29.8.12

SEMENTES DE LUZ



                 Quer no infinitamente grande como no infinitamente pequeno vibram todas as expressões da vida, imersas na luz de uma potência divina e na tremenda obscuridade de ignotas e incognoscíveis manifestações. Elas permeiam espaços imensos e mínimos, ambos impenetráveis e imponderáveis por suas dimensões à indagação humana.
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                O ser tem origem no infinito, sustentado na matéria, onde cria e realiza o ciclo kármico, para retornar depois ao infinito.
                A vida material, para o ser, é realidade concreta mas efêmera na variedade das formas.
                O infinito é a realidade abstrata mas eterna.
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                Tarefa do espírito é adquirir no trabalho da matéria as expressões de sabedoria, com a educação da sensibilidade e o desenvolvimento da virtude que é o estimulo de todas as grandezas da centelha divina.
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                Não é o corpo que sofre ou goza sob o estímulo da alegria ou da dor, porque ele é apenas matéria inerte. É o espírito que, de acordo com a sua sensibilidade, percebe mais ou menos intensamente a repercussão do estímulo.
                Se fosse a matéria que experimentasse tais sensações, ela as sentiria sempre: mesmo no estágio de formação antes do nascimento e no de decomposição depois da morte. E nesse caso, qual seria o tormento do corpo ao sentir-se desagregar, instante por instante, molécula por molécula, na decomposição total das suas substâncias.
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                Que é o corpo ?
                Uma realidade concreta que se tornará abstrata.
                Que é o espírito ?
                Um nada abstrato que é uma realidade concreta.
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                O infinito é o símbolo abstrato da eternidade do espaço real e concreto.
                Os astros são as centelhas absurdamente concretas de uma abstrata e fugidia vida.

