, ou qualquer pregador que fale dos ensinos divinos. De nada adianta ser belo na palavra e pobre de ações. O exemplo de mudança íntima, de luta constante contra as imperfeições, deve fazer parte da vida dos que se dedicam a divulgar a mensagem cristã. Conheceremos se a árvore é boa pelos frutos, alertou Jesus. Caso contrário, a palavra será como o sino que tine, ou seja, fará muito barulho e chamará a atenção, mas não modificará os corações e inteligências a que é direcionada.
"E ainda que tivesse o dom de profecia, e conhecesse todos os mistérios e toda a ciência e ainda que tivesse toda a fé, de maneira tal que transportasse os montes, e não tivesse caridade, nada seria."
Ter conhecimento espiritual não faz do ser um indivíduo caridoso. É Jesus mesmo que se diz agradecido a Deus, por haver escondido os mistérios divinos dos sábios e os revelado aos simples (Mateus, cap. XI), referindo-se ao sentimento e à fé nos ensinamentos espirituais. A mediunidade e o entendimento das Leis do universo dão sim ao ser maior responsabilidade frente à vida, e de posse disso devem seus detentores modificar suas condutas e buscar a humildade.
A fé também não é sinônimo de caridade, pois sem obras é morta, segundo o apóstolo Tiago, em sua Epístola, cap. II, vers. 17. Com a afirmativa de que por mais fé que tivermos em Deus e em nossas próprias forças nada seremos se não tivermos a caridade, Paulo chama a atenção dos religiosos em geral. Muitos de nós acreditamos que a crença inabalável é porta aberta para ajuda do Alto. Porém, se não nos ajudarmos, praticando aquilo em que cremos através do bom exemplo, qual a vantagem de possuir fé?
"E ainda que distribuísse toda a minha fortuna para sustento dos pobres, e ainda que entregasse o meu corpo para ser queimado, e não tivesse caridade, nada disso me aproveitaria".
Dar esmolas e acabar com a necessidade material do próximo é muito importante. Mas preciso é alertar às pessoas que tudo depende da intenção. Se fizermos a doação material com o objetivo de aparecermos aos outros, ou então para aliviarmos nossa consciência, estaremos nos enganando. Além disso, corremos o risco de ajudar ao necessitado, mas humilhá-lo ao mesmo tempo, com um ar de superioridade que o ferirá. A doação desinteressada deve brotar da compreensão da Lei de Deus, tornando-nos irmãos de quem ajudamos e tendo como único fim o amparo e alívio do sofredor.
Ainda neste trecho, Paulo instrui de que nada adianta nos auto-flagelarmos, com o intuito de mostrarmos para quem nos vê que somos crentes em Deus. Mais importante que castigar o corpo, com privações e sofrimentos, é sufocar as más tendências, verdadeiras mães de nossas desgraças.
"A caridade é sofredora, é benigna; a caridade não é invejosa; não trata com leviandade; não se ensoberbece".
O apóstolo mostra que a verdadeira caridade traz a resignação, que é o entendimento das dificuldades da vida como obstáculos a serem vencidos, objetivando o progresso espiritual. Alia a bondade para com todos, independente do momento, pois a vingança e o ódio corroem o sentimento e turbam os sentidos racionais, enquanto o perdão enobrece o ser. Diz ainda que a prudência deve fazer parte de quem busca a caridade, pois ser leviano traz conseqüências inesperadas, e o orgulho do homem pode contribuir para o afastamento de Deus.
"Não se porta com indecência, não busca os seus interesses, não se irrita, não suspeita mal. Não folga com a injustiça, mas folga com a verdade".
Em um mundo onde o que mais vale é a satisfação pessoal, mesmo em detrimento da paz alheia, a caridade busca decência e fraternidade. O público precisa ser levado a refletir sobre de que adianta levarmos vantagem em tudo se alguém estiver sofrendo com isso? Com certeza, esta dor do próximo será revertida em desespero, rancor, violência, que mais cedo ou mais tarde, acabará voltando-se contra nós mesmos, nossos filhos ou amigos.
Irritar-se é a melhor forma de perdermos a razão, por isso a paciência e a sensatez fazem parte da caridade, levando o homem a pensar antes de agir. Assim, devemos lembrar que a justiça irá se fazer mais presente em nossa sociedade, libertando os seres das mentiras e intrigas que envolvem interesses pessoais. É a verdade prevalecendo, e só ela pode nos libertar da ignorância, disse Jesus.
"Tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta".
Tudo tem sua hora. Saber esperar é próprio da caridade. Quando o ser amplia sua visão além da vida material, vê no horizonte a luz necessária para manter-se animado e vivo. Busca na sabedoria cristã o esclarecimento para suas dúvidas, deixando de lado o desespero. É o caminho do equilíbrio proporcionado pela caridade.
"Agora, pois, permanecem a fé, a esperança e a caridade. Mas a maior destas é a caridade" ( Paulo, I Coríntios, cap. XIII, vers. 1 ao 13).
Mudança íntima, humildade, obras, exemplo, doação desinteressada, resignação, bondade, perdão, prudência, decência, razão, tranqüilidade, sabedoria, justiça, amor ao próximo como a si mesmo. Agora é o momento de mostrar o que verdadeiramente Paulo diz sobre o que é a caridade: um conjunto de atributos morais e intelectuais, que fará do Espírito ser dono de seu próprio destino.
A fé e a esperança, indispensáveis para uma existência sensata e confiante, são assessoras da caridade, que será o sentimento principal a ser buscado pelo homem de bem, libertando de seu egoísmo e encaminhando-o para o Reino de Deus.
"Todos os deveres do homem se encontram resumidos na máxima: Fora da caridade não há salvação (Allan Kardec, Evang. S. Esp., cap.XV, item 5).
Após a passagem de Paulo, voltemo-nos à citação de Kardec. Diferente de outras religiões que colocam como essencial para a salvação (entenda-se liberdade com conhecimento) a freqüência exclusiva em suas fileiras, a Doutrina Espírita mostra que o que interessa é a prática da caridade, seja ela feita em que religião for. Jesus nunca disse que esta ou aquela doutrina deveria ser seguida. Mas sim, resumiu a Lei e os profetas em: Amar a Deus sobre tudo e ao próximo como a si mesmo. Este é o lema do Espiritismo:
"Reconhece-se o verdadeiro espírita pela sua transformação moral, e pelos esforços que faz para domar suas más inclinações". (Allan Kardec, E.S.E., XVII, 4).
Para encerrar, nem Paulo, nem Jesus e muito menos a Doutrina Espírita quer que sejamos santos. Os Espíritos superiores sabem de nossas limitações e os ensinamentos cristãos são exatamente para ajudar-nos a superá-los. O que se espera do verdadeiro espírita, ou cristão, que têm o mesmo sentido, é o esforço constante em analisar-se moralmente. E sempre que se perceber fora dos atributos que constituem a caridade, que erga a cabeça, recomece novamente o caminho, sem desesperos ou pressa, mas a passos firmes e corajosos.
Copyright by Grupo Espírita Apóstolo Paulo

16.10.11

UMBANDA NO SÉCULO XXI NA VISÃO DE UM ETERNO APRENDIZ

UMBANDA NO SECULO XXI NA VISÃO DE UM ETERNO APRENDIZ

Quando elevamos nossos olhos acima da materialidade, e olhamos a Umbanda sob o aspecto dos 4 pilares do conhecimento, ou seja, filosofia, ciência, arte e religião, com o nosso espírito liberto de pré-conceitos, dogmas, ritos, ou qualquer sistema que aprisione a mente, temos a certeza de que a UMBANDA É A RELIGIÃO UNIVERSAL.
A Verdadeira Umbanda, ou melhor, A UMBANDA, não pode ser limitada aos trabalhos práticos do Terreiro. Está na hora, ou mesmo passando da hora, de entendermos que a Umbanda é muito superior. Para se tornar verdadeiramente uma religião - entenda-se religião no sentido de religação com o Supremo Deus, ou outra denominação que se dê ao Criador, O Único Indivisível - temos que abrir nossas mentes aos ensinamentos dos Grandes Mestres, sejam eles de que corrente de pensamento for sem aquele pré-conceito de que na Umbanda somente o que nos falam as Entidades Incorporantes é verdadeiro para os umbandistas, vedando-se àqueles que procuram em outras fontes um conhecimento no sentido de elevação de sua própria espiritualidade.
A Umbanda, dirigindo-se ao homem, diz-lhe: “Todos somos folhas e frutos de uma só árvore”. O mundo da existência outra coisa não é, senão uma árvore e as nações e os povos são como os seus diferentes ramos e os seres humanos são semelhantes aos seus frutos e flores. Assim devemos proclamar a unidade no mundo da humanidade, mergulhando-a no mar das grandezas divinas.
Nenhum homem deve seguir cegamente os princípios de seus ascendentes, pondo de lado as imitações. Deve investigar a verdade, procurando seus fundamentos, abrir seus olhos para enxergar por si próprio, abrir seus ouvidos para ouvir diretamente por eles e abraçando o que determinar a sua consciência, encontrará o caminho que o conduzirá à verdadeira religião.
A religião não pode ser causa de inimizades e muito menos de ódio; se apóia a tirania e sustenta a injustiça, é falsa. A seguir uma falsa religião é preferível a descrença; esta não prejudica as coletividades, enquanto que a má religião produz iniqüidades.
A ciência, a razão e a fé devem concordar perfeitamente entre si. As três precisam estar unidas indissoluvelmente. O costume do homem em aceitar a fé dogmática, seja no que for, repele a razão humana. A fé deve ser racional e concordar com a ciência perfeitamente; quando esta sanciona aquela, a razão humana se fortalece e a convicção integraliza-se.
O gênero humano é um só, por isso não deve existir qualquer tipo de desigualdade.
Todos os iniciadores da humanidade têm vindo ao planeta para unir os seres humanos e não para dispersá-los. É preciso por em ação os seus ensinamentos pela lei do amor; abandonemos, pois, os preconceitos de raça, de pátria, políticos e religiosos. Trabalhemos pela causa da unidade da espécie humana, para que a paz universal reine um dia entre os povos.
O bem-estar da humanidade como um todo, consiste em suavizar o sofrimento de todos os irmãos, pois somos todos filhos do mesmo Pai, degredados no mesmo planeta Terra. Enquanto isto não se verificar, não haverá felicidade no mundo.
Quando toda a humanidade se integralizar nestes sublimes princípios, exaustivamente comunicados a nós pelos Mestres Espirituais, sejam eles de que corrente for, um novo ciclo do poder humano se verificará, todos os horizontes do mundo se alargarão e serão todos os seres iluminados pela luz cintilante do TRIANGULO FULGURANTE; Beleza, representada pela Criança, Força representada pelo Caboclo e Sabedoria representada por nossos AMADOS PRETOS VELHOS, o mundo se tornará como um jardim perfumado pelas belas flores. Será a hora da completa e perfeita unidade dos filhos do homem, pela fraternização de todas as raças e de todas as classes e viveremos como verdadeiros irmãos. A todos os irmãos espalhados na superfície da terra, que nosso Pai Oxalá, nosso Mestre Maior Jesus, nos dê;
Saúde - Força - União

Ubiratan da Silva – 15/10/2011

A luz é boa em qualquer lâmpada que esteja ardendo. Uma rosa é bela, seja qual for o jardim em que floresça. Uma estrela tem a mesma luz, quer resplandeça no Oriente ou no Ocidente – Abdul Baha.

