12.9.10

UM DIÁLOGO COM JESUS

- Bom, Mack, nosso destino final não é a imagem do Céu que você tem na cabeça. Você sabe, a imagem de portões adornados e ruas de ouro. O Céu é uma nova purificação do Universo, de modo que vai se parecer bastante com isso aqui.
- Estão que história é essa de portões adornados e ruas de ouro?
- Esta, irmão – começou Jesus, deitando-se no cais e fechando os olhos por causa do calor e da claridade do dia -, é uma imagem de mim e da mulher por quem sou apaixonado.
Mack olhou para ver se ele estava brincando, mas obviamente não estava.
- É uma imagem da minha noiva, a Igreja: indivíduos que juntos formam uma cidade espiritual com um rio vivo fluindo no meio e nas duas margens árvores crescendo com frutos que curam as feridas e os sofrimentos das nações. Essa cidade está sempre aberta e cada portão que dá acesso a ela é feito de uma única pérola... – Ele abriu um olho e olhou para Mack. – Isso sou eu! – Ele percebeu a dúvida de Mack e explicou: - Pérolas, Mack. A única pedra preciosa feita de dor, sofrimento e, finalmente, morte.
- Entendi. Você é a entrada, mas... – Mack parou, procurando as palavras certas. – Você está falando da Igreja como essa mulher por quem está apaixonado. Tenho quase certeza de que não conheço essa Igreja. – Ele se virou ligeiramente para o outro lado. – Não é certamente o lugar aonde eu vou aos domingos – disse mais para si mesmo, sem saber se era seguro falar em voz alta.
- Mack, isso é porque você está só vendo a instituição, que é um sistema feito pelo ser humano. Não foi isso que eu vim construir. O que vejo são as pessoas e suas vidas, uma comunidade que vive e respira, feita de todos que me amam, e não de prédios, regras e programas.
Mack ficou meio abalado ouvindo Jesus falar de “igreja” desse modo, mas isso não chegou a surpreende-lo. De fato, foi um alívio.
- Então como posso fazer parte dessa Igreja? Dessa mulher pela qual você parece estar tão apaixonado?
- É simples, Mack. Tudo só tem a ver com os relacionamentos e com o fato de compartilhar a vida. É exatamente o que estamos fazendo agora, simplesmente isso, sendo abertos e disponíveis um para o outro. Minha Igreja tem a ver com as pessoas e a vida tem a ver com os relacionamentos. Você pode construí-la. É o meu trabalho e, na verdade, sou bastante bom nisso – disse Jesus com um risinho.
Para Mack essas palavras foram como um sopro de ar puro! Simples. Não um monte de rituais exaustivos e uma longa lista de exigências, nada de reuniões intermináveis com pessoas desconhecidas. Simplesmente compartilhar a vida.
- Mas espere... – Mack tinha um monte de perguntas aflorando à sua mente. Talvez tivesse entendido mal. Parecia simples demais. Por isso pensou duas vezes antes de mexer com o que estava começando a entender. Fazer seu monte confuso de perguntas nesse momento seria como jogar um bocado de lama num pequeno lago de águas límpidas.
- Não faz mal – foi tudo que disse.
- Mack, você não precisa entender tudo. Simplesmente esteja comigo.
Depois de um momento ele decidiu se juntar a Jesus e deitou-se de costas ao lado dele, abrigando os olhos do sol para espiar as nuvens que passavam no início da tarde.
- Bom, para ser honesto – admitiu 0, não estou desapontado, porque nunca me senti atraído pela “rua do ouro”. Sempre achei meio chato. Maravilhoso mesmo é estar aqui com você.
Um silêncio baixou enquanto Mack absorvia o momento. Podia ouvir o sussurro do vento acariciando as árvores e o riso do riacho ali perto derramando-se no lago. O dia estava majestoso e o cenário era incrível.
- Realmente desejo entender. Quer dizer, acho que o modo como vocês são é muito diferente de todo o negócio religioso em que fui criado e com o qual me acostumei.
- Por mais bem- intencionada que seja, você sabe que a máquina religiosa é capaz de engolir as pessoas! – disse Jesus, num tom meio cortante. – Uma quantidade enorme das coisas que são feitas em meu nome não têm nada a ver comigo. E freqüentemente são muito contrárias aos meus propósitos.
- Você não gosta muito de religião e de instituições? – perguntou Mack, sem saber se estava fazendo uma pergunta ou uma afirmação.
- Eu não crio instituições. Nunca criei, nunca criarei.
- E a instituição do casamento?
- O casamento não é uma instituição. É um relacionamento. – Jesus fez uma pausa e retomou, com voz firme e paciente: - Como eu disse, não crio instituições. Essa é uma ocupação dos que querem brincar de Deus. Portanto, não, não gosto muito de religiões e também não gosto de política nem de economia. – A expressão de Jesus ficou notavelmente sombria. – E por que deveria gostar? É a trindade de terrores criada pelo ser humano que assola a Terra e engana aqueles de quem eu gosto. Quantos tormentos e ansiedades relacionados a uma dessas três coisas as pessoas enfrentam!
Mack hesitou. Não sabia o que dizer. Tudo parecia um pouco excessivo. Notando que os olhos de Mack estavam ficando vidrados, Jesus baixou o tom.
- Falando de modo simples, religião, política e economia são ferramentas terríveis que muitos usam para sustentar suas ilusões de segurança e controle. As pessoas têm medo da incerteza, do futuro. Essas instituições, essas estruturas e ideologias são um esfôrço inútil de criar algum sentimento de certeza e segurança onde nada disso existe. É tudo falso! Os sistemas não podem oferecer segurança, só eu posso.
