11.8.11

SOFRIMENTO

Como muitos outros pensadores hindus, Kapila encara a vida como um bem muito duvidoso – se acaso é um bem. “Poucos são estes dias de alegria, poucos são estes dias de mágoas: a riqueza é como a enchente do rio; a mocidade é como a margem de um rio em cheia que se desagrega; a vida é como a árvore da margem que desmorona.” O sofrimento vem do fato do Eu individual e do intelecto estarem sujeitos à matéria e serem arrastados pelas forças cegas da evolução. Que fuga existirá para este sofrimento? Unicamente a que a filosofia proporciona, responde Kapila; só por meio da compreensão filosófica todos esses sofrimentos, e toda essa divisão de Egos em luta se transfazem em Maya – a ilusão, o imponderável espetáculo da vida e do tempo. “A sujeição vem do erro de não discriminar” entre o Eu que sofre e o Espírito que é imune, entre a superfície que é sujeita a perturbar-se e o alicerce que não se perturba e não muda. Para o homem erguer-se acima dos sofrimentos torna-se apenas necessário compreender que a nossa essência, que é Espírito, está além do bem e do mal, da alegria e da dor, do nascimento e da morte. A ação, a luta, os triunfos, e derrotas afetam-nos ùnicamente enquanto não percebemos que não vêm do Espírito; o homem iluminado encara-os como coisas alheias à sua essência – e permanece na atitude do espectador que da platéia assiste a um espetáculo. Deixemos a alma reconhecer a sua independência de todas as coisas e ela se sentirá livre; por esse ato de compreensão a alma escapará da prisão do espaço e do tempo, da dor e da reencarnação. A libertação obtida por meio do conhecimento , diz Kapila, ensina-nos um conhecimento único: que eu não sou nem nada de mim é. Isto quer dizer que a individuação é uma ilusão; o que existe é, de um lado, a vasta espuma, envolvente e dissolvente, da matéria e do intelecto, dos corpos e dos eus; e de outro lado, a calma eternidade da alma imutável e imperturbável.

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