16.9.11

AS TRANSFORMAÇÕES POLÍTICAS II E O MISTÉRIO DO BRASIL

“PARA OS UMBANDISTAS MEDITAREM PROFUNDAMENTE SOBRE A IMPORTANTE MISSÃO DE NOSSA RELIGIÃO NA NOVA ERA”. Ubiratan


O Governo Oculto do Mundo vem seguindo as diretrizes do Grande Plano, e tanto o Brasil como a Rússia serão duas “colunas-mestras” importantes dentro do novo ciclo aquariano.
Enquanto o Brasil representará a coluna espiritual-material, a Rússia representará a coluna material-espiritual. Isto quer dizer que tanto a Rússia tem uma enorme missão a cumprir na Nova Era, como o Brasil. Em cada uma das nações encarnaram e para elas estão confluindo, muitas almas evoluídas, que foram encarregadas de ajudar a erguer as duas colunas.
Evidentemente, existirão outras colunas que surgirão no futuro, como pontos de apoio para a “Exteriorização da Hierarquia Oculta”. Em outras nações.
Há alguns anos não se acreditava na queda do muro de Berlim e na unificação das duas Alemanhas, bem como na grande transformação que a política mundial está sofrendo de uma forma pacífica. Entretanto, se estudais os respectivos povos e todo o seu passado à luz do que temos relatado nesta obra, verificareis que faz sentido toda a trajetória das duas nações e de seus povos.
O Brasil já recebeu a herança espiritual da antiga “Ordem dos Templários”. Todo processo das descobertas portuguesas visavam a preparar o Brasil, embora muitos erros tenham sido cometidos e muitos ainda ocorrerão até que as personalidades possam ser orientadas pelas respectivas almas. Geralmente, as personalidades têm uma visão muito estreita do presente e do passado e por isso erram, enquanto as almas conhecem o passado (outras existências), o presente e o planejamento do futuro, e assim têm muito mais possibilidades de conduzirem a vida por caminhos certos e direitos, visando sempre à coletividade e não à individualidade de uma forma egoísta e escravizadora, levando em conta a liberdade interna e a externa.
O Brasil tem as condições espirituais para a Nova Era, e a Rússia tem as condições políticas ideais para exercer grande papel na era aquariana.
Os interesses políticos, econômicos e religiosos dominam muitos setores no Brasil e neles estão os chamados privilegiados, onde uns poucos dominam muitos, sempre tirando proveitos e dividendos pessoais, não poupando meios para atingirem seus fins escusos. É a velha luta dos seguidores de Amon e dos seguidores de Aton no velho e lendário Egito. Em nome de Amon estavam agrupados as elites, a maioria da alta sociedade e muitos altos sacerdotes, que sempre impunham o poder pela força, enquanto do outro lado estavam os setores mais desenvolvidos espiritualmente, constituídos até por alguns da alta sociedade e do alto sacerdócio mas que, em nome de Aton, procuravam a força espiritual para obter o poder, com o intuito de libertar os povos da miséria, das injustiças, da escravidão, dos grandes desequilíbrios sociais que sempre existiram na Terra.
Contudo, hoje não existe mais razão para a continuação da velha luta milenar, e as duas correntes convergem para trabalharem juntas, unificarem-se, para iniciarem uma Nova Era onde todos servirão a todos para benefício de todos.
Ao estudardes a história dos povos, vereis estas duas correntes em ação e oposição. Quase sempre, grande parte das elites, a linha de Amon, tem sido a grande vencedora. Mas com a entrada da Nova Era é a linha de Aton que estará na frente dos destinos da humanidade, porque os da linha de Amon só vêm provocando guerras, misérias, injustiças, desgraças, sofrimentos e grandes desequilíbrios em todos os setores da vida e do planeta.
Grande parte daquelas almas que seguem a linha revolucionária de Aton está no Brasil; por isso, grandes mudanças já estão acontecendo hoje. Podeis ver ainda o futuro muito obscuro, porque o “lixo” acumulado, o vício das personalidades de tirar proveito de tudo, sacrificando o povo, está vindo à superfície e é bom que isto aconteça. É, sinal de que uma grande força positiva está se movendo de dentro para fora para que a justiça, a plena liberdade com responsabilidade e fraternidade universal, onde todos possam viver com tranqüilidade, amor, paz e felicidade, finalmente surjam dentro e fora de todos aqueles que vivem nesta nação. Tendes que confiar na enorme capacidade espiritual que o povo brasileiro tem, empregá-la em todos os setores da vida humana, inclusive na política e na economia.
O mundo espera uma Nova Luz, e esta Nova Luz sairá do Brasil e da Rússia. É evidente que muitas outras nações terão papéis muito importantes e também fundamentais no conjunto, entretanto, serão estas duas nações que orientarão os Novos Rumos da humanidade na Era Aquariana, a partir do terceiro milênio.
Para que isto aconteça encontra-se em estado latente uma enorme revolução interna que estamos chamando de “A Grande Revolução da Consciência”. Grandes almas iniciadas estão no Brasil e a mesma equipe política – Os Mestres Saint Germain e El Morya, entre outros – será responsável pelos destinos político-econômicos do Brasil.
Por muito que os políticos de hoje no Brasil queiram negar e alterar o curso político, permanecerá atuante uma grande força espiritual, que não permitirá que o país saia do seu curso e fuja de seu destino.
Novos políticos começam a chegar ao “Congresso Nacional Brasileiro”. Alguns deles hoje na frente dos diversos departamentos político-econômico-sociais, e alguns partidos políticos trazem as novas idéias, a força interior, que reside no plano da alma. Desta forma, através do sentimento e da intuição, estarão sintonizados com os Guardiães e com os Mestres, que orientam da melhor forma possível e oferecem diversas soluções para cada problema, cada dificuldade, cada mudança. As “velhas raposas” e os “velhos lobos” ainda infestam muitos departamentos governamentais, muitos partidos políticos e muitos setores da vida brasileira, cobertos com “peles de carneiro”, fazendo-se passar por defensores do povo. Na realidade, são os defensores dos seus interesses pessoais, econômicos ou partidários e não da nação, o que não é nada patriótico. Esses serão aos poucos desmascarados e retirados do cenário político.
Por muito que outras nações queiram dificultar o desenvolvimento do Brasil e da Rússia, elas serão incapazes, porque estarão lutando contra o destino destas duas grandes nações. Ninguém, mas ninguém mesmo, vai impedir que o Brasil e a Rússia cumpram as suas respectivas “missões”, para que a humanidade conquiste a verdadeira paz, a justiça, a liberdade e a fraternidade universal e, assim, o Reino de Deus volte novamente à Terra.
O povo brasileiro tem de se voltar mais para dentro de si mesmo, procurando em suas almas, em seus sentimentos, as forças de renovação, seus verdadeiros valores e potencialidades, confiando, tendo fé no seu próprio destino como povo e nação, colocando os interesses individuais e as divisões das personalidades à parte, sabendo ultrapassar a mesquinhez dos egos humanos e servindo à pátria, e não se servindo da pátria para seu proveito pessoal. Deve visar ao conjunto, à unidade maior, ao povo e à nação como um mesmo todo.
Uma grande equipe de espíritos que ama o país faz parte do novo grupo de guardiães espirituais do Brasil, e toda ela, seguindo as orientações dos dois Mestres referidos, está procurando levar a nação para o equilíbrio e a harmonia necessários para cumprir a sua grande missão da nova era.
Infelizmente, determinados setores mais dogmáticos, forças contrárias à ordem e à evolução, tentam colocar dificuldades para impedir que o Brasil se prepare para cumprir a sua missão. Contudo, eles serão impotentes.
De nada adianta ação de velhas idéias, porque elas não terão força para continuar. Só as novas é que vingarão, porque não apenas são dinâmicas, como estão sendo ativadas pelas novas forças aquarianas que a Terra está recebendo. Serão idéias e ideais revolucionários, e não aqueles que estão assentes em princípios completamente ultrapassados.
Como já dissemos, almas velhas e muito evoluídas, com enormes capacidades em experiência e sabedoria, estão no Brasil para procederem à revolução da consciência que já está em curso. Como na Rússia também existem muitas almas velhas que procederão, como o estão, a uma “grande revolução”, com uma característica mais político-econômica-científica, no Brasil ela é mais social-espiritual-humanista. Não se quer dizer com isto que não ocorrerão as renovações político-econômicas no Brasil, assim como as espirituais-sociais na Rússia.
Enormes concentrações energéticas, ainda do tempo da velha Atlântida, encontram-se no Brasil, porque uma parte do país fazia parte do velho continente. Isto foi esquecido durante milhares de anos propositadamente. O Infante D.Henrique, de Portugal, um iniciado na época, sabia muito bem da existência da América do Sul e qual a sua “missão” no futuro. A descoberta do Brasil não foi uma obra do acaso, conforme a história conta; existem múltiplos mistérios que ainda a envolvem. Existem duas descobertas, a real, antes de 1500, e a oficial, em 1500, por interesses políticos entre Portugal e Espanha.
Estas velhas energias tanto são negativas, acumuladas pelos magos negros (encarnados na época), como positivas, acumuladas pelos magos brancos. Equipes de almas, encarnadas para estes objetivos, ajudadas por entidades que se encontram no mundo astral, pelos Mestres de Luz e Seres Angélicos, vêm desmanchando os focos de energias negras atlanteanas para que os focos positivos possam ser reativados e ajudarem no erguer da nova era. Por isso, grandes conhecimentos do passado estão guardados, preservados no Brasil e em outras partes da América do Sul. São como santuários da velha sabedoria que ajudarão muito no surgimento da nova raça, da nova civilização e da nova humanidade.
Muitos seres humanos, sabendo desta “herança espiritual”, têm procurado descobrir onde estão localizados estes santuários. Muitos chegaram perto, outros descobriram alguma coisa, mas as “chaves” estão nas mãos de quem, por direito espiritual, está abrindo e abrirá estes “portais da sabedoria arcana”, aquela que ajudará a erguer a nova era dentro dos princípios aquarianos.
Muitos dizem-se portadores destas “chaves” e destes conhecimentos, mas suas atitudes e palavras não correspondem àquilo que dizem possuir. Quem realmente possui este alto conhecimento, coloca-o a serviço de seus semelhantes, para o bem e para a libertação espiritual de todos, e não para seu proveito pessoal ou de algumas fanáticas organizações humanas.
Muitas fantasias têm ocorrido a este respeito e certamente outras ocorrerão. Entretanto, quem está no caminho certo não anda a ufanar-se e a polir seu ego humano para que fique brilhante e os outros o julguem um iluminado. Quem procura servir as Forças Superiores da Luz Maior age no sentido de expandir a Luz da Alma, para que ela ilumine não só o seu caminho, como também para que ajude a iluminar o caminho dos outros, para que exista uma expansão real do amor, da sabedoria, da mente, da consciência, da alma e assim possam a justiça, a paz e a fraternidade universal reinar entre a humanidade, e esta atingir a plena libertação e ascensão espirituais.
O antigo e milenar Templo de Ibez, na velha e lendária Atlântida, na sua idade de ouro, estava situado em alguma parte onde hoje é o Brasil. Neste milenar templo, grandes avanços foram conseguidos pelos antigos adeptos ibezianos, como relata o Mestre Djwhal Khul, quando transmitiu a Alice Bailey a sua obra “Um tratado Sobre Magia Branca”, dizendo que: “O primeiro posto avançado da Fraternidade de Shamballa” foi o original Templo de Ibez e estava localizado no centro da América do Sul, e um de seus ramos, num período muito posterior, seria encontrado nas antigas instituições mayas e na adoração básica do Sol, como a fonte da vida nos corações de todos os homens. Um segundo ramo foi estabelecido na Asia, e deste ramo os adeptos no Himalaia e na Índia meridional são os representantes, embora o trabalho esteja materialmente mudado. Numa fase posterior à presente, descobertas serão feitas, revelando a realidade da velha forma do trabalho hierárquico. Antigos registros e monumentos serão revelados, alguns acima do solo, e muitos em fortalezas subterrâneas. Como os mistérios da Asia Central – na terra que se estende da Caldéia e Babilônia através do Turkestão para a Manchúria, inclusive o deserto de Gobi – estão abertos, está planejado que muito da história primitiva dos trabalhadores de Ibez seja revelado.
Uma palavra no que se refere ao trabalho dos adeptos ibezianos e seus mistérios: é necessário aqui assinalar que toda a direção de Seu trabalho foi uma maneira diferente, e necessariamente assim, daquele dos adeptos do tempo atual. Seu objetivo foi o de estimular o misticismo e o estímulo do reino de Deus dentro do átomo humano. A natureza de seu trabalho é muito difícil de ser compreendida pelo homem comum do tempo atual, devido ao diferente estado de sua consciência. Os adeptos ibezianos tinham de lidar com uma humanidade que estava em sua infância, cuja polarização era extremamente instável e cuja coordenação era muito imperfeita. Havia pouca mentalidade com que se lidar e os homens eram praticamente completamente astrais. Eles funcionavam muito mais conscientemente no plano astral do que no físico e era parte do trabalho daqueles primitivos adeptos, trabalhando sob a instrução de Shamballa, desenvolver os centros de energia da unidade humana, estimular o cérebro e torná-lo plenamente autoconsciente no plano físico. Seu objetivo era alcançar uma conscientização do reino de Deus no íntimo, e pouca atenção era dada (no treino de seus discípulos) à conscientização de Deus na natureza ou em outras unidades.
Os poderosos pensamentos-forma construídos nos antigos mistérios ibezianos e (particularmente na América) permanecem até agora sem terem sido destruídos. Este gigantesco “Morador do Umbral” de todos os verdadeiros Mistérios tem de ser dissolvido antes que o aspirante possa prosseguir.
O trabalho dos adeptos ibezianos e os mistérios do Templo de Ibez ainda persistem e estão sendo reproduzidos pelos Mestres e Adeptos encarnados fisicamente em todo o mundo. Eles ensinam o significado da psique, do ego ou da alma e da unidade humana, de modo que o homem possa ser o que realmente é, um deus caminhando pela terra, sua natureza inferior (física, astral, mental) completamente controlada pela alma, ou aspecto amor, e isto não em teoria mas de fato e verdade.
Como podeis verificar, existem mistérios no Brasil e na América do Sul que a grande maioria desconhece. O que acabamos de transcrever não é mais que uma pequena passagem dos registros que a Hierarquia Oculta possui e que D.K. passou a Alice Bailey.
As nações também têm suas tônicas particulares que correspondem aos “Sete Raios”. O Raio da Personalidade do Brasil é o 2º Raio, do Amor-Sabedoria, a linha dos “Cristos” e dos “Instrutores Mundiais”. O Raio da Alma é o 4º da Harmonia-Beleza. O Lema Nacional do ponto de vista esotérico é “Eu escondo a Semente”, o que é extremamente significativo.
Outro fator interessante e segundo o Mestre Djwhal Khul, é que: “É útil lembrar que algumas nações são negativas e femininas e outras são masculinas e positivas. A Índia, a França, os Estados Unidos, a Rússia e o Brasil são todas femininas e constituem o aspecto materno-nutriente. São femininas em sua psicologia – intuitivas, místicas, atraentes, belas, amigas do aparato e da cor, e também com os defeitos do aspecto feminino, tais como a superestima dos aspectos materiais da vida, a pompa, o domínio e o dinheiro, ou o seu equivalente, como símbolo do lado da forma da existência. Dão à luz e nutrem civilização e idéias”.
E não se pode esquecer que a Era Aquariana é feminina e está relacionada com o advento da Nova Era do Espírito Santo, o Terceiro Aspecto da Trindade, a Grande Mãe.
Isto é uma pequena ilustração de que aqui na América do Sul, e principalmente no Brasil, reside uma enorme força e um grande mistério. Na medida em que existam seres humanos com capacidade e desenvolvimento espiritual para isso, esta herança espiritual será aos poucos revelada e trazida a conhecimento para ser utilizada positivamente na construção de uma nova Era, uma Nova Raça e uma Nova Civilização.
Uma Grande convergência de forças está afluindo para a América do Sul. Não é uma obra do acaso; existe um plano superior, do qual o Brasil e seus habitantes fazem parte, assim como todos os outros povos e nações. Tendes que libertar-vos dos dogmas, conceitos e velhas teorias que não vos deixam enxergar além do horizonte das mentes racionais.
Uma grande equipe de Obreiros está no Brasil – uns encarnaram como brasileiros, outros têm sido e serão atraídos para o Brasil para o erguer das “Antigas Ordens e Escolas Ocultas” de caráter iniciático.

05.09.1990

Do Livro O Governo Oculto do Mundo – Henrique Rosas.

12.9.11

AS FORÇAS DE CRISTALIZAÇÃO E DESTRUIÇÃO.

