24.3.11

KAMALOKA - Parte 1/5

Este termo, que literalmente significa o lugar ou a morada do desejo, serve para designar uma parte do plano astral, a região separada do restante deste plano, não tanto como uma localidade distinta, mas antes pelo estado de consciência especial dos seres que ai se encontram. Ela encerra os seres humanos privados de seus corpos físicos pela morte e destinados a sofrerem certas transformações purificadoras antes de poderem entrar na vida pacifica e feliz que pertence ao homem propriamente dito, isto é, à alma humana.
Esta região representa e engloba as condições atribuídas aos diferentes estados intermediários, infernos ou purgatórios, que todas as grandes religiões consideram como residência temporária do homem após o abandono de seu corpo físico e antes de atingir o “céu”. Não encerra nenhum lugar de tortura eterna, porque o inferno eterno, no qual acreditam alguns sectários de espírito estreito, não é mais que um pesadelo da ignorância, do ódio e do medo.
Mas esta região compreende, na verdade, condições de sofrimento, temporárias e purificadoras, efeitos de causas postas em ação pelo homem durante sua vida física. Tão naturais e tão inevitáveis são elas como as conseqüências dos nossos delitos e faltas neste mundo, pois que vivemos em um universo presidido por leis, em que todos os germens devem frutificar, tanto os bons como os maus. A morte em nada altera a natureza mental e moral do homem, e a mudança de estado que se dá na passagem de um mundo ao outro apenas elimina o corpo físico, sem tocar no restante de sua natureza.
O estado de Kamaloka se encontra em cada uma das subdivisões do plano astral, de forma que podemos considerar o Kamaloka como encerrando sete regiões, a que chamaremos primeira, segunda, terceira região, e assim sucessivamente até a sétima, contando de baixo para cima. Já vimos que entram na composição do corpo astral materiais tirados de todas as subdivisões do plano. Ora, é o arranjo, ou melhor, a disposição especial destes materiais que separa os homens retidos nas diversas regiões, ao passo que os de uma mesma região podem comunicar-se entre si. Esta disposição das camadas astrais será explicada mais tarde. As sete regiões, pertencentes às subdivisões correspondentes do plano astral, diferem em densidade, e a densidade da forma exterior da entidade purgatorial determina a região onde ela se encontra encerrada. São estas diferenças no estado da matéria que impedem a passagem duma região à outra. Os habitantes duma região não podem entrar em contato com os de outra região, assim como o peixe das maiores profundidades do oceano não pode conhecer a águia. O meio necessário à vida de um seria fatal à vida do outro.
Quando o corpo físico é abatido pela morte, o duplo etéreo, arrastando o Prana e acompanhado de todos os outros princípios – “homem completo, com exceção do corpo grosseiro” – retira-se do “tabernáculo de carne”, termo que designa admiravelmente o invólucro exterior do sêr. Todas as energias vitais que irradiavam para o exterior são reconduzidas para o interior e “recolhidas por Prana”; seu afastamento se manifesta pelo entorpecimento que invade os órgãos físicos dos sentidos. Os órgãos estão lá, como sempre, prestes a entrar em atividade. Mas o “sêr interior que governa” desprende-se daquele que por meio deles via, ouvia, tocava, sentia; e, entregues a si mesmos, não são mais que simples agregados de matéria, matéria viva, é verdade, mas sem nenhum poder de percepção. Lentamente o senhor do corpo se retira, encerrando no duplo etéreo e absorto na contemplação do panorama de sua vida passada, que se desenrola diante dele, na hora da morte, completo até aos menores detalhes.
Neste quadro estão todos os acontecimentos de sua vida, grandes e pequenos. Vê suas ambições realizadas ou falidas, seus esforços, triunfos, derrotas, amores, ódios. A tendência predominante do conjunto surge claramente; o pensamento diretor da vida se afirma e se imprime profundamente na alma, assinalando a região onde se passará a maior parte de sua existência póstuma. Solene é o momento em que o homem, frente a frente de sua vida, ouve sair dos lábios do seu passado o vaticínio de seu porvir.
Durante um breve espaço de tempo ele se vê tal qual é, reconhece o fim de sua vida e adquire a convicção que a Lei é poderosa, justa e boa. Em seguida o laço magnético entre o corpo grosseiro e o duplo etéreo se rompe; e assim se separam os dois associados de uma vida inteira; e, salvo casos excepcionais, o homem cai numa plácida inconsciência.
A calma e o respeito devem presidir a conduta de todos os que se aproximam do leito de um moribundo, afim de que um silêncio solene facilite à alma o exame de seu passado. Os gritos, as lamentações ruidosas produzem uma impressão penosa e podem perturbar sua atenção. Não deixa de ser um ato impertinente e egoísta interromper, pelo desgosto de uma perda pessoal, a calma que deve ajuda-lo e apazigua-lo.
A religião age sabiamente quando prescreve orações para os agonizantes. Estas orações mantém a calma e provocam aspirações desinteressadas que auxiliam o moribundo. Como todo o pensamento amante, contribuem para protege-lo e para defende-lo.
Algumas horas após a morte – (geralmente não excedem a trinta e seis) – o homem se retira do corpo etéreo. Este último, por sua vez abandonado como um cadáver inerte, permanece na vizinhança do cadáver grosseiro e partilha a mesma sorte que ele. Se o corpo grosseiro é enterrado, o duplo etéreo flutua acima do túmulo, desagregando-se lentamente; e a penosa impressão que muitas pessoas experimentam ao visitar os cemitérios é, em grande parte, devida à presença destes cadáveres etéreos em decomposição. Quando se queima o corpo, ao contrário, o duplo etéreo se dissolve rapidamente, porque perde seu ponto de apoio e seu centro de atração física.
Esta é uma das razões, entre muitas outras, para preferir-se à inumação a cremação, como meio de eliminar os veículos físicos.
O afastamento do homem de seu duplo etéreo é seguido da retirada de Prâna, que então volta ao grande reservatório da vida universal; ao passo que o sêr humano, prestes a passar ao Kamaloka, sofre uma recomposição de seu corpo astral, por meio da qual poderá submeter-se às transformações purificadoras de que o homem tem necessidade. Durante a vida terrestre os diversos estados da matéria astral se misturam, formando o corpo astral, como fazem os sólidos, os líquidos e os gases no interior do corpo físico. A recomposição do corpo astral em seguida à morte, comporta a separaçãp destes materiais, por ordem de densidade, em uma série de invólucros ou capas concêntricas, a mais sutil dentro e a mais grosseira por fora, sendo cada capa formada pela matéria de uma única subdivisão do plano astral. O corpo astral torna-se, portanto, um conjunto de sete camadas superpostas, um sétuplo estojo de substâncias astrais, onde o homem fica prisioneiro, pois que somente a ruptura destas camadas o tornará livre. Pode-se compreender agora a importância capital da purificação do corpo astral, durante a vida terrestre. O homem fica retido em cada uma dessas subdivisões do Kamaloka, até que o invólucro de matéria dessa subdivisão fique suficientemente desagregado para lhe permitir passar à subdivisão seguinte. Demais, conforme a atividade conscientemente empregada pelo sêr, durante sua vida, neste ou naquele estado de matéria astral, ele aí se encontrará desperto e consciente, na região que lhe corresponda depois da morte; ou melhor, ele aí fica inconsciente, “absorto em sonhos agradáveis” e retido durante o tempo necessário à desagregação mecânica do invólucro.

Continua.

Nenhum comentário:

Postar um comentário