No infinito
espaço interplanetário, entre a poeira estelar que forma as etapas luminosas
dos universos em formação, existe uma grande força.
É uma força
cosmogônica que, ligando sol a sol, planeta a planeta, estrela a estrela,
demonstra que a grande e divina Lei de Deus está presente em tudo e que o
destino dos mundos está compreendido naquela Lei.
As forças
planetárias com suas convulsões que compõem e decompõem as massas magmáticas
demonstram como esse mudo revoluir seja a expressão do movimento e do
equilíbrio que constituem a razão primordial da vida.
Cada cousa
está sujeita à lei da metamorfose e mesmo quando a aparência estática e
estagnante da matéria em desagregação nos dá a certeza da morte, sob a máscara
fria e inerte fermenta e se agita um movimento criador inverso àquele que havia
gerado a forma, mas que dará, por sua vez, alento a novos aspectos vitais, a
novas formas.
E no
entanto, tudo morre, mas a morte nada mais é que a manifestação daquela força
cósmica, planetária ou atômica que com sua desintegração transforma e renova
toda expressão material necessária à evolução do espírito.
Todo
acontecimento, criando um período breve ou longo, possui a sua razão oculta e
profunda que transcende o interesse particular de um indivíduo, mas este esta
ligado ao Todo por essa força, da mesma
forma que cada átomo, apesar de ter um movimento e um ciclo particulares, esta
ligado a um corpo por uma serie de causas que são independentes da sua vontade.
Buscar o
porquê da vida e da morte de um corpo, de uma ilha, de um continente, de uma
civilização, de uma religião, de um planeta, de um astro, é tarefa árdua para a
compreensão humana e é talvez mais fácil acreditar que cada cousa e cada
acontecimento teve princípio no seu aparecimento e terminará definitivamente
com sua morte.
Mas, não é
assim, porque o respirar da vida cósmica tem o seu porquê indiscutível.
O
nascimento, a morte, a existência de cada cousa criada, a humanidade com a
série infinita das suas gerações traçam a sinusóide da sua passagem no tempo,
criando vibrações de intensidade variada, que deixam o sinal da sua obra, as
eras planetárias, períodos de barbárie ou de civilização.
O gênio do
homem atual não é mais isolado como no passado, mas, pode-se dizer, coletivo;
se esse desenvolvimento intelectual, porém, deu à ciência o meio adequado para
exteriorizar as suas manifestações, pode-se constatar, entretanto, que a
humanidade não tirou vantagem do que aparentemente parece uma conquista.
Sim, há
realmente uma conquista mas não conduz à
civilização do espírito, senão rumo às inferioridades de um período
materialista por excelência.
A humanidade
sai de um banho de sangue, de uma guerra tremenda; a convulsão do mundo agitou
corpos e mentes, numa dissociação moral e material em que o espírito se debate.
O homem é
levado a maldizer aqueles que, segundo seu juízo humano, desejaram e
fomentaram, apoiaram e alimentaram essa tragédia. Chorando o bem-estar passado,
lamenta-se das chagas presentes, sem pensar que talvez a razão de toda a
catástrofe deva ser encontrada nas suas próprias faltas, porém, ninguém quer
atribuir-se a responsabilidade e, alguns até, fechando-se no círculo do próprio
egoísmo, não pensam que para além da morte existe uma vida muito mais bela do
que a material; que para além de todo o ódio e de todo rancor existe Deus; que
acima de cada esperança vã ou ilusão oferecida pela matéria, reina e sobrevive
a verdade do espírito e a beleza de uma nova era.
Realmente,
esse tremendo furacão de fogo e de sangue desencadeado pelos homens tem raízes
bem mais profundas e mais longínquas do que se possa acreditar.
Os
astrônomos e os astrólogos relacionam-no com as manchas solares; os defensores
da fé acreditam que a maldade do homem haja atraído a maldição divina sobre
toda a humanidade; e os materialistas, ao contrário, invocam o jogo da
interesses e de partidos pretendentes ao poder e ao nacionalismo ou
imperialismo dos povos em luta.
Quem está
com a razão ?
Qual das
teses é a mais justa ?
Todas. Uma
porém, é a razão cósmica, outra, a espiritual, e a última, material. Cada uma
tem a sua finalidade no quadro do Karma infinito.