O número de elementos que fazem parte do grupo dos Obreiros é cada vez maior porque novas almas estão se unindo ao “novo trabalho místico”, um aspecto da dinâmica grupal. O objetivo é integrar no grupo um terço das almas que periodicamente reencarnam no planeta Terra. Estas, ao longo de suas vidas passadas experimentaram provas, testes, sofrimentos e desilusões, foram sublimadas e purificadas através do fogo da vida terrena. Ficaram, por isso, muito bem preparadas e determinadas a levar o grupo maior da humanidade a transformar o planeta Terra num autêntico santuário das Forças Cósmicas Divinas.
Os obreiros já não são dirigidos pelas suas personalidades e sim pelas suas almas, e muitos são até dirigidos pela sua própria “célula cósmica”, seu espírito, através de sua alma.
Os obreiros subdividiram-se em sete setores. Cada um atua dentro das características de cada Raio Cósmico, trabalhando com o Mestre do Raio respectivo. Cada um destes sete setores também subdividiu-se em sete áreas de atuação, dentro das tônicas de cada Raio e, por sua vês, estas sete áreas novamente subdividiram-se em outras sete áreas menores. No total, temos no mundo 343 tipos de agrupamentos principais de Obreiros. Cada um, no plano da alma, está hierarquicamente subordinado ao agrupamento que lhe é superior, todos dentro das características de cada raio.
Os componentes dos grupos de Obreiros estão atuando em todos os setores da vida humana, formando assim um corpo de atuação real e consciente dos Mestres que fazem parte da Grande Hierarquia Oculta, e que administram a evolução coletiva do planeta Terra.
As grandes transformações políticas em muitas nações são o resultado do trabalho silencioso e anônimo de grupos de Obreiros. Eles atuam para que nasça um novo sistema político global baseado no equilíbrio social e econômico. Os sistemas políticos vigentes hoje (outubro/1987) no mundo estão fundados nos valores da personalidade, voltados para a matéria e tendo como objetivo a vida física, desprezando a alma e seus valores, suas potencialidades e sua existência. Apesar de a maioria das pessoas acreditar que tem uma alma, não a deixa tomar a direção de suas vidas terrenas.
As religiões vigentes no mundo humano estão completamente defasadas, baseadas em princípios que ajudam a aumentar as forças de cristalização (forças de oposição à evolução e à expansão espiritual do ser humano; elas não deixam que ele atinja a sua plena libertação) que conduzem os povos às guerras, à fome, à miséria, aos desequilíbrios sociais, econômicos e políticos.
O novo sistema político que está surgindo (e que só no futuro virá à tona, visto estar sendo cuidadosamente edificado) terminará com ricos e pobres. Os bens materiais não pertencem a ninguém em particular: nem a grupos econômicos, nem às próprias nações. Eles são entregues às pessoas e às nações para administrá-las, sabiamente multiplicá-los e dividi-los segundo as necessidades de cada ser humano.
Deixará de haver a idéia de gerar riqueza individual para cuidar do futuro pessoal e da família porque, com a expansão da consciência e das potencialidades da mente (hoje em estado latente na maioria da humanidade), todos recordarão suas vidas passadas e que a passagem pelo mundo físico é transitória, que o objetivo da vida humana é atingir a unificação dos sete estados de consciência para que cada um alcance o nível total de suas consciência cósmica, para que surja do espírito um novo “Corpo Divino”.
A personalidade não dirigirá mais a vida humana. Ela estará unida à alma. Esta é que atuará no mundo, deixando a personalidade de gerar conflitos e ilusões.
O despertar da mente superior será normal em todos e as faculdades extra-sensoriais passarão à frente dos limitados sentidos físicos. Ninguém poderá enganar ninguém, assim como ninguém receberá mais do que necessita para viver no mundo físico.
Hoje parece utopia, mas o futuro mostrará a verdade de nossas palavras.
A riqueza está nas mãos de poucos, que cada vez estão mais ricos e os pobres cada vez mais pobres.
Se os que possuem o poder do dinheiro se lembrassem de suas vidas passadas (em que certamente já foram pobres), saberiam que pesado é o fardo kármico por não distribuírem suas riquezas para os que estão necessitados. Se tivessem o poder de ver o futuro, que belas e maravilhosas seriam suas vidas futuras se distribuíssem suas riquezas. Caso contrário, veriam a sua próxima reencarnação como pobres, miseráveis e cheios de fome, resultado do egoísmo econômico da presente vida. Se os ricos tivessem a consciência de que milhares de seres humanos morrem de fome por dia, como resultado do desequilíbrio econômico, saberiam que têm a sua parcela de culpa. As guerras, a escalada do terror, da criminalidade e as doenças resultam desse desequilíbrio econômico. Os mais ricos, que são uma minoria, acham que seu dinheiro, seu ouro, seus bens materiais são de sua propriedade pessoal e para o exclusivo uso de quem eles quiserem, patenteando em suas auras faixas marcantes de cores escuras de egoísmo e ganância, gerando ódios e sofrimentos.
No dia em que surgir nestas pessoas um estado de consciência superior mais abrangente, e quando cada um ficar diante de sua própria realidade para ser julgado pelos seus atos, tudo se transformará na superfície da terra.
- Será este o dia do Juízo Final?
Voltando ao presente: as transformações na China e principalmente na Rússia são conseqüências do trabalho dos grupos de Obreiros e seus resultados começam a surgir com muita força. O que está acontecendo na Rússia/URSS é muito mais sério e mais profundo do que podeis pensar. Não são simples reformas políticas e econômicas. É um processo que revolucionará até a vida no resto do mundo.
(Esta mensagem foi recebida em 23.10.1987; nessa data não eram previsíveis as transformações que em 1991 aconteceram na Rússia/URSS. As transformações na China estão mais lentas: elas estão mais difíceis que na URSS.)
É um processo da Nova Ordem político-econômica que surgirá também nos Estados Unidos da América do Norte a partir da posse do próximo presidente. A América sofrerá uma grande transformação, abandonando as regras capitalistas clássicas para buscar novas formas de equilíbrio. Já existem indícios dessas mudanças e muitos componentes dos grupos de Obreiros, muito bem colocados, vê acelerando esse processo nos Estados Unidos (impedindo que o governo atual (1987) caminhe para o confronto bélico, como ocultamente sempre quis), visto que representam as forças cristalizantes ou as forças de destruição que, mesmo assim, ainda continuam tentando levar o mundo humano para uma nova guerra, e esta talvez, mortal para o próprio planeta.
A América do Sul está há algum tempo passando também por essa transformação. São as mesma forças cósmicas que estão atuando na China, na Rússia/URSS, com mais força, e nos Estados Unidos, que também estão atuando nos países sul-americanos.
O objetivo é levar à liberdade, ao equilíbrio social, à paz e harmonia, para que a humanidade possa viver e seguir seu caminho místico conscientemente, rumo à eternidade cósmica, para que cada um consiga atingir a sua própria realização e ascensão espirituais.
Enquanto as forças de construção atuam, as forças de destruição (contrárias à expansão dos reais valores da evolução e libertação) estão também se agrupando. Basta olhar atualmente (outubro/1987) para o Médio Oriente e logo percebereis que o radicalismo, o fanatismo religioso (um dos piores) estão tentando desencadear uma nova guerra. As forças materialistas querem guerrear, porque se fizerem entre si uma guerra dificultarão que a humanidade atinja o amadurecimento interno de sua mente e alma e recupere a sua autêntica liberdade interior. Se isso acontecer, os representantes das forças de destruição e alguns lideres religiosos, políticos e econômicos, não mais serão ouvidos nem seguidos.
O ser humano do futuro obedecerá ao comando de sua alma e de sua consciência superior. Não será egoísta, mas sim fraternal para com seus semelhantes, visto que o egoísmo e divisões têm origem na personalidade, não na alma ou na consciência superior, a consciência espiritual.
Os poderes dos líderes religiosos, políticos e econômicos têm os dias contados; são como árvores velhas que já não dão mais frutos doces e saborosos, mas sim azedos e amargos.
Outras árvores estão nascendo, darão frutos mais doces e ainda mais saborosos, com tanta abundância que chegarão a todos os seres humanos.
Se olhardes bem para o mundo humano, encontrareis lutas, guerras, ódios, desequilíbrios provocados pelas forças de destruição, que lutam para sobreviver; elas estão se agrupando para a “batalha final”, mas não deveis ter medo nem receios. Poderão amordaçar vosso corpo humano, matá-lo até, mas ninguém tem o poder de aprisionar ou matar a vossa alma. As histórias, criadas pelas religiões, de Satanás (de vender a alma), não passam de fantasias, medos colocados nas vossas mentes para que os senhores das religiões pudessem manipular-vos.
Satanás, no mundo espiritual superior, não existe. Ele existe sim nas esferas humanas, visto ser um produto da humanidade. A maldade nas personalidades o criou, está no inconsciente coletivo e é o que atua nas mentes fracas e desequilibradas. Lúcifer existe, é um ser espiritual, mas nada tem a ver com Satanás ou com as forças do mal criadas pelo ser humano. Lúcifer é um Príncipe da Luz que, voluntariamente, desceu aos mundos mais densos para criar a matéria e os corpos físicos, para que a alma pudesse ter um veículo denso para expressar-se na matéria física, com o objetivo de, mais rapidamente, atingir o seu centro geométrico cósmico e assim expressar a Vontade, o Amor, a Inteligência e a Luz Divina.
Se o ser humano utiliza mal seus corpos humanos e seu mundo físico, isto não é problema nem responsabilidade de Lúcifer. Confundi-lo com Satanás e com as forças do mal é um erro muito grande, com o qual os setores das forças cristalizantes (de destruição) tentam confundir as almas inocentes que, manipuladas pelos senhores da destruição e da ilusão, acreditam e se deixam levar ao sabor de seus interesses.
Se estudardes bem as seitas chamadas satânicas, seus princípios e objetivos, e traçardes um paralelo com os objetivos e princípios da manipulação de massas e do domínio do ser humano, limitando as liberdades individuais de cada um, vereis que as forças são as mesmas, só mudam os rótulos e os métodos, mas os fins são iguais.
Tudo o que é superior que vem da Luz e segue os princípios da Luz, atua sempre em favor da liberdade individual e coletiva, não impõe nada, mas ajuda a que cada um siga o caminho da sua consciência espiritual, que todos tenham os meios físicos e espirituais necessários para seguirem seu caminho com muita paz, amor, harmonia, liberdade, sabedoria e também muita fraternidade.
Ninguém tem o direito de destruir, de matar, de impedir a liberdade individual de cada um.
Ninguém tem o direito de impor aos outros a própria vontade, geralmente baseada na sua personalidade.
Ninguém tem o direito de escravizar os outros, econômica, política, religiosa, social ou psicologicamente.
Ninguém tem o direito de abusar dos direitos e da liberdade dos outros em seu próprio proveito ou de grupos.
Todos nascem neste mundo físico livres para viver suas próprias vidas individuais e coletivas; não devem imitar nem se deixarem manipular por ninguém.
As leis dos homens, suas regras contrárias ou agressivas à mente, consciência e à alma do ser humano, estão erradas e são geradoras de ódios, desequilíbrios e guerras, - não podem conduzir nem à paz, nem à liberdade.
23.10.1987

O Governo Oculto do Mundo – Henrique Rosas.

10.9.11

AS ORDENS ESOTÉRICAS

Os caminhos de Deus são tantos quantos o número de respirações dos filhos dos homens.
Há sete caminhos conhecidos, embora nem todos funcionem como Caminhos da Iniciação atualmente, e para cada Caminho há muitas escolas. A escolha de uma escola depende do temperamento, porque todas as que não são do Caminho da Esquerda, ensinam um aspecto ou grau da Verdade eterna que é universalmente valida.
Uma escola de esoterismo surge, habitualmente, em conexão com alguma compreensão especial da Verdade que às vezes, vai além de suas devidas proporções para a vida como um todo, mas jamais será encontrado qualquer ensinamento que tenha o poder de manter coeso um corpo de fervorosos buscadores que não tenha uma fagulha do fogo divino em seus corações. Portanto, deve haver respeito por todos os que buscam com sinceridade, por muito longe da meta que eles pareçam estar, e todos os que estão empenhados na GRANDE BUSCA devem antes tentar compreender a visão que um irmão vislumbrou do que os erros nos quais caiu como vítima. O equilíbrio é a tônica de todo o verdadeiro treinamento esotérico.

“As Ordens Esotéricas e seu Trabalho” – Dion Fortune

7.9.11

CONFÚCIO - CHU HSI

Do mesmo modo que no século 8º na Índia, Shankara reduziu a sistema as desligadas visões dos Upanishads e fez do Vedanta a filosofia suprema; e como no século 13º, na Europa, Aquino iria tecer Aristóteles e São Paulo na vitoriosa filosofia escolástica; assim, na China do 12º século, Chu Hsi tomou os soltos apotegmas de Confúcio e construiu um sistema filosófico bastante ordenado para satisfazer o gosto duma idade erudita e bastante forte para preservar por sete séculos a liderança dos confucianos na vida política e intelectual dos chineses.
A principal controvérsia filosófica do tempo se concentrava na interpretação duma passagem do Grande Ensino atribuída a Confúcio. Que significava que a ordem do Estado fosse baseada na boa ordem da família, e a boa ordem da família fosse baseada na boa ordem do indivíduo, e que esta dependesse da sinceridade do pensamento, e este da extensão do conhecimento por “meio da investigação das coisas.
Chu Hsi afirmava que a significação era a literal; que a filosofia, a moral e o estadismo devem começar com o modesto estudo das realidades. Aceitava sem protesto a positivista tendência do Mestre; e embora laborasse nos problemas da ontologia mais do que o aconselhado por Confúcio, chegou a uma estranha combinação de ateísmo e piedade, que podia ter interessado o sábio de Xantum. Como o Livro de Mudanças, que sempre dominou a metafísica dos chineses, Chu Hsi reconheceu um certo dualismo na realidade: por toda parte o Yang e o Yin – atividade e passividade, movimento e repouso – misturados como o principio macho e fêmea, e operando com os cinco elementos, água, fogo, terra, metal e madeira, para produzir os fenômenos da criação; e por toda parte Li e Chi – Lei e Matéria – igualmente externas e cooperantes no dar forma e governar todas as coisas. Ma acima de todas estas formas, e a combiná-las, estava T¨ai chi, o Absoluto, a impessoal Lei das Leis, ou a estrutura do mundo, Chi Hsi identificou este Absoluto com o T¨ien, ou o Céu do Confucionismo ortodoxo; Deus, portanto, é um processo racional sem personalidade ou forma representável. “ A Natureza nada mais é do que a Lei.”
Esta lei do universo, disse Chu, é também a lei moral e política. Moralidade quer dizer harmonia com as leis da natureza, e o alto estadismo é a aplicação das leis da moralidade à conduta do Estado. A natureza em última análise é boa, como também o é a natureza do homem; seguir a natureza é o segredo da sabedoria e da paz.