- Uau! – Era tudo que Mack conseguia pensar. A paisagem que ele e praticamente todo mundo que ele conhecia haviam buscado para administrar e orientar a vida estava sendo reduzida a pouco mais do que entulho. – Então... – Mack ainda estava processando o que ouvira, sem conseguir grande coisa. – Então? – transformou a palavra numa pergunta.
- Eu vim lhes dar a vida na totalidade. Minha vida. – Mack ainda estava se esforçando para entender. – A simplicidade e a pureza de desfrutar de uma amizade crescente.
Ah, entendi!
- Se você tentar viver isso sem mim, sem o diálogo constante que estabelecemos ao compartilhar esta jornada juntos, será como tentar andar sobre a água sozinho. Você não pode! E quando tenta, por mais bem-intencionado que seja, vai afundar. – Apesar de saber a resposta, Jesus perguntou: - Você já tentou salvar alguém que estivesse se afogando?
Os músculos de Mack se retesaram instantaneamente. Ele não gostava de se lembrar de Josh e da canoa, e um sentimento de pânico subitamente jorrou da lembrança.
- É extremamente difícil resgatar alguém, a não ser que a pessoa esteja disposta a confiar em você.
- É, sem dúvida.
- É só isso que eu lhe peço. Quando você começar a afundar, deixe-me resgata-lo.
Parecia um pedido simples, mas Mack estava acostumado a ser o salva-vidas e não o afogado.
- Jesus, não sei bem como...
- Deixe-me mostrar. Basta continuar me dando o pouco que você tem e juntos vamos vê-lo crescer.
Mack começou a calçar as meias e os sapatos.
- Sentado aqui com você, neste momento, não parece tão difícil. Mas quando penso na minha vida normal, em casa, não sei como manter o que você sugere. Estou preso na mesma necessidade de controle que todo mundo tem. Política, economia, sistemas sociais, contas, família, compromissos... é bastante esmagador. Não sei como mudar tudo isso.
- Ninguém está pedindo que mude! – disse Jesus com ternura. – Esta é uma tarefa para Sarayu e ela sabe como fazer sem agredir ninguém. O importante é saber que tudo é um processo e não um acontecimento. Só quero que você confie em mim o pouco que puder e que cresça no amor pelas pessoas ao seu redor com o mesmo amor que compartilho com você. Não cabe a você muda-las nem convencê-las. Você está livre para amar sem qualquer obrigação.
- É isso que quero aprender.
- É mesmo. – Jesus piscou.
Jesus se levantou, espreguiçou-se e Mack o imitou.
- Quantas mentiras me contaram! – admitiu êle.
- Eu sei, Mack, a mim também. Simplesmente não acreditei nelas.
Juntos, começaram a andar pelo cais. Quando se aproximavam da margem voltaram a diminuir o passo. Jesus colocou a mão no ombro de Mack e virou-o gentilmente, até ficarem cara a cara.
- Mack, o sistema do mundo é o que é. As instituições, as ideologias e todos os esforços vãos e inúteis da humanidade estão em toda a parte e é impossível deixar de interagir com tudo isso. Mas eu posso lhe dar liberdade para superar qualquer sistema de poder em que você se encontre, seja ele religioso, econômico, social ou político. Você terá uma liberdade cada vez maior de estar dentro ou fora de todos os tipos de sistemas e de se mover livremente entre eles.Juntos, você e eu podemos estar dentro do sistema e não fazer parte dele.
- Mas tanta gente de quem eu gosto parece fazer parte do sistema! – Mack estava pensando nos amigos, nas pessoas da igreja que haviam expressado amor por ele e por sua família. Sabia que elas amavam Jesus, mas que também eram totalmente vendidas para a atividade religiosa e o patriotismo.
- Mack, eu as amo. E você comete um erro julgando-as. Devemos encontrar modos de amar e servir os que estão dentro do sistema, não acha? Lembre-se, as pessoas que me conhecem são aquelas que estão livres para viver e amar sem qualquer compromisso.
- É isso que significa ser cristão? – Ahou-se meio idiota ao dizer isso, mas era como se estivesse tentando resumir tudo na cabeça.
- Quem disse alguma coisa sobre ser cristão? Eu não sou cristão. A idéia pareceu estranha e inesperada para Mack e ele não pôde evitar uma risada.
- Não, acho que não é.
Chegaram à porta da carpintaria. De novo Jesus parou.
- Os que me amam estão em todos os sistemas que existem. São budistas ou mórmons, batistas ou muçulmanos, democratas, republicanos e muitos que não votam nem fazem parte de qualquer instituição religiosa. Tenho seguidores que foram assassinos e muitos que eram hipócritas. Há banqueiros, jogadores, americanos e iraquianos, judeus e palestinos. Não tenho desejo de torná-los cristãos, mas quero me juntar a eles em seu processo para se transformarem em filhos e filhas de Deus, em irmãos e irmãs, em meus amados.
- Isso significa que todas as estradas levam a você?
- De jeito nenhum – sorriu Jesus enquanto estendia a mão para a porta da oficina. – A maioria das estradas não leva a lugar nenhum. O que isso significa é que eu viajarei por qualquer estrada para encontrar vocês. – Fez uma pausa. – Mack, tenho algumas coisas para terminar na carpintaria; encontro você mais tarde.

Extraído do Livro A CABANA

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