30.3.11

KAMALOKA - PARTE 3/5

A primeira divisão, a mais inferior, encerra as condições que respondem aos diferentes gêneros de “infernos” descritos em tantos livros santos, indus e budistas. É preciso compreender bem que o homem, ao passar de um a outro destes estados purgatoriais, não fica realmente desembaraçado das paixões e dos desejos vis que o conduziram lá. Semelhantes elementos persistem, porque são parte integrante de seu caráter, mas ficarão latentes, em estado de germens, no mental, para surgirem e formarem sua natureza passional quando novamente estiver prestes a renascer no mundo físico.
A sua permanência na mais baixa região do Kamaloka deve-se exclusivamente à presença, em seu corpo karmico, de uma grande proporção de matéria pertencente a esta região e ai fica prisioneiro até que a camada, que se compõe dessa matéria, esteja suficientemente desagregada para permitir ao homem entrar em contacto com a região imediatamente superior.
A atmosfera deste lugar é sombria, pesada, triste, deprimente em grau inconcebível; parece impregnada de todas as influencias mais opostas ao bem. Tal é o seu caráter essencial, gerado por todos os que são conduzidos a este triste lugar por suas más paixões. Todos os desejos, tidos os sentimentos tórridos encontram ali materiais apropriados à sua expressão. Ali nada falta do que pode existir no lugar mais infecto, onde, entretanto, não se levam em conta todos os horrores que se ocultam à vista física e que ali se mostram em sua hedionda nudez.
O caráter repelente desta região é largamente acrescido pelo fato da forma, no mundo astral, se adaptar ao caráter. O homem presa de paixões repugnantes mostra, portanto, o aspecto exato do que é. Os apetites bestiais dão ao corpo astral um aspecto bestial, e as formas hediondas e terríveis, semi-humanas e semi-animais são a expressão mais adequada das almas que se tornam semelhantes aos brutos.
Ninguém, no mundo astral, pode ser hipócrita nem dissimular seus maus pensamentos sob o véu de aparências virtuosas. Tudo que o homem é, manifesta em sua forma e seu aspecto exterior; irradiando beleza quando seus pensamentos são nobres; asqueroso e repelente, quando sua natureza é vil. Compreender-se-á facilmente porque os Mestres, tais como Buda, de visão infalível, para quem todos os mundos estão abertos, puderam descrever o que viam nestes infernos, numa linguagem de um realismo terrível, que, por vezes, parece incrível aos leitores de hoje, porque esquecem que as almas uma vez libertadas da matéria pesada e pouco plástica do mundo físico, aparecem sob a forma que lhes corresponde, tendo exatamente o aspecto do que na verdade são. Mesmo neste baixo mundo, um facínora vil apresenta um aspecto repugnante; - que devemos pois esperar com a matéria astral mais plástica, que se adapta à maior impulsão dos desejos criminosos? É, pois, natural que um tal homem revista forma horrível e se manifeste com um verdadeiro luxo de odiosas transformações.
Convém recordar que a população desses abismos do Kamaloka se compõem da escoria da humanidade: assassinos, bandidos, criminosos de todo gênero, bêbados, libertinos; em uma palavra, tudo que há de mais vil no gênero humano.
Tudo o que aqui se encontra, com a consciência exata do que o rodeia, é culpado de algum crime brutal, de alguma crueldade persistente e deliberada. As únicas pessoas de caráter mais elevado que se encontram aí são os suicidas, homens que, pondo fim aos seus dias, quiseram escapar à punição terrestre dos seus crimes. Assim agindo não fizeram senão agravar sua situação.
Nem todos os suicidas, porém, aí se encontram, porque o suicídio pode ser cometido por motivos bem diversos. Aí não se encontram senão os que covardemente se matam para evitar os conseqüências de suas próprias ações.
Independentemente do ambiente lúgubre e dos companheiros abjetos que ali existem, o homem é por si mesmo, o creador imediato de sua própria miséria. Não tendo sofrido outra mudança, senão a perda de seu véu corpóreo, manifesta suas paixões com toda a sua faculdade original e sua brutal nudez. Cheios de apetites ferozes e insaciáveis, inflamados pela vingança, pelo ódio, pelas concupiscências, que não podem satisfazer, por falta dos respectivos órgãos, as almas erram, furiosas e ávidas, através desta morada sombria. Elas se reúnem em torno dos piores lugares da terra, nas casas de deboche onde campeia o vício, a embriaguez, excitando os concurrentes destes lugares aos atos mais vergonhosos e a ações violentas, procurando ocasião favorável para os obsedar e conduzi-los aos piores excessos. A atmosfera sufocante que existe em torno destes lugares é em grande parte devida à presença destas entidades ligadas à terra, possuídas de paixões abjetas e desejos infames. Os médiuns, a não ser que eles tenham um caráter puro e nobre, são principalmente objeto de seus ataques. Frequentemente falhos de vontade, debilitados pelo abandono passivo de seu corpo à ocupação temporária de outras entidades desencarnadas, são facilmente obsedados por estes seres mãos e arrastados à intemperança e à loucura. Os assassinos executados, possuídos de terror, de ódios, de vingança insaciável, renovam sem cessar seu crime por um impulso maquinal, reproduzindo mentalmente os acontecimentos terríveis que o seguiram, envolvendo-se numa atmosfera de formas-pensamentos do crime. Estas, atraídas para quem alimente tais sentimentos de ódio ou vingança, incitam a cometer o crime, em que o morto pensava. Ver-se-á, às vezes, nesta região, o assassino constantemente seguido de sua vítima, a cuja angustiosa presença não pode subtrair-se, forma inerte que persegue seus passos com uma persistência inelutável, apesar dos esforços que faz para desembaraçar-se dela. A vítima, a menos que não seja de caráter vil, é inconsciente do fato, e esta inconsciência mesmo parece aumentar, para o culpado, o horror desta perseguição infernal.
É aqui que também encontramos o inferno do vivisector, porque a crueldade atrai ao corpo astral os materiais mais grosseiros e as mais repugnantes combinações da matéria astral... E a alma vive cercada pelas formas de suas vitimas mutiladas, gemedoras, trementes, lançando gritos, vivificadas, não pelas mesmas almas dos animais, mas pela vida elemental fremente de ódio contra os sacrifícios. Este repete suas piores experiências com uma regularidade automática, consciente de seu horror, imperiosamente levado a infligir de novo este tormento pelo hábito contraído em sua vida terrestre.
Antes de deixar a região sombria recordemos, mais uma vez, que não há aqui punição arbitrariamente infligida pelo exterior; mas unicamente o efeito inevitável de causas postas em ação pela própria ação.
Durante sua vida física estes homens cederam aos impulsos mais vis; atraíram e assimilaram em seu corpo astral materiais que unicamente podiam vibrar em resposta a estes impulsos. Agora, este corpo que eles mesmos construíram torna-se a prisão de sua alma e deve cair em ruínas antes que ele possa evadir-se.
O bêbado é forçado a viver, aqui em baixo, em seu corpo físico repelente, abrasado pelo álcool? A mesma lei o forçará a viver, em Kamaloka, em seu corpo astral não menos repelente. Tudo o que se semeia, se colhe segundo sua espécie, tal é a lei em todos os mundos, e nada pode a isto escapar. Na verdade, o corpo astral não é lá nem mais horrível nem mais nauseabundo que no tempo em que o homem vivia ainda na terra, onde tornava a atmosfera fétida em torno de si, por suas emanações astrais. Mas na terra as pessoas não percebem esta fealdade; porque astralmente são cegas.
E quando consideramos estes infelizes que são nossos irmãos, podemos nos consolar pensando que seus sofrimentos são apenas temporários e dão à vida da alma uma lição de que ela tem necessidade. Sob a reação terrível das leis da natureza que violou, aprende que estas leis existem e mostram a conduta do homem. A natureza nada nos poupa, mas, no final de tudo, suas lições são excelentes, porque asseguram a nossa evolução e conduzem a alma à conquista da imortalidade.