História da Civilização – Vol. 3 – Will Durant

22.8.11

A MATEMÁTICA DE EINSTEIN E A MÍSTICA DE GANDHI

“Futuras gerações dificilmente acreditarão que um homem como Gandhi tenha passado pela face da terra, em carne e osso.”
Estas palavras escreveu Einstein sobre Mahatma Gandhi; e o governo da Índia teve a feliz idéia de reproduzir esta declaração no frontispício do magnífico álbum comemorativo do primeiro centenário do nascimento do libertador da Índia.
Em que se baseava esta entusiástica admiração que o maior matemático dos séculos dedicava ao maior místico dos nossos tempos?
Baseava-se na convicção, implícita ou explícita, de que o princípio da matemática é o mesmo princípio creador da mística.
Afirmar semelhante verdade perante inexperientes é merecer o título de louco ou utópico. E, no entanto, Einstein e Grandhi partiam do mesmo princípio matemático-metafísico. Ambos afirmam que pelo “puro raciocínio”, como Einstein chama a INTUIÇÃO, pode o homem descobrir toda e qualquer lei do cosmo; sem nenhum recurso à empiria dos sentidos nem à análise mental.
E que outra coisa é o satyagraha de Gandhy? Durante mais de meio século viveu aferrado ao princípio da Verdade, que identifica com Deus, a despeito de todo o ceticismo de seus conterrâneos; manteve-se inabalavelmente fiel ao “apego à Verdade” (satyagraha). Acreditava mais na força do espírito que no espírito da força; mais na alma que nas armas. E por isto fez preceder o satyagraha pelo ahimsa (não violência). Exigia de si e de seus companheiros absoluta e incondicional desistência de qualquer forma de violência, ahimsa integral – abandono de violência física (matança e ferimento), de violência verbal (insultos), de violência mental-emocional (ódio). Onde há violência não há Verdade e, como a Verdade é o único poder real, Gandhy exigia 0% de violência, a fim de conseguir 100% de Verdade.
Com esta arma secreta libertou ele o seu país de 150 anos de jugo estrangeiro. Talvez pela primeira e única vez na história da humanidade, um fator puramente espiritual produziu tamanho efeito material. Os profanos sabem que causa material produz efeito material. Os místicos sabem que causa espiritual produz efeito espiritual – mas quem está convencido de que uma causa espiritual produz efeito material?...
Que o grande místico, lá na longínqua Índia dos iogues, tenha professado esse princípio creador da intuição metafísica-mística, o mundo perdoará facilmente a um visionário oriental como Mahatma Gandhi – mas que esse princípio abstrato seja proclamado por um cientista ocidental como Albert Einstein – quem poderia aceitar?
Tenho diante de mim três livros, dois deles da autoria do próprio Einstein, e alguns escritos sobre o grande matemático. Os dois livros de Einstein são Mein Weltbild (Como vejo o mundo) e Aus Meinem Spaeten Jahren (Dos meus últimos anos).
Ora, através destes livros vai a constante afirmação de Einstein de que o “puro raciocínio”, como ele chama a intuição abstrata, pode descobrir qualquer lei da natureza, sem nenhum recurso a processos empírico-analíticos, nem de laboratório. Basta que o homem se concentre intensamente até atingir e ultrapassar toda a zona da sucessividade analítica e entrar na zona da simultaneidade da razão espiritual, e saberá como o UNO do UNIVERSO rege e governa o VERSO do cosmo.
É este o rpincípio dedutivo da matemática, e não o princípio indutivo da física; é o caminho a priori dos grandes metafísicos e místicos, e não o processo a posteriori dos cientistas empírico-analíticos.
Quando em 29 de maio de 1919, ocorreu o grande eclipse solar, estava Einsteins em Londres; A Real Sociedade de Ciências da Inglaterra mandou fotografar o sol totalmente eclipsado; um amigo de Einstein mostrou, triunfante, a fotografia, dando os parabéns ao grande matemático, porque o fato comprovava magnificamente uma importante tese matemática de Einstein. Este, porém, ficou indiferente, observando apenas”... Quem conhece dedutiva e intuitivamente, a priori, uma lei cósmica, não necessita de provas empíricas, indutivas, a posteriori, provas que não lhe podem dar nem tirar a certeza.
O metafísico e o místico não aceitam a Realidade (Deus) porque alguém a tenha demonstrado “cientificamente” – mas aceitam-na anterior e independentemente de qualquer prova ou demonstração, porque têm a fonte de certeza dentro de si mesmo, no seu centro e cerne, no eterno UNO do seu Eu intuitivo. E, como nenhuma prova factual (e fictícia) lhes pode dar certeza, também nenhuma prova lhes pode tirar.
Eu penso 99 vezes, diz Einstein, e nada descubro; deixo de pensar e eis que a certeza me é revelada. Por onde se vê que ele considera o pensamento analítico necessário como preliminar, mas não suficiente para o resultado final.
É este o caminho de todos os metafísicos e místicos – desde Hermes, Sócrates, Platão e Spinoza, até Jesus, Tagore, Maharishi e Gandhi – todos eles sabiam e sabem que a atividade ego-consciente, empírico-analítica, é necessária, mas que não é suficiente para uma certeza definitiva.
É necessário entrar em contato intuitivo com o UNO da Realidade, a fim de poder compreender o VERSO das facticidades. Não há nenhum caminho diz Einstein, que do mundo dos fatos conduza ao mundo dos valores, porque estes vêm de outra região.
Valor é sinônimo de Realidade. Ninguém vai das facticidades à Realidade; é necessário que primeiro conscientize a Realidade do uno, PARA DAÍ DESCER ÀS FACTICIDADES DO Verso. É necessário ter experiência intuitiva, direta, da qualidade (Uno) a fim de compreender as quantidades (Verso). As facticidades quantitativas são necessárias como condições pré-disponentes, mas não são suficientes como causa eficiente. E, sendo que só o contato com a causa eficiente dá verdadeira certeza, segue-se que o homem deve, em primeiro lugar, ter nítida consciência da causa, da Realidade, do Uno, para poder compreender os efeitos, as facticidades, o Verso – só assim sabe e saboreia a harmonia do Universo.
Pode a ciência preludiar a sapiência, mas não a pode dar nem substituir.
A ciência é da física, a sapiência é da matemática, bem como da metafísica e da mística.
O homem inexperiente, empírico-analítico, acha que deve começar pelos fenômenos objetivos, externos, e daí subir até a Realidade, causa dessas facticidades. Mas o homem experiente sabe, como Einstein, que este caminho não é transitável e não passa de um eterno círculo vicioso; é como se alguém lidasse com muitos zeros – 000 000 000 – para chegar ao valor positivo “1”; não existe nenhum processo de adição ou multiplicação de zeros para crear o “1”; mas quem parte do “1” pode descer aos zeros, e verá que esses zeros deixam de ser nulidades e vacuidades, porque são agora desnulificados pelo fator positivo “1”: 1.000.000.000. Todas estas vacuidades dos zeros são plenificados pela plenitude; a qualidade do “1” confere quantidade aos “000”; a Essência dá conteúdo à inexistência, e resulta a existência; o Todo dá algo de si ao Nada, e o Nada se faz Algo,.
Quando Moisés, Elias e Jesus passaram quarenta dias em silêncio e solidão; quando Francisco de Assis se isolou por meses seguidos cume do monte Alverne; quando Paulo de Tarso, após sua queda às portas de Damasco, mergulhou por três anos nas estepes da Arábia; quando Tagore, Maharishi e Gandhi se envolveram em profunda solidão – que outra coisa fizeram eles senão fechar os canais de fora para que a fonte de dentro rompesse?
Quando Einstein, partindo de um princípio puramente matemático, diz que pelo “puro raciocínio” pode o homem descobrir as Leis do Universo, afirma ele a mesma verdade, mas não nos diz, geralmente, o que devemos fazer para despertar em nós a fonte da certeza.
Para esse despertamento é necessário que o homem se entregue a um longo período de silêncio auscultativo – silêncio mortífero para o ego-empírico-analítico, mas vivificante para o Eu metafísico-místico-matemático.
Parece que a elite da humanidade, neste ocaso do segundo milênio, está abrindo os olhos para esta grande verdade, preludiando, possìvelmente, uma humanidade mais sadia e mais feliz.

Huberto Rohden.

AS SETE LÁGRIMAS DE UM PRETO-VELHO

“Num cantinho de um terreiro, sentado num banquinho, pitando o seu cachimbo, um triste preto-velho chorava. De seus “olhos” molhados, esquisitas lágrimas desciam-lhe pelas faces e, não sei por que, contei-as... Foram sete. Na incontida vontade de saber, aproximei-me e o interroguei. Fala, meu preto-velho, diz ao teu filho por que externas assim uma tão visível dor?
E ele, suavemente, respondeu: está vendo esta multidão que entra e sai? As lágrimas contadas estão distribuídas a cada uma delas.
A primeira, eu dei a esses indiferentes que aqui vêm em busca de distração, para saírem ironizando aquilo que suas mentes ofuscadas não podem conceber...
A segunda, a esses eternos duvidosos que acreditam, desacreditando, na expectativa de um milagre que os façam alcançar aquilo que seus próprios merecimentos negam...
A terceira, distribuí aos maus, àqueles que somente procuram a Umbanda em busca de vingança, desejando sempre prejudicar a um seu semelhante...
A quarta, aos frios e calculistas que sabem que existe uma força espiritual e procuram beneficiar-se dela de qualquer forma e não conhecem a palavra gratidão...
A quinta, chega suave, tem o riso, o elogio da flor dos lábios, mas se olharem bem o seu semblante, verão escrito: Creio na Umbanda, nos seus caboclos e no seu Zâmbi, mas somente se resolverem o meu caso, ou me curarem disso ou daquilo...
A sexta, eu dei aos fúteis que vão de Centro em Centro, não acreditando em nada, buscando aconchegos e conchavos e seus olhos revelam interesse diferente...
A sétima, filho, notas como foi grande e como deslizou pesada? Foi a última lágrima, aquela que vive nos “olhos” de todos os Orixás. Fiz doação dessa aos médiuns vaidosos, que só aparecem no Centro em dia de festa e faltam às doutrinas. Esquecem que existem tantos irmãos precisando de caridade, e tantas criancinhas precisando de amparo material e espiritual.

Assim, meu filho, foi para esses todos, que vistes cair, uma a uma, “AS SETE LÁGRIMAS DE UM PRETO-VELHO.”

SÚPLICA DE EXÚ


Sou Exú, Senhor!

Pai, permite que assim Te chame, pois na realidade, Tu és como és, meu Creador. Formaste-me da poeira ástrica, mas... como tudo provém de Ti, sou real e eterno. Permite Senhor, que eu possa servir-te nas mais humildes e desprezíveis tarefas criadas pelos Teus humanos filhos. Os homens me tratam de Anjo Decaído, de Povo Traidor e Rei das Trevas, de Gênio do mal e tudo mais em que encontram palavras para exprimir o seu desprezo por mim, no entanto, nem suspeitam QUE NADA MAIS SOU QUE O REFLEXO DE SI MESMO.
Não reclamo, não me queixo porque esta é a Tua vontade. Sou escorraçado, condenado a habitar as profundezas escuras da terra e a trafegar pelas sendas tortuosas da provação. Sou invocado pela inconsciência dos homens a prejudicar o seu semelhante, sou usado como instrumento para aniquilar aqueles que são odiados, providos pela covardia e maldade humana, sem contudo poder negar-me ou recorrer.
Pelo pensamento dos inconscientes sou arrastado a exercer a descrença, a confusão e a ignomínia, pois esta é a condição que Tu me impuseste.
Não reclamo Senhor! Mas fico triste por ver Teus filhos, que criaste à Tua imagem e semelhança, serem envolvidos pelos turbilhões de iniqüidade que eles mesmos criam, e eu, por Tua lei inflexível, delas tenho que participar.
No entanto Senhor, na minha infinita pequenez e miséria, como me sinto grande e feliz, quando encontro em algum coração, um oásis de amor e sou solicitado a ajudar na prestação de uma caridade. Aceito sem queixumes Senhor, a lei que na Tua infinita sabedoria e justiça, me impuseste: a do executor de consciência, mas lamento e sofro mais porque os homens até hoje não conseguiram compreender-me.
Peço-te, ó Pai, que lhes perdoe. Peço-te não por mim, pois sei que tenho que completar o ciclo de minha provação, mas por eles, os Teus humanos filhos. Perdoa-os e torna-os bons porque somente através da bondade de seus corações poderei sentir a vibração de Teu amor e a graça do Teu Perdão.

Exú Floruti – Exú Tiriri

19.8.11

OS SANTOS MODERNOS

Era natural e característico que nestas condições a Índia procurasse consolo na religião. Por um tempo deu ela cordial acolhida ao cristianismo, no qual encontrou muitos ideais éticos que ela já honrava de milhares de anos; e “antes que o caráter, e a conduta dos europeus,” diz o padre Dubois, “se tornassem conhecidos dos indianos, pareceu possível a expansão do cristianismo na Índia.” Durante o século 19º os missionários cristãos procuraram fazer a voz de Cristo ouvida nos intervalos dos canhoneios; montaram e equiparam escolas e hospitais, deram ao povo teologia misturada com medicina e pela primeira vez surgiu nos párias a idéia de que eles também eram criaturas humanas. Mas o contraste entre os preceitos cristãos e a prática dos cristãos, tornou os hindus cépticos e irônicos. Observavam eles que a ressurreição de Lázaro era indigna de nota; as religiões indianas tinham coisas muito mais milagrosas que essa; além disso, qualquer yogi de hoje faz milagres, ao passo que os do cristianismo já se acabaram. Os brâmanes sustentaram galhardamente o terreno, e contra as ortodoxias do Ocidente ofereceram um sistema de pensamento igualmente sutil, profundo e incrível. “O progresso do cristianismo na Índia,” diz Eliot, “foi insignificante.”
Não obstante, a fascinadora figura de Jesus tem tido muito mais influência na Índia do que a que pode ser medida pelo fato de o cristianismo só ter em 300 anos conquistado 6% da população. Os primeiros sinais dessa influência aparecem no Bhagavad-Gita; os últimos evidenciam-se em Gandhi e Tagore. O mais claro exemplo está na reforma conhecida como Brama-Somaj, lançada em 1828 por Ran Mohun Roy. Ninguém podia aproximar-se do estudo da religião com mais consciência. Roy aprendeu sânscrito para ler os Vedas, aprendeu o pali para ler o Tripitaka do budismo, o persa e o árabe para estudar o Corão, o hebreu para conhecer o Velho Testamento e o grego para conhecer o Novo. Em seguida estudou inglês e escreveu com tanta facilidade e graça que Bentham desejou que James Mill se aproveitasse do exemplo. Em 1820, Roy publicou seu Preceito de Jesus: Guia da Paz e da Felicidade, e anunciou: “Encontrei as doutrinas de Cristo mais conducentes a princípios morais e mais bem adaptadas ao uso dos seres racionais do que qualquer outra que me tenha chegado ao conhecimento.” E propôs aos seus escandalizados conterrâneos uma nova religião sem politeísmo, sem castas, sem poligamias, sem casamento infantil, sem suttee (a viúva que se sacrificava na pira funerária do marido) e sem idolatria – só com deus, Brahman. Como Akbar, sonhou que toda a Índia se unisse num só credo assim tão simples; e, como Akbar, não levou na devida conta a popularidade da superstição. O Brama-Somaj, depois de cem anos de luta, é hoje uma força à margem da vida indiana.

Da Obra História da Civilização Volume III
Autor Will Durant

11.8.11

SOFRIMENTO

Como muitos outros pensadores hindus, Kapila encara a vida como um bem muito duvidoso – se acaso é um bem. “Poucos são estes dias de alegria, poucos são estes dias de mágoas: a riqueza é como a enchente do rio; a mocidade é como a margem de um rio em cheia que se desagrega; a vida é como a árvore da margem que desmorona.” O sofrimento vem do fato do Eu individual e do intelecto estarem sujeitos à matéria e serem arrastados pelas forças cegas da evolução. Que fuga existirá para este sofrimento? Unicamente a que a filosofia proporciona, responde Kapila; só por meio da compreensão filosófica todos esses sofrimentos, e toda essa divisão de Egos em luta se transfazem em Maya – a ilusão, o imponderável espetáculo da vida e do tempo. “A sujeição vem do erro de não discriminar” entre o Eu que sofre e o Espírito que é imune, entre a superfície que é sujeita a perturbar-se e o alicerce que não se perturba e não muda. Para o homem erguer-se acima dos sofrimentos torna-se apenas necessário compreender que a nossa essência, que é Espírito, está além do bem e do mal, da alegria e da dor, do nascimento e da morte. A ação, a luta, os triunfos, e derrotas afetam-nos ùnicamente enquanto não percebemos que não vêm do Espírito; o homem iluminado encara-os como coisas alheias à sua essência – e permanece na atitude do espectador que da platéia assiste a um espetáculo. Deixemos a alma reconhecer a sua independência de todas as coisas e ela se sentirá livre; por esse ato de compreensão a alma escapará da prisão do espaço e do tempo, da dor e da reencarnação. A libertação obtida por meio do conhecimento , diz Kapila, ensina-nos um conhecimento único: que eu não sou nem nada de mim é. Isto quer dizer que a individuação é uma ilusão; o que existe é, de um lado, a vasta espuma, envolvente e dissolvente, da matéria e do intelecto, dos corpos e dos eus; e de outro lado, a calma eternidade da alma imutável e imperturbável.

