20.3.11

O KARMA - PARTE 3/5

O essencial é não esquecer que o homem é quem gera o seu próprio karma, formando paralelamente as suas faculdades e as suas limitações, e que, trabalhando constantemente por meio das faculdades por ele creadas e sob o peso das limitações que a si mesmo impôs, permanece sempre um único individuo, alma viva dotada do poder de aumentar as suas faculdades ou diminuí-las, de ampliar as suas limitações ou restringi-las.
Ele mesmo forjou as cadeias que o prendem; mas pode lima-las até faze-las cair, ou fortalece-las cada vez mais.
Ele mesmo construiu a casa em que habita; pode, à vontade, embeleza-la ou deixa-la cair em ruínas ou reconstruí-la. Incessantemente trabalhamos na argila plástica que podemos modelar ao nosso sabor; mas a argila endurece e torna-se como o ferro, conservando a forma que já lhe havíamos dado.
É isto que exprime um provérbio do Hitopadesha, que Sir Edwin assim traduziu:
- Vede! A argila ao fogo endurece e torna-se ferro, mas o oleiro foi quem modelou a argila;
- O homem, ontem era senhor;
- O destino é hoje o único senhor.
Assim, somos todos senhores do nosso futuro, por mais obstáculos que encontremos no presente, fruto do passado.
Vamos agora retomar, na ordem indicada, as divisões estabelecidas mais acima, para facilitar o estudo do Karma.
Três classes de causas, exercendo os seus efeitos, duma parte, sobre o seu creador, por outra parte, sobre tudo o que sofre a sua influência. A primeira destas classes compõe-se de nossos pensamentos.
O pensamento é o mais importante fator na creação do Karma humano, porque manifesta a operação das energias do Ego na matéria mental, matéria cujas mais sutis modalidades formam o próprio veículo da individualidade e mesmo as mais grosseiras respondem com prontidão às menores vibrações do eu-consciência.
As vibrações que nós designamos sob o nome de pensamento, conseqüência direta da atividade do Pensador, dão nascimento a formas de substancia mental, ou imagens mentais, que modelam e organizam, como já tivemos ocasião de ver, o corpo mental do Pensador. Nenhum poder de raciocínio, nenhuma faculdade mental existe que não tenha sido creada pelo próprio homem, com o auxilio de pensamento pacientemente repetidos. Por outro lado, não há uma única das imagens mentais assim creadas que se perca; todas contribuem para a formação das faculdades. O agregado dum grupo qualquer de imagens mentais serve para construir uma faculdade correspondente, que se desenvolve em cada um dos pensamentos adicionais, isto é, cada vez que se cria uma imagem mental da mesma natureza. Conhecendo esta lei, o homem pode gradualmente construir para seu uso o caráter mental que deseja possuir; para isso pode operar com tanta precisão e certeza, como um pedreiro ocupado em levantar um muro de tijolos. A morte não interrompe a sua obra; ao contrário, libertando-o dos entraves do corpo, facilita o processo de assimilação das imagens mentais pelo próprio órgão a que chamamos faculdade. O homem traz consigo esta faculdade quando volta ao plano físico, ao renascer; uma grande parte do cérebro de seu novo corpo é organizada de modo a servir de órgão a esta faculdade (ver-se-á mais adiante como as coisas se passam neste momento). Todas estas faculdades, em seu conjunto, constituem o corpo mental com o qual começa a sua vida nova na terra. O seu cérebro e o seu sistema nervoso são conformados de modo a fornecer a este corpo mental os meios de expressão de que tem necessidade no plano físico. Assim, as imagens mentais creadas em uma vida aparecem como tendências ou inclinações mentais em vidas seguintes. Eis porque lemos em um dos Upanishads: “O homem é uma creatura da reflexão; naquilo em que medita ou pensa nesta vida, ele se torna na seguinte”.
Tal é a lei; ela coloca completamente em nossas mãos a edificação do nosso caráter mental. Se nós o construirmos bem, as vantagens e a honra revertem sobre nós; se o construirmos mal, os desgostos e a vergonha cairão sobre nós. O caráter mental é, portanto, um exemplo perfeito do karma individual, em sua ação sobre o indivíduo que o creou.

continua.

Nenhum comentário:

Postar um comentário