Continua.

28.3.11

KAMALOKA - PARTE 2/5

O homem espiritualmente desenvolvido, que purificou seu corpo astral até ficarem os respectivos elementos unicamente formados de materiais pertencentes às subdivisões mais sutis, - este homem apenas atravessa o Kamaloka sem ai se deter. Seu corpo astral se desvanece com extrema rapidez e sem demora alcança o lugar que o destino lhe assinala, de acordo com a sua evolução..
Um homem menos desenvolvido, mas cuja vida foi pura e sóbria, e que não se prendeu às coisas da terra, atravessará o Kamaloka num vôo menos rápido; sonhará pacificamente, inconsciente do que o rodeia, enquanto seu corpo mental vai abandonando sucessivamente as diferentes camadas astrais; e, ao atingir as camadas celestes, despertará finalmente.
Outros, menos desenvolvidos ainda, despertarão depois de terem atravessado as regiões inferiores do plano astral, readquirindo a consciência na divisão que corresponder à sua atividade consciente durante a vida terrestre, porque o sêr desperta ao contacto de impressões familiares, embora elas sejam agora recebidas diretamente pelo próprio corpo astral, sem o auxilio do físico. Aqueles que viveram no seio das paixões animais, despertam na região correspondente a estas paixões, pois cada homem se coloca exatamente “no lugar que ele mesmo escolheu”.
O caso da supressão brusca da vida física por acidente, suicídio, assassinato ou morte súbita, qualquer que seja ela, merece uma menção especial, porque difere da morte normal, conseqüência do esgotamento das energias vitais pela velhice ou pela doença. Si a vítima é pura e de tendências espirituais, será objeto de uma proteção especial e dormirá placidamente até o momento em que, em caso normal, deveria terminar sua existência física.
Mas, si a vítima não for pura, ficará consciente e incapaz de compreender que perdeu seu corpo físico e obsedada durante muito tempo pela cena fatal, impotente para se libertar dos seus horrores.
Durante todo este tempo a vitima permanecerá no plano astral com o qual merecer estar em contacto, conforme a zona mais exterior de seu corpo astral. Para qualquer dessas almas, a vida regular do Kamaloka só começa depois de esgotado o período que devêra durar sua existência terrestre; e é vivamente consciente aos objetos físicos e astrais que o cercam.
Um assassino, executado pelo seu crime, continua, segundo testemunho de um dos Mestres que instruiu Mme. Blavastky, vivendo e revivendo no Kamaloka a cena do assassinato e os acontecimentos subseqüentes, repetindo sem cessar o seu ato diabólico e novamente experimentando todos os terrores da sua prisão e da sua execução.
Do mesmo modo, o suicida reproduzirá automaticamente os sentimentos de desespero e de temor que precederem o seu crime e renovará quase indefinidamente, com uma persistência lúgubre, o ato fatal e a luta da agonia.Uma mulher morta nas chamas, tomada de um pavor louco, depois de esforços desesperados para escapar-se, creou um tal turbilhão de emoções tumultuosos que, cinco dias depois, ainda lutava loucamente, vendo-se sempre rodeada de chamas, e repelindo violentamente todos os esforços que faziam para acalma-la. Uma outra mulher, ao contrario, tragada pelas ondas numa tempestade, morreu tranquilamente e cheia de amor, comprimindo seu filhinho contra seu seio. Do outro lado da morte pôde ser observada, dormindo um sono pacifico, sonhando com seu marido e seus filhos, que lhe apareciam em visões felizes, tão perfeitas como a realidade.
Nos casos mais comuns, a morte por acidente é uma desvantagem real, resultado de alguma falta grave; pois que o fato de estar perfeitamente consciente nas regiões inferiores do Kamaloka, estreitamente ligadas à terra, traz consigo muitos inconvenientes e mesmo perigos. O homem fica absorto em projetos e nos interesses que o preocuparam durante a vida e tem consciência da presença das pessoas e coisas que se prendem a ele.
Sente-se quase irresistivelmente levado a fazer esforços para influir nos negócios e nas questões, aos quais suas paixões e seus sentimentos ainda se prendem.
Por seus desejos, liga-se ainda ao mundo físico, embora já tenha perdido todos os órgãos habituais de sua atividade. O único meio para alcançar a paz consistiria em se desviar resolutamente da terra e fixar seu pensamento em coisas mais altas; mas, o número dos que têm coragem para fazer este esforço é, comparativamente, diminuto, apesar dos socorros que lhe oferecem sempre os auxiliares invisíveis do plano astral, cuja tarefa consiste em ajudar e em guiar os que deixam este mundo. Na maioria das vezes estas almas sofredoras, incapazes de suportar sua inação forçada, procuram auxílio de um sensitivo, com o qual se possam comunicar, para ainda mais uma vez se ocuparem das preocupações terrestres.
As vezes também, obsedando algum médium disponível; esforçam-se em utilizar o seu corpo para seus próprios fins. Contraem assim grandes responsabilidades para o futuro.
Não é sem uma razão oculta que a Igreja nos ensina esta oração:

“Da batalha, do assassinato e de uma morte súbita, livrai-nos, Senhor!”

Podemos agora considerar uma a uma as subdivisões do Kamaloka, para formarmos uma idéia das condições que o homem prepara para si, neste estado intermediário, pelos desejos que alimenta durante sua vida física. Porque devemos nos recordar que a soma de vitalidade em uma qualquer das “camadas”, e por conseguinte a sua duração correspondente, depende da soma de energia comunicada durante a vida terrestre ao gênero de matéria astral que forma a natureza desta camada. Si as paixões mais baixas foram as mais ativas, a matéria astral mais grosseira está muito vitalizada e predomina pela quantidade. Este principio aplica-se através de todas as regiões do Kamaloka, de forma que o homem, durante sua própria vida, pode facilmente conceber previamente o futuro que lhe espera no dia seguinte à sua morte.

Continua.