Ninguém pode
compreender o porquê de existir no espaço uma estrela maior do que a outra, ou
ainda, num recôndito abismo do infinito ir buscar-se o porquê da necessidade do
florescer da luz de uma nebulosa que confere vida ao vosso planeta e que, em
aparência, jamais atingirá o vosso universo. Assim, ninguém pode compreender
que no infinito do tempo continentes hajam sido tragados e dos quais não vos
chega senão a sombra de uma lembrança, como no caso da existência da Lemúria ou
da Atlântida e de outros ainda mais longínquos de cuja existência nem
suspeitamos sequer.
Se
analisardes, porém, profundamente o processo de todas as cousas criadas,
encontrareis uma analogia perfeita em cada acontecimento, ainda que no mais
insignificante.
Tudo tem um
princípio – tudo tem um fim.
Tudo tem um
fim – tudo tem um princípio.
A necessidade
de princípio se manifesta precisamente porque um acontecimento qualquer teve
fim. A necessidade de um fim deriva, em contraste, de haver existido um
princípio.
Onde, porém,
tem início e onde termina um para dar lugar ao outro?
Existe,
talvez, uma razão e um ponto onde a ascensão se torna descida e a descida
ascensão? Sim, existe, e esse ponto é a apoteose de uma realização.
Na vida,
após a juventude vem a decadência da velhice. Na humanidade, sempre o povo mais
civilizado decai e morre, como já ocorreu com a Lemúria, a Atlântida e, ainda
mais próximos de vós, as civilizações egípcia, etrusca, grega, romana, etc.
Por isso
hoje a Europa, como continente mais civilizado na evolução espiritual, traz
impressos, nas suas terras, nas ruínas das suas cidades, na destruição de seus
povos, na decadência dos seus costumes, na luta desesperada em defesa dos seus
direitos que todos acreditam dar-lhe mas que ninguém os confere, os sinais de
um aniquilamento cruel.
Essa é,
pois, a razão cósmica que impera sobre todo o grande drama humano e que os
astrônomos justificam com as influências magnéticas das manchas solares.
A outra é
mais profunda, reside na alma humana e ao mesmo tempo na vontade Divina.
Para a
evolução do espírito é necessário que o homem perca tudo o que, num ciclo,
conquistou por meio de duras batalhas, para que um outro se possa iniciar.
Não é
realmente mais perfeita uma civilização que nasce absorvendo daquela que morre
tudo o que de bom e de belo ela proporciona ao homem?
A
civilização egípcia foi mais perfeita do que a babilônica ou a assíria, assim
como a grega foi mais perfeita do que a etrusca, e a romana mais que a grega.
O que, da
civilização europeia, o mundo todo não possuí? Não partiram da Itália, da
França, da Espanha, de Portugal, da Alemanha, da Inglaterra, ciência,
sabedoria, idioma, arte, leis?
E não
partiu, ainda, das mesmas fontes, a absurda pretensão do direito de dominar o
mundo?
Se tudo
houvessem dado, se a sua civilização houvesse podido realizar um compromisso
mútuo entre os direitos da matéria e os deveres do espírito, haveriam
encontrado o caminho do amor e do equilíbrio; a vida não haveria perdido o seu
valor e o espírito, cônscio dos seus deveres, se teria prendido a Deus e não ao
materialismo ao qual a ciência do homem o havia conduzido. Deus quer que a luz
brilhe sempre entre os homens e nunca a sombra que, mesmo revestida dos
ouropéis do saber, perde o valor da sabedoria que é a maior virtude do
espírito.
Não é mais a
fé o credo fervoroso de um povo ou de um grupo de povos que detêm a primazia da
civilização. Eles se acreditam muito evoluídos, muito fortes e se outorgam
autoridade para analisar Deus e Sua vontade como se tivessem a possibilidade de
dobrá-La aos seus desejos. Julgam-se os críticos da obra espiritual dos seus
pais e, para eles, o passado não é mais que uma curiosidade histórica, não
compreendendo que dela deveriam tirar os ensinamentos para seu espírito.
Cada ciclo,
porém, revela a razão da vida e da morte e em cada agonia surge a realidade de
um renovar-se perene, porque sòmente sobre as ardentes chagas da própria carne,
da dor da matéria atormentada brotará a flor luminosa do espírito que se voltará
sempre para Deus, como do tormento da terra arada surgirá a flor e o fruto para
amadurecer à luz do Sol.
ERGOS
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