22.5.12

SAUDOSISMO DE UM UMBANDISTA "DAS ANTIGA"


Talvez por ser um dia de comemoração em homenagem aos Preto-Velhos, sinto uma saudade além do normal do meu amado Pai João de Benguela. Fico me perguntando para onde caminha a nossa Amada Umbanda. Não conheço os desígnios dos Mestres que comandam a nossa religião. Só sei que no meu íntimo bate forte uma tristeza imensa. Quando lembro da história do Sr. Zélio que não conheci, e Tia Zizi com a qual convivi, não consigo ter outro sentimento senão de tristeza e preocupação. Eu adoro a juventude, pode não parecer mas também já fui jovem, e até certo ponto entendo os seus sentimentos, mas o que eu vejo são jovens deslumbrados com uma religião, que tem esse poder, se desviarem para caminhos extremamente perigosos. A Umbanda trabalha com forças ou energias desconhecidas para nós simples terráqueos. A evolução das comunicações facilita o conhecimento, pois hoje em dia é só perguntar para o Google que ele responde instantaneamente. Agora vejamos: o desenvolvimento espiritual não se adquire sòmente com livros, eles dão uma grande ajuda, porém existe uma imensa diferença entre conhecimento e sabedoria. Como dizem os Mestres, se você tiver conhecimento e não souber aplicá-los na vida você nada terá. Sabedoria sòmente a vida vai ensinar. Você não pode avaliar a intensidade da dor enquanto ela não te atingir. E para cada um de nós ela terá uma intensidade diferenciada. A poucos dias, vi a reportagem num programa de televisão, sobre um jovem do Candomble. É de uma família de sacerdotes que passam de pai para filho os ensinamentos da religião até o herdeiro assumir a posição de sacerdote da sua comunidade. Desculpem a minha ignorância, mas estou falando com o coração e não com o conhecimento. Na vida, digamos profana, ele vende seus doces na rua. Não fica ostentando sua condição de sacerdote. Levou anos estudando a religião, desde o berço, para poder assumir a condição de dirigir uma pequena comunidade. Com Pai João, no mínimo levava sete anos, para se formar um “cavalo” e aí incluída a Entidade que com ele queria trabalhar no Terreiro. Só um pequeno detalhe: Pemba na mão do cavalo, digamos, só depois de formado. Hoje na grande maioria dos Terreiros, vemos pessoas que lá chegam, recebem uma entidade que lá baixa, que ninguém sabe exatamente quem é, porque o chefe do terreiro também não sabe nem quem é a sua própria, se é uma entidade do bem, se é um gozador, “não basta apenas dizer quem é, o que vai comprovar quem realmente ele é são suas obras” pois existem uma infinidade deles se infiltrando nos terreiros, tendo em vista que os terreiros não são respeitados como um Templo Sagrado, e a festa está completa. Hoje temos até curso à distância de sacerdote de umbanda, com letras minúsculas, pois senão seria SACERDOTE DE UMBANDA, que já é um título que eu não entendo, pois que a Umbanda é a Manifestação do Espírito para a Caridade, no que eu entendo que o verdadeiro Sacerdote é a Entidade e não o Cavalo que na UMBANDA é simplesmente um instrumento de trabalho.
Aí me perguntam, e o cavalo não tem o direito de se desenvolver da mesma maneira. Claro que tem, e sempre fui um defensor dessa tese. Agora, temos que aprender a separar o Cavalo da Entidade. O Cavalo primeiramente tem que se desenvolver como cidadão de bem, tem que aprender no mínimo a respeitar a si mesmo e ao próximo, tem que aprender o que é a mediunidade, as leis que regem a nossa vida, a lei da ação e reação, tem que entender que no terreiro não é ele que executa os trabalhos, não é ele que cura, que alivia as dores de quem procura um terreiro, com isso não estou afirmando que o cavalo não tenha também essa força, mas tem que entender, como se diz no popular, uma coisa é uma coisa e outra coisa é outra coisa.
Quando pesquisamos na internet a umbanda, o que mais encontramos é exu. Quem de nós tem a verdadeira dimensão do significado de exu. Para mim, todos temos o nosso lado exu. É o nosso lado negativo que teremos que combater não para destruí-lo, pois estaríamos destruindo a nós mesmos. Senão vejamos: a luz só é possível se tivermos um fio positivo e um negativo, os dois isoladamente não têm função alguma. Essa é a nossa luta eterna, o equilíbrio, que se consegue com sabedoria, e é a sabedoria que nos dá a energia para galgar a Escada de Jacó, e sabedoria é a vida que ensina.

Ubiratan da Silva – 13/05/2012

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