24.3.11

KAMALOKA - Parte 1/5

Este termo, que literalmente significa o lugar ou a morada do desejo, serve para designar uma parte do plano astral, a região separada do restante deste plano, não tanto como uma localidade distinta, mas antes pelo estado de consciência especial dos seres que ai se encontram. Ela encerra os seres humanos privados de seus corpos físicos pela morte e destinados a sofrerem certas transformações purificadoras antes de poderem entrar na vida pacifica e feliz que pertence ao homem propriamente dito, isto é, à alma humana.
Esta região representa e engloba as condições atribuídas aos diferentes estados intermediários, infernos ou purgatórios, que todas as grandes religiões consideram como residência temporária do homem após o abandono de seu corpo físico e antes de atingir o “céu”. Não encerra nenhum lugar de tortura eterna, porque o inferno eterno, no qual acreditam alguns sectários de espírito estreito, não é mais que um pesadelo da ignorância, do ódio e do medo.
Mas esta região compreende, na verdade, condições de sofrimento, temporárias e purificadoras, efeitos de causas postas em ação pelo homem durante sua vida física. Tão naturais e tão inevitáveis são elas como as conseqüências dos nossos delitos e faltas neste mundo, pois que vivemos em um universo presidido por leis, em que todos os germens devem frutificar, tanto os bons como os maus. A morte em nada altera a natureza mental e moral do homem, e a mudança de estado que se dá na passagem de um mundo ao outro apenas elimina o corpo físico, sem tocar no restante de sua natureza.
O estado de Kamaloka se encontra em cada uma das subdivisões do plano astral, de forma que podemos considerar o Kamaloka como encerrando sete regiões, a que chamaremos primeira, segunda, terceira região, e assim sucessivamente até a sétima, contando de baixo para cima. Já vimos que entram na composição do corpo astral materiais tirados de todas as subdivisões do plano. Ora, é o arranjo, ou melhor, a disposição especial destes materiais que separa os homens retidos nas diversas regiões, ao passo que os de uma mesma região podem comunicar-se entre si. Esta disposição das camadas astrais será explicada mais tarde. As sete regiões, pertencentes às subdivisões correspondentes do plano astral, diferem em densidade, e a densidade da forma exterior da entidade purgatorial determina a região onde ela se encontra encerrada. São estas diferenças no estado da matéria que impedem a passagem duma região à outra. Os habitantes duma região não podem entrar em contato com os de outra região, assim como o peixe das maiores profundidades do oceano não pode conhecer a águia. O meio necessário à vida de um seria fatal à vida do outro.
Quando o corpo físico é abatido pela morte, o duplo etéreo, arrastando o Prana e acompanhado de todos os outros princípios – “homem completo, com exceção do corpo grosseiro” – retira-se do “tabernáculo de carne”, termo que designa admiravelmente o invólucro exterior do sêr. Todas as energias vitais que irradiavam para o exterior são reconduzidas para o interior e “recolhidas por Prana”; seu afastamento se manifesta pelo entorpecimento que invade os órgãos físicos dos sentidos. Os órgãos estão lá, como sempre, prestes a entrar em atividade. Mas o “sêr interior que governa” desprende-se daquele que por meio deles via, ouvia, tocava, sentia; e, entregues a si mesmos, não são mais que simples agregados de matéria, matéria viva, é verdade, mas sem nenhum poder de percepção. Lentamente o senhor do corpo se retira, encerrando no duplo etéreo e absorto na contemplação do panorama de sua vida passada, que se desenrola diante dele, na hora da morte, completo até aos menores detalhes.
Neste quadro estão todos os acontecimentos de sua vida, grandes e pequenos. Vê suas ambições realizadas ou falidas, seus esforços, triunfos, derrotas, amores, ódios. A tendência predominante do conjunto surge claramente; o pensamento diretor da vida se afirma e se imprime profundamente na alma, assinalando a região onde se passará a maior parte de sua existência póstuma. Solene é o momento em que o homem, frente a frente de sua vida, ouve sair dos lábios do seu passado o vaticínio de seu porvir.
Durante um breve espaço de tempo ele se vê tal qual é, reconhece o fim de sua vida e adquire a convicção que a Lei é poderosa, justa e boa. Em seguida o laço magnético entre o corpo grosseiro e o duplo etéreo se rompe; e assim se separam os dois associados de uma vida inteira; e, salvo casos excepcionais, o homem cai numa plácida inconsciência.
A calma e o respeito devem presidir a conduta de todos os que se aproximam do leito de um moribundo, afim de que um silêncio solene facilite à alma o exame de seu passado. Os gritos, as lamentações ruidosas produzem uma impressão penosa e podem perturbar sua atenção. Não deixa de ser um ato impertinente e egoísta interromper, pelo desgosto de uma perda pessoal, a calma que deve ajuda-lo e apazigua-lo.
A religião age sabiamente quando prescreve orações para os agonizantes. Estas orações mantém a calma e provocam aspirações desinteressadas que auxiliam o moribundo. Como todo o pensamento amante, contribuem para protege-lo e para defende-lo.
Algumas horas após a morte – (geralmente não excedem a trinta e seis) – o homem se retira do corpo etéreo. Este último, por sua vez abandonado como um cadáver inerte, permanece na vizinhança do cadáver grosseiro e partilha a mesma sorte que ele. Se o corpo grosseiro é enterrado, o duplo etéreo flutua acima do túmulo, desagregando-se lentamente; e a penosa impressão que muitas pessoas experimentam ao visitar os cemitérios é, em grande parte, devida à presença destes cadáveres etéreos em decomposição. Quando se queima o corpo, ao contrário, o duplo etéreo se dissolve rapidamente, porque perde seu ponto de apoio e seu centro de atração física.
Esta é uma das razões, entre muitas outras, para preferir-se à inumação a cremação, como meio de eliminar os veículos físicos.
O afastamento do homem de seu duplo etéreo é seguido da retirada de Prâna, que então volta ao grande reservatório da vida universal; ao passo que o sêr humano, prestes a passar ao Kamaloka, sofre uma recomposição de seu corpo astral, por meio da qual poderá submeter-se às transformações purificadoras de que o homem tem necessidade. Durante a vida terrestre os diversos estados da matéria astral se misturam, formando o corpo astral, como fazem os sólidos, os líquidos e os gases no interior do corpo físico. A recomposição do corpo astral em seguida à morte, comporta a separaçãp destes materiais, por ordem de densidade, em uma série de invólucros ou capas concêntricas, a mais sutil dentro e a mais grosseira por fora, sendo cada capa formada pela matéria de uma única subdivisão do plano astral. O corpo astral torna-se, portanto, um conjunto de sete camadas superpostas, um sétuplo estojo de substâncias astrais, onde o homem fica prisioneiro, pois que somente a ruptura destas camadas o tornará livre. Pode-se compreender agora a importância capital da purificação do corpo astral, durante a vida terrestre. O homem fica retido em cada uma dessas subdivisões do Kamaloka, até que o invólucro de matéria dessa subdivisão fique suficientemente desagregado para lhe permitir passar à subdivisão seguinte. Demais, conforme a atividade conscientemente empregada pelo sêr, durante sua vida, neste ou naquele estado de matéria astral, ele aí se encontrará desperto e consciente, na região que lhe corresponda depois da morte; ou melhor, ele aí fica inconsciente, “absorto em sonhos agradáveis” e retido durante o tempo necessário à desagregação mecânica do invólucro.

Continua.