8.8.11

A UNIDADE FUNDAMENTAL DE TODAS AS RELIGIÕES

O pensamento reto é condição necessária para uma vida reta. A retidão de juízo é indispensável à retidão da conduta.
Quer se nos apresente sob seu antigo nome sânscrito “Brahma Vidya”, ou sob a designação moderna tirada do grego “Teosofia”, a Sabedoria Divina nos auxilia na realização deste duplo objeto. Apresenta-se ao mundo simultaneamente como uma filosofia racional, perfeita, e também como religião e moral universais. Um piedoso cristão dizia uma dia, falando das Santas Escrituras, que nelas havia passagens que uma criança poderia atravessar facilmente, e abismos onde um gigante seria obrigado a nadar. Outro tanto podemos dizer da Teosofia, porque, de seus ensinamentos, uns são tão simples e práticos, que toda inteligência mediana pode compreender e aplicar, enquanto outros são tão elevados, tão profundos, que o espírito mais hábil curva-se exausto quando se obstina em davassar-lhes o sentido.
Um golpe de vista de conjunto lançado sobre as grandes religiões do mundo, mostra que elas têm de comum muitas idéias religiosas, morais e filosóficas. Muitos pretendem que as religiões nasceram do solo da ignorância humana, cultivada pela imaginação e que foram sendo gradualmente elaboradas, a partir das formas grosseiras do animismo e do fetichismo. Suas analogias são devidas aos fenômenos universais da natureza, imperfeitamente observados e explicados de uma maneira caprichosa. Tal escola dá como chave universal o culto do sol e dos astros; para outros a chave, não menos universal, é o culto fálico. O medo, o desejo, a ignorância e a admiração, levaram o selvagem a personificar os poderes da natureza, depois os padres exploraram estes terrores e estas esperanças, dominando as imaginações brumosas, e os mitos foram-se transformando em bíblias, e os símbolos em fatos; e como a base era a mesma em toda a parte, a semelhança dos resultados era inevitável.
Assim falam os doutores da “mitologia comparada” e, sob a avalanche de provas, os simples são reduzidos ao silêncio, embora não convencidos. Eles não podem negar as analogias, mas não deixam de se interrogar com uma vaga inquietação: “As mais sublimes concepções do homem, as suas mais caras esperanças são apenas o produto de sonhos do selvagem e das dubiedades da ignorância! Todos os grandes condutores dos povos, os heróis da humanidade viveram, trabalharam, sofreram, e morreram na ilusão, pela simples personificação de fatos astronômicos, ou pelas obscenidades dissimuladas dos bárbaros!”
A segunda explicação da base comum que unifica a diversidade das religiões humanas, postula a existência dum ensinamento original, que uma confraria de grandes instrutores espirituais guarda. Estes Mestres, frutos de ciclos passados de evolução, tiveram por missão instruir e guiar a humanidade nascente em nosso planeta. Transmitiram a estas raças e nações as verdades fundamentais da religião, sob a forma melhor adaptada às necessidades especiais daqueles que deviam recebê-las. Segundo essa opinião, os fundadores das grandes religiões são membros desta Confraria Única, e foram ajudados em Sua missão, por uma plêiade de outros membros menos elevados que Eles, iniciados e discípulos de diversos graus, eminentes por sua intuição espiritual, por seu saber filosófico, ou pela pureza de sua elevação moral. Estes homens dirigiram as nações nascentes, guiando-as no caminho da civilização e dotando-as de leis; monarcas, eles a governaram; filósofos, eles as instruíram; sacerdotes, eles as guiaram. Todos os povos mostram em sua alta antiguidade estes homens poderosos, heróis e semi-deuses; e a arquitetura, a literatura, a legislação desses povos conservam de tais homens traços indeléveis.
Parece difícil negar a existência desses homens, diante da tradição universal, dos documentos escritos ainda existentes, e dos despojos pré-históricos, em ruínas por toda a parte – sem mencionar outros testemunhos que o ignorante recusaria. Os livros sagrados do Oriente são fiéis testemunhas da grandeza daqueles que os escreveram; porque, em épocas mais próximas e nos tempos modernos, que há de comparável à sublime espiritualidade de sua unção religiosa, ao esplendor intelectual de sua filosofia, à extensão e pureza de sua moral? E quando percebemos que estes livros encerram sobre Deus, o homem e o Universo, ensinamentos em substância idênticos, sob uma múltipla variedade de aparência exterior, não parece irracional aproximá-las, enfeixando-as em um único corpo de doutrina, central e original. É a este corpo de doutrina que damos o nome de Sabedoria Divina, ou sob a forma grega: Teosofia.
Sendo, como é, origem e base de todas as religiões, a Teosofia não se opõe a nenhuma delas. Ao contrário, purifica-as, revelando a alta significação interior de inúmeras doutrinas, tornadas errôneas em sua forma exterior, pervertidas pela ignorância e pela superstição. Em cada uma destas formas a Teosofia se reconhece e se defende; e procura em cada uma delas revelar sua sabedoria oculta. Para nos tornarmos um Teósofo, não há necessidade de deixar-mos de ser ou Cristão, ou Budista ou Induista (ou Umbandista). Basta que o homem penetre mais profundamente no coração de sua própria fé, abraçando mais firmemente as verdades espirituais e analisando com um espírito mais amplo os ensinamentos sagrados. Depois de ter outrora dado nascimento às religiões, a Teosofia vem justificá-las e defende-las. É o bloco no qual têm sido talhadas, é como a escavação profunda da pedreira donde todas foram extraídas. Diante do tribunal da crítica moderna, ela vem justificar as mais profundas aspirações e as mais nobres emoções do coração humano. Confirma as esperanças que nós apontamos ao homem e nos restitui, mais enobrecida, nossa fé em Deus.
A verdade desta asserção torna-se cada vez mais evidente, à medida que estudamos as diversas Escrituras Sagradas do mundo. Algumas seleções operadas na massa dos materiais disponíveis, bastam para verificar o fato, e guiar o estudantes na investigação de novas provas.
As verdades espirituais fundamentais da religião podem resumir-se no seguinte:
I – Uma existência real, eterna, infinita, incognoscível;
II – Do Todo procede o Deus manifestado, desdobrando-se de unidade em dualidade, de dualidade em trindade;
III – Da Trindade manifestada procedem inumeráveis Inteligências espirituais, guias da atividade cósmica;
IV – O Homem, reflexo do Deus manifestado, se compõem, por isto, duma trindade fundamental. Seu “Eu” interior e real é eterno, e forma uma unidade com o “Eu” Universal;
V – Ele evolui por encarnações repetidas para as quais é atraído pelo desejo, e das quais se liberta pelo conhecimento e pelo sacrifício, tornando-se finalmente divino em realidade como fora sempre em potencialidade.

Da obra A SABEDORIA ANTIGA – AUTORA ANNIE BESANT

31.7.11

CONHECIMENTO

"Em profunda cegueira vivem os que adoram a ignorância; e em cegueira maior os que se contentam com o conhecimento."

26.7.11

AS ORIGENS DO RITUAL NA IGREJA E NA MAÇONARIA

AS ORIGENS DO RITUAL
NA IGREJA E NA MAÇONARIA

Helena Petrovna Blavatsky

Parte VII
PARTE VII O ritual do Cristianismo primitivo - como já está suficientemente demonstrado - deriva da antiga Maçonaria. Esta é, por sua vez, a herdeira dos Mistérios, quase desaparecidos nessa época. Diremos algumas palavras sobre estes: é bem conhecido de toda a Antigüidade que, a par da adoração popular feita de letra morta e formas vazias das cerimônias exotéricas, cada nação tinha seu culto secreto, designado na sociedade como sendo os Mistérios.

Strabon [Estrabão], entre outros, dá seu testemunho dessa asserção (Georg. Lib X). "Ninguém era admitido aos Mistérios se não estava preparado por um treinamento particular. Os neófitos, instruídos na parte superior dos Templos, eram iniciados, nas criptas, ao Mistério final. Essas instruções constituíam a última herança, e última sobrevivência da antiga sabedoria, e é sob a direção de Altos Iniciados que os Mistérios eram REPRESENTADOS. Empregamos de propósito o termo REPRESENTADO, pois que as instruções ORAIS, EM VOZ BAIXA, eram dadas somente nas criptas, em segredo e num silêncio solene. As lições sobre a teogonia e cosmogonia eram expressas por representações alegóricas; o MODUS OPERANDI da evolução gradual do Kosmos, dos mundos e finalmente de nossa terra, dos Deuses e dos homens, tudo isso era comunicado simbolicamente. As grandes representações públicas, que eram dadas durante as festas dos Mistérios, tinham por testemunha o povo que adorava cegamente as verdades ali personificadas. Somente os Altos Iniciados, os EPOPTAE, compreendiam sua linguagem e seu significado real. Tudo isso e muito mais ainda é conhecido pelos sábios.

Todas as antigas nações pretenderam saber que os Mistérios reais, concernentes ao que se chama, tão pouco filosoficamente, a criação, foram divulgados aos Eleitos de nossa raça (a quinta) por essas primeiras dinastias de REIS DIVINOS - "Deuses na carne", "Encarnações divinas ou Avatares".

As últimas estrofes extraídas do Livro de Dzyan para a DOUTRINA SECRETA (vol. 3, p. 27 - ed. inglesa) falam dos que reinaram sobre os descendentes "nascidos do Santo Rebanho" e... "que tornaram a descer e fizeram a paz com a Quinta Raça, e a instruíram e ensinaram".

A frase "fizeram a paz" mostra que houve uma CONTENDA precedente. O destino dos Atlantes em nossa filosofia e o dos pré-diluvianos na Bíblia corrobora essa idéia. Uma vez mais, e isso muitos séculos antes dos Ptolomeus, o mesmo abuso da ciência sagrada dominou lentamente os Iniciados do Santuário egípcio. Os ensinamentos sagrados dos Deuses, mesmo conservados em toda sua pureza durante séculos inumeráveis, a par da ambição pessoal e do egoísmo dos Iniciados, foram de novo corrompidos. O significado dos símbolos encontrou-se muitas vezes profanado por inconvenientes interpretações, e, bem cedo, os mistérios de Elêusis foram os únicos que permaneceram puros de toda alteração e de toda inovação sacrílega. Eram celebrados em Atenas em honra de Demeter (Ceres) ou da Natureza, e foi lá que a elite intelectual da Grécia da Ásia Menor foi iniciada. No seu quarto livro, Zózimo afirma que esses iniciados pertenciam a toda a humanidade (7) e Aristides chama aos Mistérios: "O Templo comum de toda a terra".

Foi para conservar alguma lembrança desse "templo" e reconstrui-lo oportunamente, que alguns eleitos, dentre os Iniciados, foram escolhidos e postos de reserva. Isto foi cumprido pelo seu Grande Hierofante em cada século, desde a época em que as alegorias sagradas mostraram os primeiros sintomas de profanação e de decadência.

Finalmente, os Grandes Mistérios de Elêusis tiveram o mesmo destino dos outros. Sua superioridade primordial e seu alvo primitivo são descritos por Clemente de Alexandria, que nos mostra como os Grandes Mistérios divulgavam os segredos e o modo da construção do Universo, sendo isso o começo, o fim e o último alvo do conhecimento humano. E mostrava-se ao Iniciado a natureza de todas as coisas tais como são (strom 8). Tal era a Gnose Pitagórica: "o conhecimento das coisas tais como são".

Epícteto fala dessas instruções em termos os mais elevados: "Tudo que lá está estabelecido, o foi por nossos Mestres para instrução dos homens e correção de nossos costumes" (apud Arriam, Dissert. lib. cap. 21) - e Platão diz o mesmo em seu PHEDON; o fim dos Mistérios era restabelecer a alma em sua primitiva pureza, ESSE ESTADO DE PERFEIÇÃO QUE ELA HAVIA PERDIDO.

26.6.11

HISTÓRIA DA UMBANDA - CAPÍTULO IV

D.PEDRO II É PAI DOS BRANCOS

Os índios Jê-Timbira narram a origem do homem branco com base nas aventuras de Aukê:

Uma rapariga de pátio de nome Amcukwéi estava grávida. Certo dia, quando em companhia de muitas outras tomava banho, ouviu de repente o grito de “preá”. Admirada, olhou para todos os lados sem descobrir de onde o ruído partira. Logo depois escutou-o novamente. Voltando para casa, deitou-se na cama de varas, e o grito se fez ouvir pela terceira vez, reconhecendo ela, agora, que o som partira do interior do seu próprio corpo. Foi a criança quem falou: “Minha mãe, tu já estás cansada de me carregar?”. “Sim, meu filho”, respondeu ela, “saia [...]” Amchkwéi começou a sentir as dores de parto e foi só para o mato. Deitando folhas de pati no leito do chão prometeu: “Se fores menino eu te matarei, se fores menina eu te criarei [...]”. Nasceu um menino e Amcukwéi cumpriu sua palavra: cavou um buraco, sepultou seu filho, ainda vivo, e voltou para casa. Sua mãe, vendo-a chegar, perguntou pela criança e, quando se inteirou do sucedido, ralhou com a filha: que tivesse trazido o menino porque ela, a avó, o criaria. Não contente com isso, a mãe de Amcukwéi desenterrou a criança e depois de lava-la trouxe-a para casa. Amcukwéi não lhe quis dar de mamar, mas a avó o amamentou. Foi então que o pequeno Aukê levantou-se e disse:
“Então não me queres criar?”. Amcukwéi, muito assustada, respondeu: “Sim, eu te criarei”.
Aukê cresceu rapidamente. Ele possuía o dom de transformar-se em qualquer animal [...] Então, um dia, seu tio resolveu mata-lo. Estando o menino sentado no chão comendo bolo de carne, o tio bateu nele, forte e por trás, com um cassetete, enterrando-o atrás da morada. Na manhã seguinte, porém, o menino, cheio de terra, voltou [...] Seu tio resolveu desfazer-se dele de outra maneira: chamou-o para buscar mel [...] Chegando ao cume da terceira serra, o irmão de Amcukwéi agarrou o menino, atirando-o em seguida no abismo. Mas Aukê transformou-se em folha seca e desceu vagarosamente em espirais até o chão [...] O tio, no entanto, logo concebeu um novo plano para matar Aukê: sentando-o numa esteira, deu-lhe comida [...] Foi então que o abateu pelas costas, usando um cassetete, e queimou-lhe o corpo inteiro. Abandonaram em seguida a aldeia, mudando-se para um lugar bem longe.
Algum tempo depois Amcukwéi pediu aos chefes e conselheiros que mandassem buscar as cinzas de Aukê [...] Quando os dois chegaram ao lugar, descobriram que Aukê tinha se transformado em homem branco; construíra uma casa grande e agora criava negros [...] e cavalos de madeira do bacuri. O rapaz chamou os dois enviados e mostrou-lhes a sua fazenda. Depois mandou chamar Amcukwéi para que morasse com ele. Aukê é agora o Imperador d. Pedro II, pai dos brancos. [grifos meus].