                Em cada expressão da vida poderás encontrar oculta a semente da felicidade; mesmo na dor, se nela procurares o sentido do divino superamento.
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                O que faz o homem sofrer é o medo da dor, a angústia de perder o que ama e receber o que não deseja.
                Não é o Sol que amadurece os frutos, mas a água, isto é, a tempestade.
                O Sol os secaria se a água não alimentasse a linfa.
                A vida é o sonho do espírito, no qual ele vive a mais absurda experiência.
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                O homem é senhor apenas do presente porque o passado não mais lhe pertence e o futuro lhe é desconhecido.
                Mas é no fugidio instante daquele presente que ele recolhe os frutos do passado e lança a semente para o futuro.
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                O mal não é uma força contrária a Deus mas um peso na balança do Karma humana.
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                O Karma da vida é a cruz do espírito. A consciência de carregá-la é a síntese da elevação.
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                Infinito no tempo e no espaço é o destino dos homens. A sabedoria humana pode aconselhar o caminho mais breve para conseguir a evolução divina.
                O espírito, pólen radioso da vida, é a essência prodigiosa do eterno existir, a energia inefável da criação que tira do contraste da vida a razão da sua vitória.
                Na sua divina realidade ele é o triunfador da morte, porque é a semente imperecível do eterno renascimento.
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                Ambicionar o triunfo humano é ambicionar a posse de cousas efêmeras, é constranger a mente e o coração a nutrir-se de ideias e de paixões elementares.
                É pecaminoso conclamar fantasias de progresso se estas fantasias são destinadas a suscitar, nas multidões inconscientes, paixões de ódio e miragens de bens contra a natureza e contra a moral.
                As ideias de progresso são como o tóxico que é benéfico ou maléfico segundo a mistura e as circunstâncias em que é usado.
                O progresso, todavia, é sempre eficazmente servido pelo ato humano da piedade espontânea, mais do que pelo declamatório gesticular do heroísmo inspirado por interesses das partes. A humildade e a piedade, em qualquer circunstancia, são sempre garantia de verdadeira grandeza, porque são a expressão do espírito libertado.
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                Afrontar a luta da vida é um grande esforço; imenso é o superá-la objetivando um ideal.
                O primeiro é a missão do espírito na matéria; o segundo é a missão do espírito na obra divina.
                Os vícios se opõem às virtudes que brotam no espírito. A vitória das virtudes, resultante do choque de sentimentos às vezes violento como um furacão, não é senão momentânea, mesmo quando represente um superamento.
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                Apoteose, suprema conquista de perfeições humanas, não pode ser alcançada senão quando no ser se contrastam ideias e se combatem lutas.
                Viver é muito mais difícil que morrer, como criar é muito mais árduo que destruir.
                Para viver é necessário harmonizar com tudo as próprias ações, se não quiser incorrer em uma vida de tormento nas trevas da incompreensão. 
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                Na vida tem mais valor dar do que receber; contudo, quer no dar ou no receber é necessário manter o justo equilíbrio para não criar desarmonia.
                Quem aceita a orientação daquele que julga mais forte e mais iluminado do que ele não amesquinha a própria personalidade, mas ao contrário a exalta fazendo próprias as virtudes de outrem.
                A verdade não tem necessidade de sutilezas e de estetismos dialéticos.
                Unicamente os desassisados consideram essencial ao seu vão falar a árida linguagem do sofisma.
                A verdade se exprime com a simplicidade dos meios com que se manifestam as leis naturais, e desabrocha como intuição no espírito despido de todo egoísmo.
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                A árida ascensão que o espírito percorre pelos caminhos da bondade e da virtude, embora sendo uma titânica fadiga, dá, com o sacrifício, a alegria de atingir o cume da sabedoria.
                A bondade é a virtude que mais exprime a natureza divina no homem.
                Cada qual acredita possuí-la no coração mas bem poucos a professam.
                Ela é, por excelência, a virtude do sacrifício e da renúncia em proveito de outrem.
                A verdadeira bondade é como a violeta que desabrocha na alma humana sem ostentação mas com a segura consciência do dever a cumprir no silêncio austero da própria dignidade.
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                Para ter é necessário dar; para merecer é necessário sofrer.
                O sofrimento é o alimento da alma quando se possui a força de transmudar em alegria a dor.
                Somente na paz da consciência, não mais atormentada pelas tempestades da vida, o espírito divisa a luz da sabedoria.
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                O amor é o poema que Deus doa aos puros espíritos.
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                O homem grava com as suas obras o próprio destino humano; e o divino com as suas ações.
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                É ùnicamente força de justiça a que nos impele a sofrer a luta do Bem e do Mal para oferecer-nos a possibilidade de evoluir, dando-nos com a vida o ligame que une, com as suas fases alternadas, o mundo terreno e o sobrehumano.
                Oferecei a todos o pão do vosso amor, porque somente assim podereis dominar homens e acontecimentos.
                Não é com o temor nem com a imposição que Deus impera no infinito.
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                Mostrar-se humilde diante dos humildes significa haver atingido o máximo da grandeza.
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                O orgulho é o sentimento mais difícil de interpretar.
                Orgulho é o sentimento de quem, julgando-se superior, cobiça dominar.
                Mas orgulho é também a satisfação de haver realizado uma boa ação, de haver levado a termo uma árdua tarefa, de haver superado uma dura prova.
                São Francisco era orgulhoso da sua humildade e dos sofrimentos suportados com perfeita alegria. São Paulo era orgulhoso unicamente da Cruz de Cristo que ele apregoava aos povos.
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                Na eternidade dos séculos a vida é um sorvo amargo para o espírito que sabe não estar comprimido, um voo de luz para quem ama e persegue um ideal excelso que o exalta acima da felicidade humana.
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                O ritmo da vida mede a respiração do tempo; o sopro do espírito representa a fôrça de Deus.
                Um e outro assumem, em suas fases, a crise da morte, a sublimação da dor e a apoteose do sêr.
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                Judas não traiu Cristo e o homem não O crucificou, porque Êle, sendo o Filho de Deus, não podia ser nem traído nem crucificado.
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                A fé é a luz de cada religião, a vida do espírito, o bálsamo de cada mal e o conforto de cada dor.
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                O que representam a eternidade e a infinidade ?
                A eternidade é o infinito do tempo; a infinidade é a eternidade do espaço.
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                O corpo e o espírito podem ser concebidos como dois ciclos diversos: um, ciclo-espaço; o outro, ciclo-eterno.
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                O conceito de infinito encerra uma multiplicidade de espaços que, por sua vez, medem o eterno.
                A vida é um tecido de alegrias e de dores.
                A alegria é o sol da existência; a dor a sua sombra.
                Para elevar-se é necessário estabelecer uma harmonia, superando a dor, e encontrar também nela a alegria.
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                Se fixasse o teu olhar no sol, na luz, a sombra por lei humana e divina ficará atrás de ti.
                Se colocares a sombra das tuas penas e das tuas dores atrás de ti superando-as, olhando à tua frente verás somente a luz, a alegria e a felicidade.
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                Ninguém pode dizer ao bicho da seda que não seja uma borboleta. Todos os homens são criaturas de Deus e, como o bicho, susceptíveis de evolução.
                O universo não é senão um complexo de energias espirituais, uma parte infinitesimal do todo no qual inúmeros astros constituem outras tantas etapas da evolução do espírito.
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                As obras imortais ficam no tempo para testemunhar as etapas da civilização e o gênio dos homens; a fé e a vontade são as grandes obras que esculpem o destino universal.
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                A Grande Lei decreta: das ruínas da morte, Deus cria novas formas e plasma a vida; da tempestade da vida cria a morte e plasma a consciência.
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                Eu te abençoo e te digo: vai, a estrada da felicidade é sòmente dos fortes e dos voluntariosos prontos a tirar conforto mesmo da dor que, ao longo da estrada do destino, provarão ao deixar os farrapos da sua alma aderentes às sarças da vida.

Ergos

               




               
               


               



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