20.3.11

O KARMA - PARTE 5/5

A terceira grande classe de energias manifesta-se no plano físico sob a forma de ações, produzindo grande parte do karma, por seus efeitos sobre o meio circundante, mas afetando pouco o homem interior. As ações são efeitos dos pensamentos e dos desejos do passado, e o Karma que elas representam fica na maior parte esgotado, à medida que se vão produzindo.
Podem afetar o homem indiretamente, porque podem despertar pensamentos novos, desejos e emoções mais vivos; mas é nestas atividades mais altas que se concentra a força geradora, e não nas próprias ações. É igualmente verdadeiro que as ações, frequentemente repetidas, produzem no corpo físico uma habito, cujo efeito é limitar a expressão do Ego no mundo exterior; mas este hábito não sobrevive ao corpo, e o Karma da ação, quanto ao seu efeito sobre a alma, fica assim restringido a uma única encarnação.
Mas tudo isto é diferente quando chegamos a estudar o efeito de nossas ações sobre o próximo. A felicidade e a desgraça de que são causa e a influência que exercem, pelo fato de serem exemplos, ligam-nos aos nossos semelhantes graças a esta influencia; e constituem, por conseqüência, um terceiro fator na determinação, no futuro, do nosso meio familiar. Duma maneira geral, o ambiente material favorável ou desfavorável em que viemos ao mundo, depende do efeito que nossas ações passadas exerceram no meio, levando os seres ou à felicidade ou à miséria. Os efeitos físicos produzidos sobre outrem por nossos atos físicos neutralizam-se na operação do Karma, envolvendo-nos de condições materiais boas ou más, para uma futura existência. Si tivermos dado aos homens a felicidade material, com o sacrifício de nossas riquezas, de nosso tempo ou de nossos esforços, esta ação nos será devolvida sob a forma de circunstancias felizes, que nos levam à felicidade material. Si formos para nossos semelhantes causa de uma miséria profunda, espalhando a ruína, recolheremos o Karma por meio de circunstancias físicas deploráveis, que levam ao sofrimento físico. Tanto em um, como outro caso, as conseqüências do ato físico são independentes do motivo do ato, o que nos conduz a considerar a segunda grande lei:

Cada força opera em seu próprio plano.

Si um homem semeia, no plano físico, a felicidade para os outros, colherá condições conducentes à sua própria felicidade neste plano; e o motivo que presidiu a sua ação não intervirá absolutamente no resultado. Um homem pode semear trigo com um fim de especulação para levar a ruína ao seu vizinho; mas o seu motivo perverso não fará nascer grama no lugar do trigo que ele semeou. O motivo é uma força mental ou astral, conforme procede da vontade ou do desejo, e, por conseqüência, reage sobre o caráter mental e moral ou sobre a natureza astral. A realização da felicidade física por uma ação é uma força física que opera sobre o plano físico. O homem, por suas ações, afeta seus semelhantes no plano físico; espalha em torno de si a felicidade ou a miséria; aumenta ou diminui a soma do bem-estar humano. Este acréscimo ou diminuição de bem-estar pode proceder de motivos muito diversos, bons, maus ou mistos. Um homem pode fazer uma ação que leve muito longe a felicidade, por uma simples boa vontade ou benevolência, por um ardente desejo de fazer o bem aos seus semelhantes. Suponhamos que, impulsionado por um tal motivo, faça presente dum parque à cidade para livre uso dos seus habitantes. Um outro pode executar o mesmo ato pelo desejo de atrair a atenção daqueles que concedem distinções sociais (por exemplo: obter um título de nobreza). Um terceiro, enfim, fará a mesma ação por motivo misto, parte por desinteresse. Parte por egoísmo. Os motivos afetarão respectivamente os caracteres destes três homens em suas futuras encarnações, para o bem, para o mal ou de maneira mista. Mas o efeito que esta ação produz, levando a alegria a um grande numero de seres, não depende do motivo do doador. O povo goza igualmente deste parque, qualquer que tenha sido a causa da doação; esta alegria, devida à ação do doador, dá a este sobre a natureza uma divida karmica, que lhe será escrupulosamente devolvida. Nascerá num meio confortável ou mesmo luxuoso, conforme a alegria que derramou; e o seu sacrifício de bens físicos facilitará a recompensa devida, o fruto karmico de sua ação. É este o seu direito. Mas o uso que fará de sua posição, a felicidade que encontrará em sua riqueza e no meio que o cerca, dependerão essencialmente do seu caráter; ainda mais uma vez receberá a devida recompensa, porque cada semente produz frutos segundo a sua espécie.
Na verdade os caminhos do Karma são justos. O Karma não recusa ao mau a exata recompensa duma ação benéfica; mas dá-lhe também o caráter aviltado que merece, por seus motivos perversos, de forma que, no meio de suas riquezas, permanece sombrio e descontente. O homem bom não escapará também do sofrimento físico si espalhar a miséria física por ações errôneas, embora procedentes dum bom motivo. A miséria que ocasionou ser-lhe-á devolvida, no futuro, pelo meio físico que o rodear; mas o seu motivo puro, enobrecendo o seu caráter, fará jorrar nele uma fonte de eterna felicidade, de forma que será paciente e sentir-se-á satisfeito no meio da própria desgraça. Inúmeros enigmas poderão ser resolvidos pela aplicação destes princípios aos fatos da vida corrente.
Esta diferença entre o efeito do motivo e o efeito da ação material é devida a este fato: “cada força possui os caracteres do plano onde foi produzida”.
Quanto mais elevado for o plano, mais poderosa e mais persistente será a força. O motivo é, pois, mais importante que a ação; e uma ação lamentável, nascida de um bom motivo, dá ao agente maior soma de felicidade do que uma ação benfazeja, procedente de um mau motivo. O motivo, reagindo sobre o caráter, dá nascimento a uma longa série de efeitos; porque as ações futuras, determinadas por este caráter, serão todas influenciadas por seu progresso ou por sua determinação. A ação, ao contrário, levando ao seu autor a felicidade ou a desgraça físicas, conforme o efeito por elas produzido sobre outrem, não possui em si nenhuma força geradora e se esgota por seu próprio efeito. Quando um conflito de deveres aparentes faz com que seja difícil reconhecer o caminho da justiça, o homem que conhece o Karma esforça-se por escolher a melhor estrada, tirando todo o partido possível de sua razão e seu critério.
Si for absolutamente escrupuloso quanto aos motivos, si afastar todas as considerações egoístas e purificar seu coração; si, em seguida, agir sem temor, mas si a ação se transformar em num erro, aceitará pacientemente o sofrimento dela resultante como uma lição que mais tarde frutificara. Mas, entrementes, aquele motivo digno enobrecerá para sempre o seu caráter.
Este principio geral, de que a força pertence ao plano no qual foi gerada, tem um alcance imenso. Si a força emitida tem por motivo a obtenção de objetos materiais, atua no plano físico e prende a este plano o seu creador; si visar objetos celestes, opera no plano devakhanico, ligando o seu autor a este plano; si não tem outro móvel a não ser a fonte de amor divino, é libertada no plano espiritual e não pode absolutamente ligar o individuo, porque este nada pediu.

Fim.