Qualquer história permite, por certo, várias narrativas e inúmeras leituras. Neste caso, o mito de Aukê ajuda a entender a monarquia brasileira como uma experiência partilhada por diversas visões e sujeita a muitas recuperações. No caso, Aukê torna-se branco, o Branco por excelência, senhor e distribuidor de riquezas, identificado, por sua vez, com d. Pedro II. Assim, se o mito anuncia uma situação de desigualdade, remete também a uma sentido que lhe é anterior ao misturar cosmologias. Com efeito, o monarca parece aglutinar nesse contexto representações distintas. Pai de todos os brancos, na versão do mito jê; d. Sebastião nos trópicos, em um transplante do mito português introduzido por Bonifácio, que, leitor de Vieria, encarna em um Bragança o papel de “encoberto”; rei que divide a realeza com o príncipe Oba, o qual percorre as ruas do Rio; paródia do rei do Congo com sua rainha Ginga – d. Pedro II, por meio dessas releituras de época, é um “monarca com muitas coroas”. Homenageado em algumas festas, tal qual o rei dos reis, em outras é esquecido ou torna-se personagem subalterno. Às vezes o cortejo passa diretamente por d. Pedro, e desvia em sua homenagem; outras vezes a procissão segue longe e obriga o monarca a tomar parte dela como figurante quase secundário.
Imperador que empresta o nome à festa do Divino – na feliz tradução de José Bonifácio -, d. Pedro II compactuou com uma cultura que, ao mesmo tempo que se europeizou com sua presença, tornou-se mestiça, negra e indígena no convívio, por certo desigual, de tantas culturas. Na dinâmica interna entre estas vingaram a reelaboração e a criação de novas imagens e rituais.
Afinal, como explicar a permanência, por quase sessenta anos, de uma monarquia rodeada de repúblicas por todos os lados? Como entender o enraizamento de uma realeza Bragança, mas também Bourbon e Hadsburgo, em um ambiente tropical, cercado de indígenas, negros e mestiços? A resposta é estranhar o que parece tão natural em nossos compêndios de história. Longe das luxuosas cortes européias, a capital da monarquia brasileira, em 1838, possuía cerca de 37 mil escravos numa população total de 97 mil habitantes, e em 1849, em uma população de 206 mil pessoas, 79 mil cativos. Além disso, 75% dos escravos eram, em média, africanos, dado que indica a importância da população de cor na cidade do Rio de Janeiro. Por outro lado, os grupos indígenas, tão afastados da corte e dizimados de forma bastante sistemática, eram convertidos, porém, em símbolo da monarquia. Distantes enquanto realidade, ganhavam vida na representação; nos quadros e alegorias, nas esculturas e nos títulos de nobreza.
Nesse ambiente, a corte e os paços representavam ilhas com pretensões européias cercadas de mares tropicais, e sobretudo africanos, por todos os lados. Testemunhos de época falam de como as ruas eram tomadas pelos negros – escravos ou não - , que se dedicavam às mais diferentes ocupações e preenchiam os lugares com seus gestos, cores e expressões tão peculiares. “Se não soubesse que ela fica no Brasil poder-se-ia toma-la sem muita imaginação como uma capital africana, residência de poderoso príncipe negro, na qual passa inteiramente despercebida uma população de forasteiros brancos puros. Tudo parece negro [...]”, dizia Lallemant em 1859.
D. Pedro II era, portanto, imperador, o grande monarca e “pai dos brancos”, mas aparecia muitas vezes, em meio a outras divindades. Afinal, reis e príncipes africanos “pontilham a história dos escravos trazidos para a América” – com direito a beija-mão e salamaleques, como bem mostrou Debret em suas descrições de funerais de príncipes africanos no Rio de Janeiro.
Com efeito, as relações entre Brasil e África – oficiais ou não – caracterizaram-se, desde os tempos coloniais, por uma troca mais alargada do que se pode, à primeira vista, imaginar. Partes opostas do mesmo comércio negreiro de seres humanos, centralizado por Portugal, entre dois continentes desenvolveram-se ligações que excederam o aspecto exclusivamente econômico. Segundo Alberto da Costa e Silva, “a África recebeu e africanizou a rede, a mandioca e o milho, enquanto o Brasil fazia seus o dendê, a malagueta e a panaria da Costa”. Na verdade, as trocas se deram nas duas direções, e dos dois lados do Atlântico ficava-se sabendo o que acontecia. Não é à toa que foram dois reis africanos – Oba Psemwede, do Benim, e Ologum Ajan, de Eko, Onim ou Lagos – os primeiros a reconhecer a independência do Brasil.
É por isso mesmo que, em pleno território brasileiro, reis e nobres africanos, vendidos como escravos por motivos de guerra ou por simples desafetos, desterrados em função do “infame tráfico”, buscaram reconstruir estruturas políticas e religiosas de suas terras distantes. Caso famoso é o de Nan Agotiné, a mãe do rei Guezô, do Danxomé, Dangomé, Daomei ou Daomé,que, vendida por traficantes, teria refeito seus altares e sua corte na Casa das Minas, em São Luiz do Maranhão. Outros voltaram à terra, como o príncipe Fruku, que viveu no Brasil durante 24 anos e retrnou à Costa dos Escravos com o nome de d. Jerônimo. Lá chegando, disputou o trono do Danxomé e só por pouco perdeu para Agonglo. Como diz Verger, “africanos do Brasil e brasileiros da África [...] conseqüência imprevista do fluxo e refluxo do tráfico de escravos [...]”.
Além dos príncipes oriundos de elites dirigentes na África, habitaram no Brasil os reis alegóricos, das congadas, cavalhadas e batuques, que, no curto espaço das festas, representavam a autoridade máxima então constituída, isso para não falar das chefias tribais. Essa convivência entre tantos reis – imaginários ou não – permitia o surgimento de compreensões diferentes da realeza e mesmo de certa recepção positiva da monarquia. Escreve João José Reis: “Havia uma mentalidade monarquista, por assim dizer, circulando entre os negros, que parece ter sido recriação de concepções africanas de liderança, reforçadas em uma colônia, e depois um país, governado por cabeças coroadas. É aliás conhecida a popularidade de d. Pedro II entre os negros cariocas [...] A visão do rei como fonte de justiça [...] existia igualmente na América, inclusive entre os escravos”.
Por outro lado, na medida em que a realeza representava uma instância de poder comum a diferentes universos culturais, nos rituais várias monarquias se encontravam, a despeito da total ausência de liberdade nas esferas sociais e políticas. Os “reis” que habitavam o Brasil tinham uma convivência não democrática mas ao menos freqüente: “o rei Baltasar, o rei do Congo e o vice-rei de Portugal” iam homenagear o Imperador do Divino, fazendo o mesmo com os reis magos, no dia de Reis. Essas “majestades” também honraram o príncipe d. João VI na ocasião de sua coroação. Na Independência, o “rei Carlos Magno e seus doze pares de França” homenagearam o imperador Pedro I com espetáculos de cavalhadas. E que não se esqueça do rei Oba, que todo sábado se dirigia ao palácio a fim de beijar a mão do imperador Pedro II, nos últimos anos do Império.
Esses reis dialogavam não só entre si mas também com os santos. Com efeito, no Brasil religião e realeza estão ligadas de forma muito peculiar. Aqui não se atribui ao rei poderes mágicos ou transcedentais, como no caso clássico francês dos reis taumaturgos estudados por Bloch, porém de toda maneira o ritual local aprimora o “fraco” cerimonial dos Bragança. No Brasil, os imperadores passam a ser ungidos e sagrados, numa tentativa de dar sacralidade a uma tradição cuja inspiração ara antiga mas a realização datada. Nesse movimento, ao mesmo tempo que os monarcas ganham santidade, os santos, quando muito adorados, ganham realeza no Brasil. O Divino Espírito Santo recebe um império, o deus Momo vira, anos mais tarde, rei Momo. De qualquer modo, mantos imperiais convivem com mantos divinos, e o imaginário da realeza acaba permeando fortemente o catolicismo brasileiro, da mesma maneira que uma série de manifestações populares, como o Carnaval – com seus impérios, reis, rainhas e enredos -, se nutre de cenas da monarquia.
Entre tantas “coroas e santos” não seria mesmo o caso de eleger uma interpretação fiel da realeza européia e de suas tradições, mas sobretudo de entender como nesse ambiente, ainda que com base em leituras diferentes, a hierarquia e a autoridade real eram retraduzidas e compreendidas.
É Gilberto Freyre, em seu texto “Dom PedroII, imperador cinzento de uma terra de sol tropical”, quem conclui que o monarca, apesar de sua alma protestante, adotou, em determinados períodos do Império, uma ritualística local. Com seu manto verde como a nação, a coroa e a murça de penas de papo de tucano, mais próprios a um “Luiz XIV dos trópicos”, d. Pedro II dialogava com seus súditos, assim como eles o reimaginavam valendo-se de leituras particulares.
Desse modo, sem esquecer a existência das relações de dominação, inegavelmente assimétricas entre senhores e escravos, é possível voltar os olhos para o diálogo entre categorias culturais distintas e perceber a presença de elementos comuns, se não em seu conteúdo ao menos em sua forma, que permitem entender o estabelecimento de um repertório local e particular de imagens da monarquia.
Para citar apenas alguns elementos isolados: o que significa inventar uma corte em território americano, buscar todas as regras na mais fiel tradição medieval européia, mas adotar nomes e títulos indígenas? Como explicar um príncipe que se veste com o rigor majestático das grandes cortes, porém introduz uma murça de penas de papo de tucano, tal qual um cacique, e um manto com ramos de café e tabaco? O que dizer da famosa Fazenda de Santa Cruz, tirada dos jesuítas quando de sua expulsão e protegida pelos monarcas portugueses aqui residentes, que agrupava um número elevado de escravos-cantores de música sacra? De que maneira entender um imperador que sentava na frente dos estandes brasileiros das exposições universais – verdadeiras festa de exibição dos feitos tecnológicos e industriais das nações capitalista – e exibia sua coroa ao lado de produtos indígenas e da arte popular?
Por outro lado, se for correta a versão que diz ser o termo império não só uma referência à extensão do território, ou uma homenagem de d. Pedro I a Napoleão – segundo seus biógrafos, sua maior influência -. Mas uma alusão ao imperador da festa do Divino, estaríamos diante de um regime que desde os momentos de fundação dialogava com as culturas locais, criando novos significados para tradições longínquas.
Cada um desses temas – que resultaram em capítulos específicos – fala em seu conjunto de uma “monarquia tropical”, entendida como uma exceção no contexto local e exótica diante dos exemplos europeus. Na verdade, no interior do continente americano. O Brasil era visto com desconfiança pelas demais republicas, para as quais era difícil entender a opção pelo regime monárquico e sua continuidade. Mesmo levando-se em conta o acalentado sonho de Bolívar – que não só se inclinou para a monarquia como se deparou com a fidelidade da maior parte da população à Coroa -. A experiência do general Iturbide no México em 1822, ou mesmo o frágil Império haitiano de Dessalines, que durou de 1804 a 1806, para não falar da dramática e breve experiência do arquiduque austríaco Maximiliano (primo de D.Pedro II, fuzilado em junho de 1867), o fato é que, como afirma Francisco Iglesias, todas as demais experiências monárquicas em território americano têm caráter “quase tribal e anedótico, quando não são farsas trágicas como no caso mexicano”. A partir da doutrina Monroe (1823) – mais conhecida por seu lema “A América para os americanos” – a imagem do regime monárquico ficou associada a alguns países europeus, ao passo que aumentou a ingerência norte-americana no sentido de coibir o surgimento de realezas nas Américas.
Cercado de repúblicas. O modelo monárquico brasileiro contava, portanto, com obstáculos adicionais para o seu reconhecimento: de um lado, o boicote das demais nações americanas; de outro, a difícil comunicação com os países europeus (desconfiados da relação estreita que o Estado imperial continuava mantendo com os países africanos e com o comércio negreiro).
Dessa forma, mesmo após o reconhecimento inglês e o português, parecia necessário a afirmação de uma imagem que distanciasse a monarquia brasileira da idéia de anarquia p tão comumente associada às repúblicas americanas -, do “comércio de almas” e de um sistema escravocrata persistente e difundido, sobre o qual se estruturavam a sociedade e a economia local. É justamente por isso que desde os primeiros anos de independência houve um investimento evidente na divulgação de uma representação ao mesmo tempo comum e peculiar desse longínquo império. Comum, na medida em que se procurou afirmar todo o tempo a feição européia de nossa monarquia – aparentada não só aos Bragança como aos Bourbon e Hadsburgo – e o caráter civilizacional do Império, afeito às novas tecnologias e idéias de progresso. Peculiar, já que havia o Atlântico a nos separar e toda uma realidade social e geográfica a nos distinguir. Velho conhecido dos viajantes, o Brasil foi sempre destacado como o local da “grande flora” – com sua vegetação edênica -, mas também como o país da miscigenação extremada, dos indígenas e da escravidão. Não havia, pois, como deixar de lado a faceta tropical do jovem Império.
Na tentativa de garantir e criar uma nova nação, desvinculada da “pátria”, que era ainda portuguesa, as elites do sul do país apostaram claramente, portanto, na monarquia e na conformação de uma ritualística local. A realeza aparecia, em tal contexto, como único sistema capaz de assegurar a unidade do vasto território e impedir o fantasma do desmembramento vivido pelas ex-colônias espanholas. É nesse sentido que a monarquia se transforma em um símbolo fundamental em face da fragilidade da situação. Transcendendo a figura humana do rei, as representações simbólicas do poder imperial evocavam elementos de “longa duração” que associavam o soberano à idéia de justiça, ordem, paz e equilíbrio. Afirmava José Bonifácio em Notas íntimas: “Acusam-me alguns de que plantei a Monarquia. Sim, por que vi que não podia ser de outro modo então; porque observava que os costumes e o caráter do povo eram eminentemente aristocráticos; porque era preciso interessar às antigas famílias e aos homens ricos que detestavam ou temiam os demagogos [...] Sem a monarquia não haveria um centro de força e união, e sem esta não se poderia resistir às corte de Portugal e adquirir a Independência Nacional”. Entre continuidades e rupturas dinásticas, persistências rituais e atualizações, misturaram-se valores seculares e profanos: não se abriu mão da origem européia, mas esta se combinou com um ambiente singular.
É, portanto, privilegiando essa dimensão simbólica da representação da realeza que se pode penetrar em facetas pouco estudadas, porém fundamentais na recuperação de modelos de sociabilidade até hoje presentes. Coube à monarquia brasileira seguir um trajeto ao mesmo tempo próprio e comum, que correspondeu à essência de uma cultura enxertada mas que acompanhou a diferenciação da sensibilidade local. Aí estaria “uma cópia bastante original”; uma cultura que se construiu com base em empréstimos ininterruptos, os quais, no entanto, incorporou, adaptou e redefiniu ao justapor elementos externos a um contexto novo.
Talvez seja essa a razão da pouca legitimidade inicial dos símbolos republicanos, em um país ainda atrelado à eficácia e à inserção alargada dos emblemas da realeza. O fato de os ícones da República mais bem-sucedidos – como o hino e a bandeira – estarem de alguma maneira ligados à simbologia monárquica evidencia não apenas o pequeno impacto da “invenção de tradições” republicanas, como sobretudo a penetração de uma simbologia imperial, para além dos marcos políticos oficiais.
José Murilo de Carvalho demonstrou como a mesma elite que ajudara a derrubar a monarquia lutava pela implantação de uma simbologia particular para o recém-instalado Estado republicano, sem conseguir, no entanto, impor um imaginário particular. A histótia da escolha do Hino Nacional, logo nos primórdios do novo regime, é significativa: a despeito do resultado final do apressado concurso, que já em 20 de janeiro de 1890 pretendia eleger uma nova composição para representar o país, acabou ganhando velho hino de Francisco Manuel da Silva, que nem ao menos havia entrado na competição. “Prefiro o velho!!!, teria dito o marechal Deodoro, deslocando o que ficara em primeiro lugar – o hino de Leopoldo Miguez, com letra de Medeiros e Albuquerque – e oficializando-o, no mesmo decreto, como Hino da Proclamação da República. O Hino Nacional continuava a ser o mesmo da monarquia, apesar da suspeita de que teria sido d.Pedro I seu compositor.
Mesmo a bandeira nacional, apesar das inúmeras explicações surgidas a posteriori (que falavam do verde de nossas matas e do amarelo das riquezas minerais), continuava a ostentar seus vínculos com a tradição imperial: o verde, cor heráldica da Casa Real Portuguesa de Bragança; o amarelo, cor da Casa Imperial Austríaca de Hadsburgo. Além disso, o desenho republicano reaproveitava o losango da bandeira imperial – que representava uma homenagem de d. Pedro I a Napoleão -, apenas retirando-se o brasão monárquico, com as armas imperiais aplicadas, para introduzir o lema positivista de “ordem e progresso”. Se essa versão é exata, estaríamos diante de um caso de redefinição, típico do nosso processo cultural: elementos tradicionais do armorial europeu, com seu significado preciso de homenagem aos soberanos da jovem nação, acrescidos de uma modalidade de distribuição do especo na bandeira francesa, passavam a representar nossa realidade física, destituídos de seu significado anterior. A fisionomia da bandeira republicana, considerada durante gerações como expressão autêntica de características da terra, “teria nascido de transposições, substituições e invenções, que deram ao brasileiro a idéia de simbolizar o que ele tem de mais específico”.
É certo que esses não são ícones escolhidos livremente – e nesse sentido populares – mas é certo, também, que sua recepção acaba gerando um consenso que encontra neles imagens ou representações do país. A questão seria, dessa maneira, entender não tanto o fracasso da simbologia republicana, tão bem analisado por José Murilo de Carvalho em A formação das almas, mas antes o impacto do imaginário monárquico, presente até hoje não apenas nesses elementos de retórica patriótica como em toda uma concepção de sociedade ainda impregnada da mística dos títulos de nobreza, das ordens honoríficas e dos rituais de consagração. Conforme afirma Sérgio Buarque de Holanda:A imagem de nosso país que vive como projeto e aspiração na consciência coletiva dos brasileiros não pôde, até hoje, desligar-se muito do espírito do Brasil imperial; a concepção de Estado figurada nesse ideal não somente é válida para a vida inteira da nacionalidade, como ainda não nos é possível conceber em sentido muito diverso nossa projeção maior na vida internacional”.
Nessa batalha simbólica, travada entre a República e Monarquia, melhor do que descobrir vencedores pé repensar a importância da dimensão cultural. Seguindo as pistas de Bronislaw Baczo, que aponta para a relevância do estudo de sistemas simbólicos de uma sociedade, percebemos como todo regime político estabelece em sua base um imaginário social constituído por utopias e ideologias mas também por mitos, símbolos e alegorias, elementos poderosos na conformação do poder político, especialmente quando adquirem aceitação popular.
A criação de símbolos, por sua vez, não é gratuita e arbitrária; não se faz no vazio social. Ao contrário, os símbolos são reelaborados em razão do contexto cultural em que se inserem, além de que o maior ou menor sucesso de sua manipulação encontra-se diretamente vinculado a uma “comunidade de sentidos”. Portanto, para compreendermos por que em momentos de mudança certos símbolos vingam e outros não, devemos atentar não só para a emissão como também para a recepção e divulgação, ou seja, para o consumo desses mesmos símbolos, que não é em si aleatório nem mero objeto de manipulação
Dessa maneira, se por parte das elites é possível perceber um uso quase instrumental da “figura do rei” – uma intenção muitas vezes abertamente expressa de construção de uma representação de porte nacional, por meio da oficialização e proliferação de rituais, da criação de monumentos e de um “passado” cuja continuidade temporal levaria ao Império -, já na releitura das festas populares o que está presente é a imagem mítica do rei, de um rei sagrado e religioso que nesse sentido não tem data nem lugar.
Colocar a questão nesses termos implica admitir que o significado se faz em contexto, mas também privilegiar certa singularidade cultural, uma análise sincrônica que se vale do repertório específico de cada cultura. Na fronteira entre a história e a antropologia, essa perspectiva permite pensar, ainda, em permanências e releituras – em “estruturas mentais” – e, desse modo, na razão da fortuna ou do fracasso de determinadas simbologias, igualmente manipuladas.
Muitos são os sinais do uso de uma farta simbologia por parte dessa monarquia tropical, mas é talvez na produção iconográfica e na originalidade dos rituais que se concentram, de forma mais evidente, os rastros de tal trajeto, os sinais do diálogo com a realidade externa, retraduzida em termos locais. Como veremos, essa história não começa com d. Pedro II, porém é sobre ele que incide uma quantidade maior de imagens e de representações, como se o “corpo do rei” mediatizasse essas duas instâncias: a criação política e institucional de realeza de um lado, a figura mítica, marca do imaginário popular, de outro.
Imperador de 1840 a 1889, D. Pedro II teve sua vida contada a partir de episódios repletos de dramaticidade e destacada com basse neles. Primeiro monarca nascido no Brasil, Pedro, Pedro de Alcântara foi comparado ao Menino Jesus na tradição portuguesa, revisto como Imperador do Divino na ladainha brasileira, entendido como um novo d. Sebastião pelos últimos fiéis das previsões de Vieira. Filho de Bragança, Hadsburgo e parente direto dos Bourbon, d. Pedro era reconhecido como um pequeno deus europeu, cercado por mestiços. Órfão de mãe com um ano, de pai aos dez, imperador aos catorze e exilado aos 64, no seu caminho é difícil notar onde se inicia a fala mítica da memória, quando acaba o discurso político e ideológico; onde começa a história, onde fica a metáfora.
A saída é acompanhar passo a passo as trajetórias que envolveram a figura de D. Pedro II, que de órfão da nação se transforma em rei majestático; de imperador tropical e mecenas do movimento romântico vira rei cidadão, para finalmente imortalizar-se no mártir exilado e em mito depois da morte, com vistas a recuperar não tanto a sua história, mas antes sua memória, ou melhor, a seleção de determinadas memórias nacionais. Esse é ao menos o percurso que as imagens convidam a seguir. Nesse processo, nem sempre o discurso institucional caminhou junto com a ideação mais popular do rei que dialogou com contextos ainda anteriores à independência do Brasil, ou da vinda de d. João. No entanto, durante o Segundo Reinado e mesmo na “retradução” do exílio do rei na Europa é possível perceber como o “corpo do rei” é suporte para batalhas simbólicas de ordem diversa.
É certo que d. Pedro II não centralizou todas as decisões do Império, tampouco tomou parte do conjunto de manobras. Muitas vezes foi inserido numa grande representação como parte e não como artífice. É por isso mesmo que pouco importa descobrir se o monarca foi mais ou menos culto, muito inteligente ou pouco dotado. Melhor do que personalizar é buscar os caminhos de construção desse mito de Estado, desse monarca tropical.
Portanto, é tendo como cenário o Segundo Reinado, momento fundador de um modelo de nacionalidade, que se buscará entender os mecanismos de construção simbólica da figura pública desse monarca, em suas associações com o fortalecimento do Estado. Fértil na produção de um amplo leque de imagens, o Império brasileiro se destacou em seu papel de criador de ícones nacionais – entre hinos, medalhas, emblemas, monumentos, dísticos e brasões -, assim como concentrou esforços na boa costura da imagem do monarca, que parecia simbolizar a pátria. A idéia é, portanto, recuperar meios e processos pelos quais toma forma uma grande representação de d. Pedro II e do Império brasileiro. Tendo por base uma visão alargada do processo que leva à consolidação da imagem do governante, se buscará não só as grandes instâncias de efetivação, como as pequenas e cotidianas medidas. Se o exame da iconografia oficial revela facetas das produções da elite carioca, já os rituais e comemorações indicam outras leituras, mais populares, da mesma monarquia.
A reflexão sobre a monarquia brasileira leva, assim, à reconstrução de um sistema político (ligado à elite carioca que cerca a realeza), mas também a um imaginário monárquico, percebido justamente por meio da análise de rituais, costumes e tradições. No caso, porém, é a figura do imperador que está colocada bem no meio das duas instâncias, e não há outra opção senão percorrer a sua biografia destacando, contudo, momentos e locais da edificação dessa história, quando privilegiadamente recontam-se certos episódios em detrimento de outros.
Os capítulos foram construídos, pois, com base em documentos inéditos, iconografia do período e uma vasta bibliografia sobre d. Pedro II. Se de um lado essa produção foi de grande serventia, de outro foi preciso “dribla-la”. Muitas vezes laudatórias e em alguns casos – logo após a proclamação da República – francamente contrárias, as biografias constroem uma personagem, pelo elogio ou pelo descaso, destacada de qualquer contexto. Nelas, também, é difícil entender onde começa a história, onde termina o mito. Feito mito ainda jovem, d. Pedro II nas imagens oficiais é sempre mais velho que seu pai, confusão que atrapalha até hoje as crianças na escola, mas fala igualmente de uma iconografia política que se constrói por meio da história, que lembra um pouco e esquece muito, guarda certas imagens na memória e apaga outras. [...]



