8.8.11

A UNIDADE FUNDAMENTAL DE TODAS AS RELIGIÕES

O pensamento reto é condição necessária para uma vida reta. A retidão de juízo é indispensável à retidão da conduta.
Quer se nos apresente sob seu antigo nome sânscrito “Brahma Vidya”, ou sob a designação moderna tirada do grego “Teosofia”, a Sabedoria Divina nos auxilia na realização deste duplo objeto. Apresenta-se ao mundo simultaneamente como uma filosofia racional, perfeita, e também como religião e moral universais. Um piedoso cristão dizia uma dia, falando das Santas Escrituras, que nelas havia passagens que uma criança poderia atravessar facilmente, e abismos onde um gigante seria obrigado a nadar. Outro tanto podemos dizer da Teosofia, porque, de seus ensinamentos, uns são tão simples e práticos, que toda inteligência mediana pode compreender e aplicar, enquanto outros são tão elevados, tão profundos, que o espírito mais hábil curva-se exausto quando se obstina em davassar-lhes o sentido.
Um golpe de vista de conjunto lançado sobre as grandes religiões do mundo, mostra que elas têm de comum muitas idéias religiosas, morais e filosóficas. Muitos pretendem que as religiões nasceram do solo da ignorância humana, cultivada pela imaginação e que foram sendo gradualmente elaboradas, a partir das formas grosseiras do animismo e do fetichismo. Suas analogias são devidas aos fenômenos universais da natureza, imperfeitamente observados e explicados de uma maneira caprichosa. Tal escola dá como chave universal o culto do sol e dos astros; para outros a chave, não menos universal, é o culto fálico. O medo, o desejo, a ignorância e a admiração, levaram o selvagem a personificar os poderes da natureza, depois os padres exploraram estes terrores e estas esperanças, dominando as imaginações brumosas, e os mitos foram-se transformando em bíblias, e os símbolos em fatos; e como a base era a mesma em toda a parte, a semelhança dos resultados era inevitável.
Assim falam os doutores da “mitologia comparada” e, sob a avalanche de provas, os simples são reduzidos ao silêncio, embora não convencidos. Eles não podem negar as analogias, mas não deixam de se interrogar com uma vaga inquietação: “As mais sublimes concepções do homem, as suas mais caras esperanças são apenas o produto de sonhos do selvagem e das dubiedades da ignorância! Todos os grandes condutores dos povos, os heróis da humanidade viveram, trabalharam, sofreram, e morreram na ilusão, pela simples personificação de fatos astronômicos, ou pelas obscenidades dissimuladas dos bárbaros!”
A segunda explicação da base comum que unifica a diversidade das religiões humanas, postula a existência dum ensinamento original, que uma confraria de grandes instrutores espirituais guarda. Estes Mestres, frutos de ciclos passados de evolução, tiveram por missão instruir e guiar a humanidade nascente em nosso planeta. Transmitiram a estas raças e nações as verdades fundamentais da religião, sob a forma melhor adaptada às necessidades especiais daqueles que deviam recebê-las. Segundo essa opinião, os fundadores das grandes religiões são membros desta Confraria Única, e foram ajudados em Sua missão, por uma plêiade de outros membros menos elevados que Eles, iniciados e discípulos de diversos graus, eminentes por sua intuição espiritual, por seu saber filosófico, ou pela pureza de sua elevação moral. Estes homens dirigiram as nações nascentes, guiando-as no caminho da civilização e dotando-as de leis; monarcas, eles a governaram; filósofos, eles as instruíram; sacerdotes, eles as guiaram. Todos os povos mostram em sua alta antiguidade estes homens poderosos, heróis e semi-deuses; e a arquitetura, a literatura, a legislação desses povos conservam de tais homens traços indeléveis.
Parece difícil negar a existência desses homens, diante da tradição universal, dos documentos escritos ainda existentes, e dos despojos pré-históricos, em ruínas por toda a parte – sem mencionar outros testemunhos que o ignorante recusaria. Os livros sagrados do Oriente são fiéis testemunhas da grandeza daqueles que os escreveram; porque, em épocas mais próximas e nos tempos modernos, que há de comparável à sublime espiritualidade de sua unção religiosa, ao esplendor intelectual de sua filosofia, à extensão e pureza de sua moral? E quando percebemos que estes livros encerram sobre Deus, o homem e o Universo, ensinamentos em substância idênticos, sob uma múltipla variedade de aparência exterior, não parece irracional aproximá-las, enfeixando-as em um único corpo de doutrina, central e original. É a este corpo de doutrina que damos o nome de Sabedoria Divina, ou sob a forma grega: Teosofia.
Sendo, como é, origem e base de todas as religiões, a Teosofia não se opõe a nenhuma delas. Ao contrário, purifica-as, revelando a alta significação interior de inúmeras doutrinas, tornadas errôneas em sua forma exterior, pervertidas pela ignorância e pela superstição. Em cada uma destas formas a Teosofia se reconhece e se defende; e procura em cada uma delas revelar sua sabedoria oculta. Para nos tornarmos um Teósofo, não há necessidade de deixar-mos de ser ou Cristão, ou Budista ou Induista (ou Umbandista). Basta que o homem penetre mais profundamente no coração de sua própria fé, abraçando mais firmemente as verdades espirituais e analisando com um espírito mais amplo os ensinamentos sagrados. Depois de ter outrora dado nascimento às religiões, a Teosofia vem justificá-las e defende-las. É o bloco no qual têm sido talhadas, é como a escavação profunda da pedreira donde todas foram extraídas. Diante do tribunal da crítica moderna, ela vem justificar as mais profundas aspirações e as mais nobres emoções do coração humano. Confirma as esperanças que nós apontamos ao homem e nos restitui, mais enobrecida, nossa fé em Deus.
A verdade desta asserção torna-se cada vez mais evidente, à medida que estudamos as diversas Escrituras Sagradas do mundo. Algumas seleções operadas na massa dos materiais disponíveis, bastam para verificar o fato, e guiar o estudantes na investigação de novas provas.
As verdades espirituais fundamentais da religião podem resumir-se no seguinte:
I – Uma existência real, eterna, infinita, incognoscível;
II – Do Todo procede o Deus manifestado, desdobrando-se de unidade em dualidade, de dualidade em trindade;
III – Da Trindade manifestada procedem inumeráveis Inteligências espirituais, guias da atividade cósmica;
IV – O Homem, reflexo do Deus manifestado, se compõem, por isto, duma trindade fundamental. Seu “Eu” interior e real é eterno, e forma uma unidade com o “Eu” Universal;
V – Ele evolui por encarnações repetidas para as quais é atraído pelo desejo, e das quais se liberta pelo conhecimento e pelo sacrifício, tornando-se finalmente divino em realidade como fora sempre em potencialidade.

Da obra A SABEDORIA ANTIGA – AUTORA ANNIE BESANT

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