O KARMA - PARTE 4/5

Mas não é tudo. Este mesmo indivíduo que acabamos de considerar, age, pelo seu pensamento, sobre outros seres. Porque as imagens mentais construídas pelo seu próprio corpo mental dão nascimento, no espaço ambiente, a vibrações da mesma ordem; e assim se reproduzem em formas secundarias. Os pensamentos tendo, em geral, em sua composição, algum desejo, estas formas revestem-se, portanto, duma certa proporção de matéria astral; eis porque eu dou, alhures, a estas formas-pensamentos secundarias, o nome de imagens astro-mentais. E tais formas se destacam do ser que as creou, para ter uma existência pouco mais ou menos independente, permanecendo, contudo, em ligação com o ser por meio dum laço magnético. Entram em contacto com outros indivíduos, sobre que atuam, estabelecendo com isto laços karmicos entre estes e aquele. Influem, portanto, em larga escala, sobre o ambiente futuro do individuo considerado. Forjam-se assim laços que, em vidas ulteriores, vão atrair à mesma agremiação certas pessoas, ou para o bem ou para o mal, laços estes que formam os nossos parentescos, os nossos amigos e inimigos, colocando em nosso caminho os que são destinados a nos ajudar ou a nos dificultar, os nossos bem-feitores ou aqueles que nos procuram prejudicar.
Eis porque uns nos amam, sem que nesta vida tenhamos feito, para isso, coisa alguma; enquanto outros nos odeiam, sem que, também, fizéssemos qualquer coisa para merecer o ódio. O estudo destes resultados permite-nos formular um principio fundamental: “ao mesmo tempo que os nossos pensamentos, agindo sobre nós mesmos, geram nosso caráter mental e moral, servem também para determinar, pela sua ação sobre outrem, nossos futuros associados humanos”.
A segunda grande classe de energias destina-se a despertar a atração pelos objetos do mundo exterior: são os nossos desejos. Admitindo que entra nos desejos do homem um elemento mental, podemos ampliar o termo “imagens astrais”, até nele incluir os desejos, embora estes se manifestem, em sua maior parte, na matéria astral.
Os desejos, agindo sobre aquele que lhes deus nascimento, constroem e organizam o seu corpo de desejos, ou corpo astral; são a causa dos sofrimentos do homem em Kamaloka, depois da morte, e determinam, finalmente, a natureza do corpo astral na próxima encarnação. Quando os desejos são bestiais, intemperantes, cruéis, imundos, são causa fecunda de moléstias congênitas, de cérebros fracos e doentios, que produzem a epilepsia, a catalepsia e as desordens nervosas de toda espécie. Daí procedem as horríveis deformidades físicas, os vícios de conformação e, em casos extremos, as monstruosidades. Os apetites bestiais de natureza ou intensidade anormal podem estabelecer no astral laços que prendem em Kamaloka, por muito tempo, o Ego, cujo corpo astral contiver em si tais apetites, que são mais de natureza animal; e assim fica a reencarnação retardada. Quando o individuo escapa a uma tal sorte, o seu corpo astral de forma bestial deixa assinalados os seus caracteres no corpo físico da criança em formação durante o período pré-natal. Tal é a origem dos monstros semi-humanos que vêem ao mundo, de tempos a tempos.
Os desejos, forças de exteriorização que se prendem aos objetos externos, - atraem sempre o homem para um meio onde possam encontrar satisfação. O desejo das coisas terrestres prende a alma ao mundo exterior, atraindo-a para o lugar em que estes objetos ambicionados sejam fáceis de obter. Eis porque se diz que o homem nasce segundo os seus desejos. Os desejos são uma das causas determinantes do lugar da reencarnação.
As imagens astro-mentais procedentes dos desejos exercem sobre nossos semelhantes uma ação análoga às imagens da mesma natureza, produzidas por nossos pensamentos. Os desejos, pois, nos ligam às outras almas. E nos ligam muitas vezes por laços poderosos de amor e de ódio; porque, no grau atual da evolução, os desejos dum homem ordinário são geralmente mais fortes e mais firmes do que os seus pensamentos. Representam, portanto, um grande papel na determinação do meio familiar nas vidas futuras e podem levar o homem ao encontro de certas pessoas e influencias, sem que possa suspeitar das relações que existem entre si mesmo e elas. Suponhamos que um homem, ao emitir um pensamento ardente de vingança e ódio, tenha contribuído para impulsionar outro homem a um assassinato. O creador deste pensamento está ligado por seu karma ao autor do crime, muito embora jamais se tenham encontrado no plano físico; e o mal feito a este homem, compelindo-o ao crime, resgata-lo-a sob a forma de algum prejuízo, em que o criminoso de outrora terá o seu papel importante. Muitas vezes uma desgraça inesperada e fulminante, totalmente imerecida na aparência, é o efeito duma causa dessa natureza; e, enquanto a consciência inferior se revolta sob o sentimento duma injustiça, a própria alma aprende uma lição que jamais esquecerá. Nada de injusto pode ferir o homem; a sua falta de memória não é suficiente para invalidar a lei.
Aprendemos, portanto, que os nossos desejos, em sua ação sobre nós mesmos, formam a nossa natureza astral e influem poderosamente, por meio dela, sobre o corpo físico de nossa próxima encarnação e representam um papel importante na determinação do nosso lugar de nascimento; e finalmente, pela sua ação sobre outrem, concorrem para atrair em torno de nós, em alguma vida futura, seres humanos com os quais seremos associados.

CONTINUA.

O KARMA - PARTE 3/5

O essencial é não esquecer que o homem é quem gera o seu próprio karma, formando paralelamente as suas faculdades e as suas limitações, e que, trabalhando constantemente por meio das faculdades por ele creadas e sob o peso das limitações que a si mesmo impôs, permanece sempre um único individuo, alma viva dotada do poder de aumentar as suas faculdades ou diminuí-las, de ampliar as suas limitações ou restringi-las.
Ele mesmo forjou as cadeias que o prendem; mas pode lima-las até faze-las cair, ou fortalece-las cada vez mais.
Ele mesmo construiu a casa em que habita; pode, à vontade, embeleza-la ou deixa-la cair em ruínas ou reconstruí-la. Incessantemente trabalhamos na argila plástica que podemos modelar ao nosso sabor; mas a argila endurece e torna-se como o ferro, conservando a forma que já lhe havíamos dado.
É isto que exprime um provérbio do Hitopadesha, que Sir Edwin assim traduziu:
- Vede! A argila ao fogo endurece e torna-se ferro, mas o oleiro foi quem modelou a argila;
- O homem, ontem era senhor;
- O destino é hoje o único senhor.
Assim, somos todos senhores do nosso futuro, por mais obstáculos que encontremos no presente, fruto do passado.
Vamos agora retomar, na ordem indicada, as divisões estabelecidas mais acima, para facilitar o estudo do Karma.
Três classes de causas, exercendo os seus efeitos, duma parte, sobre o seu creador, por outra parte, sobre tudo o que sofre a sua influência. A primeira destas classes compõe-se de nossos pensamentos.
O pensamento é o mais importante fator na creação do Karma humano, porque manifesta a operação das energias do Ego na matéria mental, matéria cujas mais sutis modalidades formam o próprio veículo da individualidade e mesmo as mais grosseiras respondem com prontidão às menores vibrações do eu-consciência.
As vibrações que nós designamos sob o nome de pensamento, conseqüência direta da atividade do Pensador, dão nascimento a formas de substancia mental, ou imagens mentais, que modelam e organizam, como já tivemos ocasião de ver, o corpo mental do Pensador. Nenhum poder de raciocínio, nenhuma faculdade mental existe que não tenha sido creada pelo próprio homem, com o auxilio de pensamento pacientemente repetidos. Por outro lado, não há uma única das imagens mentais assim creadas que se perca; todas contribuem para a formação das faculdades. O agregado dum grupo qualquer de imagens mentais serve para construir uma faculdade correspondente, que se desenvolve em cada um dos pensamentos adicionais, isto é, cada vez que se cria uma imagem mental da mesma natureza. Conhecendo esta lei, o homem pode gradualmente construir para seu uso o caráter mental que deseja possuir; para isso pode operar com tanta precisão e certeza, como um pedreiro ocupado em levantar um muro de tijolos. A morte não interrompe a sua obra; ao contrário, libertando-o dos entraves do corpo, facilita o processo de assimilação das imagens mentais pelo próprio órgão a que chamamos faculdade. O homem traz consigo esta faculdade quando volta ao plano físico, ao renascer; uma grande parte do cérebro de seu novo corpo é organizada de modo a servir de órgão a esta faculdade (ver-se-á mais adiante como as coisas se passam neste momento). Todas estas faculdades, em seu conjunto, constituem o corpo mental com o qual começa a sua vida nova na terra. O seu cérebro e o seu sistema nervoso são conformados de modo a fornecer a este corpo mental os meios de expressão de que tem necessidade no plano físico. Assim, as imagens mentais creadas em uma vida aparecem como tendências ou inclinações mentais em vidas seguintes. Eis porque lemos em um dos Upanishads: “O homem é uma creatura da reflexão; naquilo em que medita ou pensa nesta vida, ele se torna na seguinte”.
Tal é a lei; ela coloca completamente em nossas mãos a edificação do nosso caráter mental. Se nós o construirmos bem, as vantagens e a honra revertem sobre nós; se o construirmos mal, os desgostos e a vergonha cairão sobre nós. O caráter mental é, portanto, um exemplo perfeito do karma individual, em sua ação sobre o indivíduo que o creou.