É preciso entender o milagre com base no desejo do milagre, no fenômeno da crença em um poder diverso e superior à própria humanidade. O paralelo com o famoso texto de Lévi-Strauss sobre a eficácia do feiticeiro e, nesse sentido, evidente. Afinal, é essa mesma lógica que leva o autor a concluir que o que explica a cura não são os cânticos e poções do xamã, mas o fato de que um grande “xamã” é obra do consenso. “Quesalid não se tornou um grande feiticeiro porque curava seus doentes; ele curava seus doentes porque se tinha tornado um grande feiticeiro.” Dessa maneira, assim como não há por que duvidar da adesão dos monarcas – e/ou dos feiticeiros – à sua missão, é também claro que, em ambos os casos, a lógica da crença no milagre é anterior e mais forte do que o milagre em si, já que baseada em um consenso que é coletivo e simbólico. [...]


Com base em centenas de retratos da família imperial, em paisagens e imagens de instituições nacionais; no testemunho das viagens do imperador e da sua passagem por exposições universais ou visitas a estabelecimentos científicos; no registro de experimentos ou das marcas da Guerra do Paraguai, guardadas apenas nos uniformes militares... compõe-se um esforço de construção e de perpetuação de determinada memória nacional. Trata-se, portanto, não de um amontoado de imagens, mas de uma “coleção” feita de muitas lembranças e de várias lacunas. Se o Dicionário Aurélio tem razão em sua definição, estamos diante de um “conjunto ou [de uma] reunião de objetos da mesma natureza ou que têm qualquer relação entre si”. O seu coletivo revela como são pequenos os limites entre os poucos momentos de intimidade de um monarca e a sua feição oficial de estadista. Afinal, a coleção carrega não só as imagens do imperador e de sua família como os grandes temas do século XIX – as artes, o urbanismo, a arqueologia, a biologia, a botânica, a mineração, a saúde pública... – os eventos mais importantes da época e retratos de “nossa gente”.
A coleção mostra ainda o que o imperador vê e, pela falta, aquilo que não vê ou quer esquecer. É assim que, se os trópicos aparecem a todo momento, a escravidão está ausente, como figurante oculto das cenas. Com efeito, é uma certa civilização que aparece representada, selecionando uma memória e um tipo de lembrança.
Como qualquer coleção, a “de d. Pedro” guarda, também, um tipo de classificação. Não basta, porém, recuperar sua lógica original; é possível interpretar as alegorias, descobrir alterações e faze-las dialogar com os contextos a que dizem respeito. Como se verá, as imagens distinguem-se por sua técnica – xilogravura e litogravura, pinturas à óleo, aquarelas, nanquim e carvão, caricaturas e fotografias a partir dos anos 60 (entre daguerreótipos, ferrotipias ou ambrotipias) – e pelo momento a que se referem. No entanto, entre tantos retratos oficiais, imagens feitas para a divulgação no exterior, desenhos apenas rascunhados, ou as poucas cenas de maior intimidade, podemos encontrar regularidades dignas de destaque, referências que só o conjunto do material pode ofertar. Com efeito, são mais de seiscentos Pedros que nos observam, enquanto os observamos, como se pudéssemos ver não apenas o crescimento cronológico dessa personagem, mas momentos diversos de sua construção como símbolo do Estado.
Nesse processo selecionaram-se os momentos em que a atuação e presença de d. Pedro são mais evidentes. [...] Nesses momentos, fortemente pautada em uma agenda de festas, rituais e imagens, a monarquia brasileira se serviu à larga das representações simbólicas que envolvem o poder monárquico e que evocam elementos históricos de longa duração, associando o soberano à idéia de justiça, ordem, paz e equilíbrio. [...]
É assim, no privilégio à dimensão simbólica, aos mecanismos de construção da memória da monarquia brasileira, que se pode encontrar novidade nessa história tão conhecida e vasculhada pelas biografias. Tal recorte, se não permite elaborar um sistema total de explicação, introduz uma dimensão nova: o terreno mágico, sagrado e simbólico de uma realeza que, ao mesmo tempo que – nas mãos da elite local – atualizou a tradição, a fez dialogar com as representações locais – “aparatos intelectuais”, anteriores a seu estabelecimento.[...]


