21.9.10

DANÇA DAS LUZES

Após as atividades a que eu me dediquei, guardava na alma os ensinamentos simples daquelas almas elevadas. Não existia em minha alma nenhum resquício de preconceito. Aprendi que, no trabalho do bem, ninguém detém a verdade absoluta e para tudo existe uma explicação.
As atividades dos nossos irmãos que se apresentam como pretos-velhos, caboclos ou sob outras formas perispirituais devem ser analisadas com mais carinho. Sua roupagem fluídica pouco importa, diante dos fatores morais. Aprendi que, mesmo me afinizando com as tarefas realizadas num centro de orientação espírita, não poderia desprezar aqueles irmãos que tinham tarefas em outros campos espirituais.
Meditava a respeito dessas questões quando meu mentor aproximou-se de mim, falando:
- Ângelo, acredito que agora você está apto a estudar com maior clareza outras manifestações da religiosidade do nosso povo. As lições de fraternidade estão firmes em seu espírito.
- Agora eu sei que no universo nada é absolutamente igual. Podemos estar a serviço do Pai, mas podemos também estar trabalhando de formas diferentes, em departamentos diferentes, mas levando a mesma bandeira: o amor e a caridade, com respeito por aqueles que não pensam como nós, mas trabalham para o mesmo Senhor.
A noite estava radiante, quando a observávamos de nossa colônia espiritual. Éramos felizes por participar de todas essas oportunidades que a bondade de Deus nos concedia. As estrelas salpicavam o céu, convidando-nos a refletir nas lições da vida.
Um cometa rasgava o espaço em direção a outras regiões do infinito.
- Veja, Ângelo, acompanhe a rota deste cometa – falou o bondoso mentor.
- Creio que, mesmo para um desencarnado em minhas condições, é difícil acompanhar por muito tempo o roteiro de luz da natureza. Minha visão espiritual já está um tanto dilatada, mas mesmo assim ...
- Vamos, Ângelo, volitemos em direção à luz – convidou-me o companheiro espiritual.
Tomando-me pela mão, conduziu-me a regiões mais elevadas que a nossa, acompanhando o rastro luminoso do cometa, que agora se apresentava aos nossos olhos espirituais como uma estrela de intensa luminosidade. Fomos subindo, subindo, até que eu não podia mais acompanhar meu amigo espiritual rumo a esferas mais sutis, superiores. A estrela ascendia cada vez mais, e agora eu só poderia prosseguir com o impulso mental do meu mentor.
As regiões espirituais que agora eu estava observando eram totalmente diferentes do nosso plano. Parecia que uma música suave irradiava de todas as direções. Indizível alegria se apossava de meu espírito. Não compreendia como um simples cometa ou uma simples estrela pudesse atravessar as barreiras das dimensões e se dirigir para as alturas vibracionais.
Agora não podíamos acompanhar mais seu rastro. Paramos nossa volitação em um posto dos planos mais elevados, nas regiões espirituais. O mentor amoroso apontava-me a direção em que o cometa rasgava o espaço espiritual, dirigindo-se às outras dimensões.
- Daqui não podemos passar, meu amigo, Ângelo. Entretanto, acompanharemos o percurso luminoso desse astro errante da espiritualidade.
- Sim, meu filho, é um cometa, um astro, uma estrela ou como você quiser denominar. Não importa a forma como descrevemos. É uma luz que não podemos mais acompanhar com nossos próprios recursos. Já estamos muito distantes vibratoriamente de nossa colônia espiritual e não detemos ainda possibilidades de escalar outros planos mais sutis. Resta-nos observar, de longe, a chuva de estrelas.
Calei-me sem entender o que o companheiro espiritual estava querendo dizer. Se ele que era mais elevado não conseguia ir além, quem diria eu, espírito muito endividado, que me fazia de reporter do Além, escrevendo para o correio dos mortais.
- Observe, Ângelo – falou, apontando na direção da luz astral do cometa, que a esta hora estava irradiando várias cores.
Outras luzes vinham ao encontro daquela que observávamos. Parecia que vários cometas faziam uma dança sideral, um em torno do outro. Eram luzes irmãs da luz que nós acompanhamos.
- Afinal, qual é o significado de tais luzes, com tamanha beleza? – perguntei.
- É a luz astral de um dos preto-velhos que tão bondosamente nos atendeu durante a nossa jornada na tenda umbandista. Não podemos segui-lo mais. Sua vibração ultrapassa a nossa e vai além de nossas possibilidades. É a luz da simplicidade, do amor e da fraternidade, das quais somos ainda meros aprendizes. Outras entidades elevadas, como ele mesmo, o recebem, e, em nossa visão espiritual um tanto ainda deficiente, só o percebemos como luzes. Não podemos ainda percebe-los como são verdadeiramente. Por isso, uma dessas luzes espirituais assumiu a forma fluídica de um preto-velho. Somente assim poderíamos percebe-la. Agora, no entanto, está retornando a sua esfera irradiante para, talvez, assumir outra missão, em nome do eterno bem.
Só agora eu tinha uma noção a respeito das entidades espirituais que assumem certas tarefas em outros planos da vida. Faltava-me ainda muita experiência para compreender os planos de Deus para os seus filhos.
Retornamos à nossa colônia espiritual com a lembrança das esferas superiores, agradecendo, em nossas preces, pela oportunidade que Deus nos havia concedido de conviver, por algum tempo, com as luzes de Aruanda.

Capítulo 15 – Dança das Luzes do Livro Tambores de Angola – de Robson Pinheiro – pelo Espírito Ângelo Inácio. Casa dos Espíritos Editora.

Obrigado Robson por esta pérola de rara beleza que você nos presenteou. Ubiratan da Silva.

Nenhum comentário:

Postar um comentário