continua.

19.3.11

O KARMA - PARTE 2/5

Aqui ainda o ignorante é escravo e o sábio é rei. Aqui ainda a inviolabilidade, a imutabilidade, consideradas, à primeira vista, como devendo paralisar todo o esforço, são em seguida reconhecidas como condições indispensáveis dum progresso certo e duma organização esclarecida, no futuro. Se o homem pode tornar-se senhor do seu destino, é unicamente porque este destino jaz em um domínio de leis, onde a inteligência pode edificar uma ciência da alma e colocar nas mãos do homem o poder de reger o seu futuro, determinando igualmente o seu futuro caráter e suas circunstancias futuras. O conhecimento da Lei do Karma, que parece conduzir a uma paralisia do esforço, torna-se uma força inspiradora, um sustentáculo, uma alavanca, com o auxílio da qual o homem consegue elevar-se.
Karma é, portanto, a lei da causalidade, a lei de causa e efeito. Ela foi formalmente enunciada pelo Iniciado cristão São Paulo. “Não vos enganeis: Deus não se deixa escarnecer; porque tudo que o homem semear, colherá.” Epistola aos Gálatas, VI, 7.
O homem emite, continuamente, forças em todos os planos em que atua; e estas forças são por si mesmas, quantitativa e qualitativamente, efeitos de sua atividade passada, sendo ao mesmo tempo causas que ele põem em ação em cada um dos mundos que habita. Produzem certos efeitos determinados, tanto sobre o próprio homem como sobre os outros; e, à medida que estas causas, que nascem do homem como centro, irradiam sobre todo o campo de sua atividade, ele não deixa de ser responsável pelos resultados por elas gerados. Assim como o imã possui um “campo magnético”, espaço no qual todas as forças entram em ação, grandes ou pequenas, conforme a própria potencia, assim também cada homem possui um campo de influencia, onde agem as forças por ele emitidas. Esta forças transmitem-se em linhas curvas, que se voltam para aquele que as emite, atingindo o centro donde emanaram.
Este assunto sendo de extrema complexidade, nós o subdividiremos para mais facilmente o estudarmos, parte por parte.
Em sua vida ordinária o homem emite três gêneros de energia, pertencentes respectivamente aos três mundos que ele habita. No plano mental, as energias mentais dão nascimento às causas que chamamos pensamentos.
No plano astral, as energias astrais geram as causas a que chamamos desejos.
Finalmente, no plano físico, as energias físicas são suscitadas pelas precedentes e designadas sob o nome de ações. Compete-nos estudar sucessivamente estes três gêneros de energias em suas operações e compreender os três gêneros de efeitos que elas produzem respectivamente, si quisermos perceber com inteligência o papel que representa cada uma destas categorias de forças, nas combinações tão complexas por nós postas em ação, e que podem ser chamadas em seu conjunto “nosso karma”. Quando um homem, ao adiantar-se aos seus semelhantes, obtém o poder de funcionar em planos mais elevados, torna-se um centro de forças superiores. Mas, por enquanto, podemos deixar de lado estas forças de ordem espiritual, para nos limitar à humanidade ordinária, que executa o seu ciclo de reencarnação nos três mundos.
Devemos sempre lembrar-nos que cada força age em seu próprio plano e reage nos planos inferiores, proporcionalmente à sua intensidade.
O plano no qual é produzido dá-lhe os seus característicos especiais e, reagindo sobre os planos inferiores, provoca vibrações na matéria mais ou menos sutil ou grosseira destes planos, de acordo com a sua própria natureza original. É o motivo gerador da atividade que determina o plano no qual a forma é emitida.
Em seguida é necessário distinguir entre o karma maduro, isto é, prestes a manifestar-se na vida presente, sob a forma de acontecimentos inevitáveis; o karma do caráter, que se manifesta pelas tendências resultantes da experiência acumulada, e suscetíveis de ser modificados na vida presente pelo próprio poder (o Ego) que as creou no passado; e, finalmente, o karma atualmente em via de formação, destinado a influir no caráter futuro e acontecimentos posteriores.
Demais, devemos levar em conta o fato de que, na determinação mesma de seu karma individual, o homem estabelece relações com outros seres. Entra na composição de grupos diversos – raça, nação, família, - e participa, como membro, do karma coletivo de cada um desses grupos.
Desde então se concebe que o karma oferece um assunto de estudo de extrema complexidade. Apesar disto, os princípios fundamentais de seu modo de operar, expostos acima, bastam para nos dar uma idéia coerente, de alcance geral.
Os detalhes poderão ser estudados mais demoradamente cada vez que a ocasião se apresentar; por agora, não nos devemos preocupar com eles.

Continua.