Como símbolo da união, a realeza parecia ser a melhor saída possível para evitar a autonomia e possível separação das províncias; sòmente a figura de um rei congregaria esse território gigantesco, marcado por profundas diferenças. É assim que as elites locais optam pela monarquia, na esperança de ver no jovem rei um belo fantoche. [...]
Frutos de muitos acordos, a originalidade e a garantia de uma emancipação monárquica, em pleno contexto americano e republicano, não eram tarefas fáceis, nem interna, nem externamente. Nesse sentido, foi fundamental a figura de José Bonifácio – futuro tutor dos filhos do monarca -, que juntamente com a elite do Centro-Sul, a qual gravitava em torno da nova corte, empenhou-se na manutenção da unidade territorial do Império brasileiro, impedindo que se repetisse o exemplo da América espanhola. Era assim que se tomavam na ex-América lusitana as medidas necessárias para que se evitasse a alternativa republicana, então considerada a “vocação natural das Américas”.
Foi por isso que, logo após a independência política de 1822, investiu-se muito no cerimonial da realeza e no estabelecimento de determinadas memórias. D. Pedro foi aclamado imperador em 12 de outubro de 1822 – data a princípio considerada mais importante que o próprio Sete de Setembro. Além disso, desejando romper com o costume português, de um lado, e influenciado pela sagração e coroação de Napoleão, em 1804, de outro, d. Pedro I envolve-se na realização de uma importante cerimônia religiosa, de origens bíblicas, e regida, com detalhes, pelo livro 1 do antigo Pontificial romano. Nesse documento estabelecia-se que os soberanos deveriam ser ungidos e sagrados no contexto solene da missa pontificial, costume que os reis portugueses haviam abolido fazia muito tempo. A cerimônia aconteceu no dia 1º de dezembro de 1822, na então Capela Imperial, sendo celebrada pelo capelão-mor d. José Caetano da Silva Coutinho, que sagrou o novo imperador e o coroou com óleo santo. Como testemunho do acontecimento ficou a grande tela de Jean Baptiste Debret, que retrata pormenorizadamente o caráter rigoroso e fiel do ritual. Por meio da alteralidade buscava-se destacar o surgimento de uma nova história, por suposto diferente da antiga metrópole portuguesa.
O novo império, contudo, não só dialogaria com a tradição: introduziria elementos da cultura local. Construía-se, a partir de então, uma cultura imperial pautada em dois elementos constitutivos da nacionalidade emergente: “o estado monárquico, portador e impulsionador do projeto civilizatório, e a natureza, como base territorial e material deste Estado”.
Com efeito, ainda em 1822, é elaborada pelo mesmo artista – que já fora responsável por criar todas as imagens oficiais do período de d. João VI – uma alegoria especialmente idealizada para o pano de boca de uma apresentação teatral que celebrava a coroação de D. Pedro primeiro imperador do Brasil. Debret, “um neoclássico de quatro costados” e discípulo direto de David, talvez em razão do sentimento social aguçado de sua escola, encontra empecilhos para dialogar com um contexto tão diverso de sua França revolucionária. Segundo Rodrigo Naves, o elogio da virtude e da exemplaridade deveria se mostrar por meio da forma ideal e da caracterização do herísmo neoclássico. No entanto, em face do cotidiano da escravidão e de uma corte transplantada, parecia difícil traduzir essas “idealidades formais para uma realidade totalmente estranha aos pressupostos”.
Nesse caso porém, a alegoria deveria agradar; nela o Império do Brasil apareceria com toda a sua pompa mas também originalidade. Além de estar confiado a Debret todo o programa de festas, ficou sob a responsabilidade do artista esse primeiro símbolo oficial da realeza brasileira. Diz Debret: “[...] Em tais circunstâncias, sentiu o diretor do teatro mais do que nunca a necessidade de substituir a pintura de seu antigo pano de boca representando um rei de Portugal cercado de súditos ajoelhados. Pintor de teatro, fui encarregado da nova tela, cujo bosquejo representava a fidelidade geral da população brasileira ao governo imperial, sentado em um trono coberto por uma rica tapeçaria estendida por cima de palmeiras”.
Tendo passado pela inspeção e aprovação do imperador e de José Bonifácio, a pintura sintetizava uma série de elementos dispersos da nova nacionalidade. Nada melhor do que dar voz à própria descrição reveladora do “discípulo de David”:

[...] O governo imperial é representado, nesse trono, por uma mulher sentada e coroada, vestindo uma túnica branca e o manto imperial brasileiro de fundo verde ricamente bordado a ouro; traz no braõ esquerdo um escudo com as armas do Imperador e com a espada na mão direita sustentando as tábuas da Constituição brasileira. Um grupo de fardos colocados no envasamento é em parte escondido por uma dobra do manto, e uma cornucópia derramando frutas do país ocupa um grande especo no centro dos degraus do trono. No primeiro plano, à esquerda vê-se uma barca amarrada e carregada de sacos de café e de maços de cana-de-açúcar. Ao lado, na praia, manifesta-se a fidelidade de uma família negra em que o negrinho armado de um instrumento agrícola acompanha a sua mãe, a qual, com a mão direita, segura vigorosamente o machado destinado a derrubar as árvores das florestas virgens e a defende-las contra a usurpação, enquanto com a mão esquerda, ao contrário, segura ao ombro o fuzil do marido arregimentado e pronto para partir [...] Não longe uma indígena branca, ajoelhada ao pé do trono e carregando à moda do país o mais velho de seus filhos, apresenta dois gêmeos recém-nascidos para os quais implora a assistência do governo [...] Do lado oposto, um oficial da marinha [...] No segundo plano um ancião paulista, apoiado a um de seus jovens filhos que carrega o fuzil a tiracolo, protesta fidelidade; atrás dele outros paulista e mineiros, igualmente dedicados e entusiasmados, exprimem seus sentimentos de sabre na mão. Logo após esse grupo, caboclos ajoelhados mostram com sua atitude respeitos o primeiro grau de civilização que os aproxima do soberano. As vagas do mar, quebrando-se ao pé do trono, indicam a posição geográfica do Império.

A alegoria de Debret representa, sem dúvida, “o Estado corporificado no trono imperial, que cumpria uma missão de submeter a seu domínio um outro diferente de si. Cumpria ainda uma missão civilizatória diante deste outro”. Mas não basta ficar na análise exclusivamente política dessa imagem. É possível dizer que estamos diante de uma “grande inauguração”: a de uma representação mais ou menos formalizada de uma monarquia que aqui se instala, buscando tradução em elementos tropicais.
Se o desenho já não fosse em si evidente, a descrição de Debret cuidaria do resto. Valendo-nos de ambos vemos como o pano de boca de Debret condensa, em uma só cena, elementos fundamentais da nova identidade. O trono, bem no centro da cena, garante o olhar em direção à representação do imperador – com o P e a coroa logo acima da figura: a imagem de uma mulher que carrega a Constituição, no caso o símbolo maior do progresso ocidental.
A tela é toda concebida com base na idéia de que uma nova civilização se montava, decididamente nos trópicos. Negros em atitude de fidelidade dividem a cena com uma indígena (uma autóctone) de pele branca mas que carrega os filhos “ao modo do país”. Selvagens ao fundo, com suas flechas, declaram lealdade ao lado dos paulistas, mineiros e da Marinha, em plano mais evidente. Caboclos recuperam, por meio da imagem, “o grau de civilização” a que podem chegar. As frutas, bem no centro, são todas tropicais, além das palmeiras e da vegetação, que compõem um quadro decididamente exótico. Por fim, as vagas do mar deságuam no grande trono, assim como o Atlântico, que nos separava e unia à “civilização”. Enfim, vindo de uma artista que se esmerou em elaborar uma série de símbolos para essa corte tão singular – entre retratos, uniformes e condecorações -, o pano de boca aparecia como um forte ícone de um Estado criado sob o signo da diferença.
Destacando a monarquia brasileira de sua matriz luzitana, os novos símbolos da terra ganham um caráter inaugural, como se toda a história começasse no ato que constituía a nação independente. Unidas e irmanadas por meio da realeza – representada pela figura da mulher sentada no trono com o texto da Lei nas mãos -, uma nação miscigenada arma-se para defender a monarquia constitucional, legitimada pela adesão de “seu povo”. No entanto, apesar dessa exuberância de detalhes, na imagem de Debret, como afirma Naves, “há uma rigidez mal resolvida, a produção de uma grandiosidade meio naif fiel talvez ao espírito acanhado da monarquia brasileira, mas muito limitada enquanto pintura”.
Não havia como esquecer a existência da escravidão, que por sua vez tornava a monarquia brasileira absolutamente singular. Na época, 45,6% de um total de 79.321 pessoas eram escravos no Rio de Janeiro, dando às ruas um colorido especial. Nesse Império, o universo do trabalho resumia-se ao mundo dos escravos. Vendedores ambulantes, negras quituteiras, negros de ganho oferecendo-se como pedreiros, barbeiros, alfaiates, funileiros e carpinteiros eram figuras obrigatórias nas ruas da cidade.
Mas a vivacidade das ruas não correspondia à estrutura da sociedade, hierarquizada, violenta e desigual. Aí se apresentava a grande contradição, que não se limitava ao traço de Debret; como afirmar a imagem civilizada e constitucional dessa monarquia ao lado da realidade escravocrata?
Não obstante, nas imagens oficiais era a mistura de elementos que dava colorido à jovem nação que se emancipava. Cem anos depois, um artista popular anônimo, mostrava como era forte o imaginário desses momentos inaugurais. No quadro a seguir, d.Pedro I aparece ao lado de José Bonifácio, o artista Debret logo atrás. Trata-se da elaboração dos emblemas do novo país, mas o que mais interessa é a união dos personagens. Perto das figuras oficiais uma negra escrava (ajoelhada) e um indígena com expressão pensativa observam a grande cena. Bela imagem de congraçamento, nessa releitura popular de inícios do século XX.


O ÓRFÃO DA NAÇÃO:
“O CÉU SABE O QUE FAZ”

Madrugada alta de 2 de dezembro de 1825. Nesse dia a corte do Rio de Janeiro acordou com o estrondo das salvas em fortalezas e navios. Nascera às duas e meia o príncipe herdeiro de todas as esperanças nacionais, ou ao menos das elites brasileiras, tão preocupadas com o fantasma do desmembramento do país.
Pedro de Alcântara João Carlos Leopoldo Salvador Bibiano Francisco Xavier de Paula Leocádio Miguel Gabriel Rafael Gonzaga era um nome tão grande quanto as aspirações que giravam em torno desse “pequeno príncipe” de 58 centímetros: o primeiro a nascer em território nacional. O imperador vinha ao mundo antes do menino, ou parafraseando Roberto Da Matta: “d. Pedro II não nasceu, foi fundado; tornou-se patrimônio nacional”; já nasceu como “um rei autóctone”.
O jornalista Pedro Plancher, do Spectador Brasileiro, na ocasião, apressava-se em vincular a data de nascimento do príncipe-herdeiro à sorte eminente: “A anarquia morreu na França no dia 2 de dezembro; a coroa de Carlos Magno vingou nesse dia os atrozes insultos feitos aos netos de Henrique IV. O céu sabe o que faz”.
O herdeiro do trono trazia no nome, assim como seu pai, a homenagem ao santo padroeiro: Pedro de Alcântara. A Casa de Bragança era devota de certos santos e entre eles estava esse, um santo de origem espanhola, sempre associado aos doentes e canonizado logo após a Contra-Reforma.
Antes mesmo do nascimento de Pedro II, estavam dadas as ordens para os procedimentos que participariam e festejariam a encarnação do primeiro príncipe brasileiro. Três tiros de foguete anunciariam a chegada de um menino; fosse menina, apenas dois. E nos dias seguintes, até o batizado, se fariam demonstrações festivas com repiques de sinos, salvas e luminárias. Desse modo, seria impossível ignorar que a monarquia instalada pelos portugueses em terras tropicais – recém-libertas de seu jogo colonizador pelo próprio príncipe português – se revigorava, ressurgindo num ad eternum e dessa vez muito bem enraizada. E apesar de já nascer sob uma monarquia constitucional, o menino herdeiro da Coroa era apresentado à nação justificado pela ação divina de míticos anjinhos.
Com efeito, a imperatriz d. Maria Leopoldina de Hadsburgo (arquiduquesa da Áustria e filha de Francisco I, imperador da Áustria) e d. Pedro I (da Casa Real Portuguesa de Bragança) já tinham quatro filhas e “imploraram aos céus” para que daquela vez viesse o tão esperado varão. Depositavam-se nele as esperanças de continuidade do recém-fundado Império.
Não eram poucas, portanto, as promessas atribuídas a essa personagem que teria sua vida toda coberta por uma aura mística, resultado de uma concepção divina herdada da monarquia medieval européia, mas, sobretudo, do contexto político e cultural local. Pela linha paterna, o príncipe imperial descendia de reis e antepassados ilustres, imortalizados pela prosa portuguesa. D. Pedro era o oitavo duque de Bragança, cuja família estava entrelaçada com os Capetos da França.
Pela linha materna, d. Pedro era ligado ao imperador Francisco I, da Alemanha, da Áustria, da Hngris e da Boêmia, ele mesmo filho de Leopoldo II, imperador da Alemanha e irmão de Maria Antonieta, mulher de Luís XVI. Descendia também de Francisco José, duque de Toscana, marido de Maria Teresa, imperatriz da Alemanha, da Áustria e da Boêmia. Sua genealogia – como aliás a de todos os monarcas – ia longe: chegava a Santo Estevão, rei da Hungria; a Filipe II, a Filipe IV; aos reis de Aragão e Castela, e aos reis da França.
Carregando a criança imperial, portanto, a herança dos Bourbon, dos Hadsburgo e dos Bragança, seu batizado cercou-se de uma mística incomum. Os “fantasmas” de tantos reis, imperadores e aventureiros, príncipes ilustrados, românticos ou melancólicos, acompanhariam a vida desse príncipe de tanta tradição européia, aliados ao imaginário local, impregnado pela lógica das festas populares, em que a realeza era quase um emblema.
Mas, já na primeira infância, a representação do “órfão da nação” começa a se delinear. Na verdade, se nos meses seguintes à independência d. Pedro I foi aclamado por conta de sua alta linhagem, juventude (o rei fora elevado ao trono com 24 anos) e até em virtude da virilidade, comprovada por suas histórias amorosas, essa situação iria logo se modificar. O Império não andava nada bem, entre outros motivos, por causa do voluntarismo do jovem imperador d. Pedro I, pai de Pedro de Alcântara. Os reflexos da imposição da constituição de 1824 se faziam sentir, sobretudo em razão do artigo 98, que criava ao lado dos Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário um quarto poder: “O poder moderador é a chave de toda organização política, e é delegado privativamente ao imperador como chefe supremo da nação e seu primeiro representante, para que, incessantemente, vele sobre a manutenção da independência, equilíbrio e harmonia dos demais poderes políticos”. [...]


Por outro lado, em relação a d.Pedro, começava a ficção de um menino de seis anos que permanecia sob a orientação de dirigentes e tutores. Transformado mais uma vez em órfão, o “pupilo da nação” teve que ser colocado em uma pequena bancada para que, assustado, pudesse observar a multidão que o aclamava. [...]


Como em um passe de mágica, a realidade virava mito e o mito realidade. É isso que deixam transparecer as biografias mais tradicionais, que descrevem a partida de D. Pedro I envolta em um clima de grande emoção, além de destacarem frases de efeito da jovem madrasta, d. Amélia, que entre lágrimas pedia “às mães brasileiras que cuidassem de seu pequeno, assim como zelavam por seus próprios filhos”, ou declamava: “Adeus querido imperador, vítima da tua grandeza antes que a saibas conhecer” (carta de 25 de abril de 183l). [...]


[...] O imperador iniciava sua vida cívica envolto de um suntuoso teatro, o da sua precoce maturidade. As roupas de adulto, os gestos maduros, as lições avançadas, a fama de filósofo, tudo contribuía para fazer do monarca um personagem excepcional, estranho a si mesmo. Talvez o momento em que essa situação se evidenciou de forma mais clara tenha sido o ritual de sagração e coroação de d. Pedro II, em 1841. Um espetáculo jamais visto estava para acontecer. Este deveria ser mesmo “memorável”, no sentido de imprimir uma memória; fazer guardar, por meio do ritual, o novo início de uma história cívica nacional. Nele, duas dimensões se manifestariam: o caráter estratégico imposto pelas elites, o lado maravilhoso e sacro que envolve a coroação dos reis.