13.3.11

O KARMA - PARTE 1/5

Karma é um termo sânscrito que significa literalmente “ação”. Admitindo que toda a ação deriva, como efeito, de causas anteriores, e que cada efeito se torna, por sua vez, causa de efeitos futuros, esta noção de causa e efeito é um elemento essencial na idéia de ação. Eis porque o termo ação, ou karma, é empregado no sentido de “causalidade” e designa a série ininterrupta, o encadeamento das causas e efeitos de que se compõe toda a atividade humana. Daí a frase que muitas vezes empregamos ao falar dum acontecimento: “é meu karma”, isto é, “este acontecimento é o efeito de uma causa posta em jogo por mim no passado”. Nenhuma existência está isolada; cada vida é o fruto de todas as que a precederam, o gérmen de todas as que vão seguir-se, no conjunto total das vidas de que se compõem a existência contínua da individualidade humana. Não existe nem o “acaso” nem o “acidente”; cada acontecimento está ligado às causas antecedentes e aos efeitos subseqüentes; pensamentos, ações, circunstancias, procedem do passado e influem no futuro. Envolvidos num véo de espessa ignorância que, simultaneamente, nos oculta o passado e o futuro, os acontecimentos nos parecem sair de repente do nada e ser “acidentais”; mas esta aparência é ilusória e procede exclusivamente do nosso limitado saber. Assim como o selvagem, que ignora as leis do universo físico, considera os acontecimentos naturais como destituídos de causas e admite como “milagres” as operações das leis físicas desconhecidas, assim também a grande maioria dos homens, ignorando as leis mentais e morais, considera os acontecimentos mentais e morais como destituídos de causas e admite a ação das leis desconhecidas, mentais e morais, como sendo a boa ou má “fortuna”.
Quando, pela primeira vez, surgiu no horizonte do pensamento humano esta idéia duma lei inviolável, imutável, em um domínio até então vagamente atribuído ao acaso, nasceu para muitos um sentimento de impotência, quase de paralisia mental e moral. O homem sente-se preso pela mão de ferro dum destino inflexível, e o “kismet” resignado do muçulmano parece ser a única formula filosófica possível. É esta a sensação que experimenta o selvagem quando a sua inteligência, aturdida, surpreende-se ao conceber, pela primeira vez, a idéia duma lei física; quando compreende que cada movimento de seu corpo e todos os movimentos da natureza exterior se executam sob a ação de leis imutáveis. Mas, depois percebe, pouco a pouco, que as leis naturais não fazem senão apresentar, ou por outras palavras, expor as condições indispensáveis a toda a ação, sem para isto prescreverem a própria ação; de forma que o homem, no meio delas, permanece livre, embora limitado em suas atividades exteriores, pelas condições do plano sobre que atua. Compreende mais que as condições que o reduzem à impotência, anulando seus mais intrépidos esforços, enquanto as ignora ou enquanto, conhecendo-as, as combate; tornam-se suas escravas e suas auxiliares desde que as compreende e lhes sabe determinar a direção e calcular o poder.
Na verdade, se a Ciência é possível no plano físico, é porque as leis deste plano são invioláveis e imutáveis. Se não existissem leis naturais, Ciência nenhuma poderia existir. Um investigador faz um certo numero de experiências com o fim de saber como a natureza opera. Uma vez adquirido este conhecimento, o investigador pode tomar as disposições requeridas para conduzir a um determinado resultado. Se nada conseguir, sabe que foi por ter esquecido alguma condição necessária: ou, então, porque o seu conhecimento das leis é ainda imperfeito, ou por se ter enganado em seus cálculos. Volta aos seus estudos, retifica o seu método, retoma seus cálculos com toda serenidade, perfeitamente convencido que, a toda pergunta bem feita, a natureza deve responder com invariável precisão. O hidrogênio e o oxigênio não lhe dão hoje água e amanhã acido prussico; e o fogo que o queima hoje, não o gelará amanhã. Se a água pode ser liquida hoje e sólida amanhã, é porque as condições do meio foram alteradas; o restabelecimento das condições originais dar-nos-á o resultado positivo.
Cada nova informação obtida, com relação às leis da natureza, constitui não uma restrição nova, mas um poder novo. Porque todas as energias da natureza se tornam forças utilizáveis nas mãos do homem, à medida que ele consegue compreende-las. Daí o provérbio: “saber é poder”, porque o uso que se pode fazer das forças depende do conhecimento que delas se tem. Escolhendo as que deseja utilizar, equilibrando-as entre si, neutralizando as energias contrarias que impedem seus desígnios, o sábio pode previamente determinar o resultado, provocando a realização do que calculou. Compreendendo e manipulando as causas, pode predizer os efeitos.
Assim a rigidez da natureza, que, à primeira vista, parece paralisar a ação do homem, pode ser empregada por ele em produzir resultados infinitamente variados.
A fixidez perfeita de cada força, considerada isoladamente, torna possível a perfeita flexibilidade de suas combinações. Porque as forças sendo de toda a espécie, movendo-se em todas as direções e todas calculáveis, pode ser feita entre elas uma cuidadosa escolha, e as forças escolhidas, combinadas de maneira a produzir qualquer resultado desejado. Uma vez que determinamos obter um certo resultado, basta para o alcançar fazer uma ponderação metódica das forças, causa da combinação escolhida. Mas devemos ter sempre presente que, para dirigir os acontecimentos que devem produzir o resultado visado, é necessário o conhecimento. O ignorante caminha tropeçando, impotente, chocando-se com as leis naturais imutáveis e vendo falirem todos os seus esforços; enquanto o homem de saber vai metodicamente para a frente, previdente, despertando certos efeitos, impedindo outros, ajustando todas as coisas, realizando enfim seus desígnios não porque tem sorte, mas porque tudo compreende.
Um é o joguete, o escravo da natureza, arrastado ao sabor das forças imutáveis; o outro é o senhor delas, utilizando as energias cósmicas para as conduzir para onde a sua vontade determina.
O que é verdade para o domínio da lei física, é igualmente verdadeiro no mundo moral e no mundo mental, mundos estes regidos também por leis.

Continua.

12.3.11

QUAL A MELHOR RELIGIÃO ?

Breve diálogo entre o teólogo brasileiro Leonardo Boff e o Dalai Lama.
Leonardo Boff explica:

"No intervalo de uma mesa-redonda sobre religião e paz entre os povos na qual ambos (eu e o Dalai Lama) participávamos eu, maliciosamente, mas também com interesse teológico lhe perguntei em meu inglês capenga:
"Santidade, qual é a melhor religião?" (Your holiness, what`s the best religion?)
Esperava que ele dissesse:
"É o budismo tibetano" ou "São as religiões orientais, muito mais antigas do que o cristianismo.."
O Dalai Lama fez uma pequena pausa, deu um sorriso, me olhou bem nos olhos o que me desconcertou um pouco, por que eu sabia da malícia contida na pergunta e afirmou:
"A melhor religião é a que mais te aproxima de Deus, do Infinito". É aquela que te faz melhor."
Para sair da perplexidade diante de tão sábia resposta, voltei a perguntar:
"O que me faz melhor?"
Respondeu ele:
"Aquilo que te faz mais compassivo" (e aí senti a ressonância tibetana, budista, taoísta de sua resposta), aquilo que te faz mais sensível, mais desapegado, mais amoroso, mais humanitário, mais responsável... Mais ético...
A religião que conseguir fazer isso de ti é a melhor religião...."
Calei, maravilhado, e até os dias de hoje estou ruminando sua resposta sábia e irrefutável....
Não me interessa amigo, a tua religião ou mesmo se tem ou não tem religião.
O que realmente importa é a tua conduta perante o teu semelhante, tua família, teu trabalho, tua comunidade, perante o mundo...

Lembremos:

"O Universo é o eco de nossas ações e nossos pensamentos".
A Lei da Ação e Reação não é exclusiva da Física. Ela está também nas relações humanas. Se eu ajo com o bem, receberei o bem. Se ajo com o mal, receberei o mal.
Aquilo que nossos avós nos disseram é a mais pura verdade: "terás sempre em dobro aquilo que desejares aos outros".
Para muitos, ser feliz não é questão de destino. É de escolha.

Pense nisso.

4.3.11

ELEMENTAIS ARTIFICIAIS - PARTE 2/2

ELEMENTAIS ARTIFICIAIS – PARTE 2/2

Nos homens de médio desenvolvimento, os elementais artificiais creados pelo sentimento ou pelo desejo, são mais vigorosos e mais nítidos que os creados pelo pensamento. Assim uma explosão de cólera dá uma poderosa fulguração vermelha, de perfeita conformação, e uma cólera mantida, alimentada durante muito tempo, cria um perigoso elemental vermelho, ponteagudo, pronto para fazer o mal. O amor, conforme sua qualidade, determina formas mais ou menos admiráveis, quanto à coloração e quanto ao desenho, podendo afetar todos os tons desde o carmim até os matizes mais delicados e mais doces do rosa, semelhantes aos pálidos fulgores de um crepúsculo ou da aurora, nuvens confusas de formas protetoras ternas e fortes. Muitas vezes as preces ardentes de uma mãe vão pairar, como formas angelicais, em redor do filho, desviando dele as influências perniciosas que os próprios pensamentos possam lhe atrair.
Um traço característico destes elementais é que, dirigidos pela vontade para uma certa pessoa, vão animados, pela natural tendência própria, de executar a vontade do seu creador. Um elemental protetor esvoaça em torno de seu objeto, procurando todas as ocasiões para desviar o mal e atrair o bem. Na sua natural inconsciência, segue maquinalmente a impulsão da vontade que o produziu, como se aí encontrasse uma linha de menor resistência.
Assim também, um elemental animado por um pensamento maligno irá corvejar em torno da vítima, procurando a ocasião favorável para prejudica-la. Mas nenhum deles produzirá a necessária impressão si, no corpo astral da pessoa para quem se dirigem, não houver elementos suscetíveis de vibrar de acordo com eles,, permitindo assim que eles se fixem. Se, nesta pessoa não encontram matéria análoga à sua, então, por uma lei de sua própria natureza, recuam e voltam ao longo da trajetória já percorrida, seguindo o traço magnético que deixaram para atraz de si, e lançam-se sobre o seu próprio creador com uma força proporcional à de sua projeção.
Conhecem-se casos em que o pensamento de ódio mortal, não podendo atingir àquele para quem era dirigido, causou a morte do homem que o emitiu. Em compensação, pensamentos de bondade dirigidos a uma pessoa indigna recaem como uma benção sobre o sêr que os produziu.
A compreensão, embora rudimentar, do mundo astral, agirá como um poderoso estimulante dos bons pensamentos. Desperta em nós o sentimento de pesada responsabilidade com relação aos pensamentos, às emoções e aos desejos que pomos em liberdade nesta região.

2.3.11

ELEMENTAIS ARTIFICIAIS - PARTE 1/2

É necessário uma certa dose de experiência para ver corretamente os objetos; e quem desenvolve a visão astral sem estar ainda exercitado no seu emprego, verá tudo completamente invertido, cometendo os maiores disparates.
Outra característica notável, que muitas vezes desconcerta o principiante, é a rapidez com que as formas astrais mudam seus contornos, sobretudo quando elas não estão em relação com nenhuma matriz terrestre.
Uma entidade astral pode modificar seu aspecto completamente com a mais espantosa rapidez, porque a matéria astral toma formas diversas a cada emissão do pensamento, e a vida remodela a cada instante estas formas, para lhes dar novas expressões.
Quando a grande vaga de vida da evoluçãp da forma atravessa de cima para baixo o plano astral, constituindo neste plano o terceiro reino elemental, a Monada atrai em torno de si combinações de matéria astral, e dá a estas combinações (conhecidas pelo nome de essência elemental) uma vitalidade particular, e a propriedade característica de tomar forma instantaneamente, sob a impulsão das vibrações mentais. Esta essência elemental forma inúmera variedades em cada subdivisão do plano astral. Pode-se fazer dela uma idéia supondo que o ar tenha se tornado visível (fenômeno que os grandes calores conseguem produzir tornando a atmosfera perceptível sob a forma de ondas vibrantes) e que nos apareça animado dum movimento ondulatório continuo., revestido de cores cambiantes como as da madrepérola. Esta vasta atmosfera de essência elemental responde continuamente às vibrações do pensamento, do sentimento e do desejo.
As formas ai surgem sob a impulsão destas forças como as bolhas na água fervente.
A duração da forma assim gerada depende da força de impulsão inicial que lhe deu nascimento; a perfeição dos seus contornos depende da precisão do pensamento; e sua coloração varia segundo a qualidade do pensamento (intelectual, devocional, passional, etc.).
Os pensamentos vagos e sem consistencia que as inteligências pouco desenvolvidas geram a cada instante, se reúnem em torno delas como nuvens difusas de essência elemental, quando atingem o mundo astral. Ai vagueiam sem direção, atraídos ora para aqui, ora para lá, por outras nuvens de natureza análoga, aderindo ao corpo astral das pessoas cujo magnetismo, bom ou mau, as atrai; finalmente se dissolvem após certo tempo para voltar novamente à grande atmosfera da essência elemental. Enquanto conservam sua existência separada, são entidades vivas, tendo para corpo a essência elemental, e para a vida animadora um pensamento. Dá-se-lhes então o nome de elementais artificiais ou formas-pensamentos.
Os pensamentos claros e precisos têm formas definidas, de contornos firmes e seu aspecto pode variar ao infinito.
Estas formas são modeladas pelas vibrações do pensamento duma maneira análoga às figuras que encontramos no plano físico e que são determinadas pelas vibrações do som. As “figuras vocais” oferecem uma grande analogia entre si, porque a natureza, não obstante a sua infinita variedade, é, no tocante a princípios, verdadeiramente econômica; e reproduz os mesmos processos operatórios sobre todos os planos sucessivos do seu império.
Estes elementais artificiais, nitidamente delimitados, têm vida mais longa e mais ativa que seus irmãos nebulosos, e exercem uma ação muito mais poderosa sobre o corpo astral (e através deste sobre o mental) daqueles para os quais são atraídos. Pelo seu contacto despertam vibrações similares às suas, e os pensamentos se transmitem assim de inteligência à inteligência, sem nenhuma necessidade de expressão física. Ainda mais, podem ser dirigidos pelo pensador para a pessoa a quem ele deseja atingir, e a intensidade deles depende da força de vontade e de energia mental do pensador.

SENTIMENTO DA REALIDADE

O nosso sentimento da realidade neste mundo material é totalmente ilusório. Nada conhecemos da verdadeira natureza dos objetos e dos seres; mas, apenas, as impressões que produzem sobre nossos sentidos, e deduzimos conclusões, quase sempre errôneas, do conjunto dessas impressões.
Comparai uma a uma as idéias que de um homem fazem seu pai, seu mais intimo amigo, a filha que o adora, seu maior inimigo e um conhecido qualquer; e vede quanto estas imagens são disparatadas. Cada uma dessas pessoas apenas sente e transmite a impressão produzida sobre seu próprio espírito, e quanto estas impressões diferem do homem real, visto em seu interior, pelos olhos que atravessam todos os véus! De cada um de nossos amigos conhecemos a impressão que produz sobre nós e esta impressão é estritamente limitada por nossa faculdade de perceber. Uma criança pode ter por pai um grande homem de Estado, dotado de imenso talento, com projetos sublimes; mas este guia dos destinos de uma nação não é para o filho senão o seu alegre companheiro de brinquedos, um meigo contador de histórias. Nós vivemos na ilusão, mas temos o sentimento da realidade, e isto basta para nos contentar.