19.7.12

O MISTÉRIO CÓSMICO DA VIDA E DA MORTE


            No infinito espaço interplanetário, entre a poeira estelar que forma as etapas luminosas dos universos em formação, existe uma grande força.
            É uma força cosmogônica que, ligando sol a sol, planeta a planeta, estrela a estrela, demonstra que a grande e divina Lei de Deus está presente em tudo e que o destino dos mundos está compreendido naquela Lei.
            As forças planetárias com suas convulsões que compõem e decompõem as massas magmáticas demonstram como esse mudo revoluir seja a expressão do movimento e do equilíbrio que constituem a razão primordial da vida.
            Cada cousa está sujeita à lei da metamorfose e mesmo quando a aparência estática e estagnante da matéria em desagregação nos dá a certeza da morte, sob a máscara fria e inerte fermenta e se agita um movimento criador inverso àquele que havia gerado a forma, mas que dará, por sua vez, alento a novos aspectos vitais, a novas formas.
            E no entanto, tudo morre, mas a morte nada mais é que a manifestação daquela força cósmica, planetária ou atômica que com sua desintegração transforma e renova toda expressão material necessária à evolução do espírito.
            Todo acontecimento, criando um período breve ou longo, possui a sua razão oculta e profunda que transcende o interesse particular de um indivíduo, mas este esta ligado ao Todo por essa força,  da mesma forma que cada átomo, apesar de ter um movimento e um ciclo particulares, esta ligado a um corpo por uma serie de causas que são independentes da sua vontade.
            Buscar o porquê da vida e da morte de um corpo, de uma ilha, de um continente, de uma civilização, de uma religião, de um planeta, de um astro, é tarefa árdua para a compreensão humana e é talvez mais fácil acreditar que cada cousa e cada acontecimento teve princípio no seu aparecimento e terminará definitivamente com sua morte.
            Mas, não é assim, porque o respirar da vida cósmica tem o seu porquê indiscutível.
            O nascimento, a morte, a existência de cada cousa criada, a humanidade com a série infinita das suas gerações traçam a sinusóide da sua passagem no tempo, criando vibrações de intensidade variada, que deixam o sinal da sua obra, as eras planetárias, períodos de barbárie ou de civilização.
            O gênio do homem atual não é mais isolado como no passado, mas, pode-se dizer, coletivo; se esse desenvolvimento intelectual, porém, deu à ciência o meio adequado para exteriorizar as suas manifestações, pode-se constatar, entretanto, que a humanidade não tirou vantagem do que aparentemente parece uma conquista.
            Sim, há realmente uma conquista  mas não conduz à civilização do espírito, senão rumo às inferioridades de um período materialista por excelência.
            A humanidade sai de um banho de sangue, de uma guerra tremenda; a convulsão do mundo agitou corpos e mentes, numa dissociação moral e material em que o espírito se debate.
            O homem é levado a maldizer aqueles que, segundo seu juízo humano, desejaram e fomentaram, apoiaram e alimentaram essa tragédia. Chorando o bem-estar passado, lamenta-se das chagas presentes, sem pensar que talvez a razão de toda a catástrofe deva ser encontrada nas suas próprias faltas, porém, ninguém quer atribuir-se a responsabilidade e, alguns até, fechando-se no círculo do próprio egoísmo, não pensam que para além da morte existe uma vida muito mais bela do que a material; que para além de todo o ódio e de todo rancor existe Deus; que acima de cada esperança vã ou ilusão oferecida pela matéria, reina e sobrevive a verdade do espírito e a beleza de uma nova era.
            Realmente, esse tremendo furacão de fogo e de sangue desencadeado pelos homens tem raízes bem mais profundas e mais longínquas do que se possa acreditar.
            Os astrônomos e os astrólogos relacionam-no com as manchas solares; os defensores da fé acreditam que a maldade do homem haja atraído a maldição divina sobre toda a humanidade; e os materialistas, ao contrário, invocam o jogo da interesses e de partidos pretendentes ao poder e ao nacionalismo ou imperialismo dos povos em luta.
            Quem está com a razão ?
            Qual das teses é a mais justa ?
            Todas. Uma porém, é a razão cósmica, outra, a espiritual, e a última, material. Cada uma tem a sua finalidade no quadro do Karma infinito.
            Ninguém pode compreender o porquê de existir no espaço uma estrela maior do que a outra, ou ainda, num recôndito abismo do infinito ir buscar-se o porquê da necessidade do florescer da luz de uma nebulosa que confere vida ao vosso planeta e que, em aparência, jamais atingirá o vosso universo. Assim, ninguém pode compreender que no infinito do tempo continentes hajam sido tragados e dos quais não vos chega senão a sombra de uma lembrança, como no caso da existência da Lemúria ou da Atlântida e de outros ainda mais longínquos de cuja existência nem suspeitamos sequer.
            Se analisardes, porém, profundamente o processo de todas as cousas criadas, encontrareis uma analogia perfeita em cada acontecimento, ainda que no mais insignificante.
            Tudo tem um princípio – tudo tem um fim.
            Tudo tem um fim – tudo tem um princípio.
            A necessidade de princípio se manifesta precisamente porque um acontecimento qualquer teve fim. A necessidade de um fim deriva, em contraste, de haver existido um princípio.
            Onde, porém, tem início e onde termina um para dar lugar ao outro?
            Existe, talvez, uma razão e um ponto onde a ascensão se torna descida e a descida ascensão? Sim, existe, e esse ponto é a apoteose de uma realização.
            Na vida, após a juventude vem a decadência da velhice. Na humanidade, sempre o povo mais civilizado decai e morre, como já ocorreu com a Lemúria, a Atlântida e, ainda mais próximos de vós, as civilizações egípcia, etrusca, grega, romana, etc.
            Por isso hoje a Europa, como continente mais civilizado na evolução espiritual, traz impressos, nas suas terras, nas ruínas das suas cidades, na destruição de seus povos, na decadência dos seus costumes, na luta desesperada em defesa dos seus direitos que todos acreditam dar-lhe mas que ninguém os confere, os sinais de um aniquilamento cruel.
            Essa é, pois, a razão cósmica que impera sobre todo o grande drama humano e que os astrônomos justificam com as influências magnéticas das manchas solares.
            A outra é mais profunda, reside na alma humana e ao mesmo tempo na vontade Divina.
            Para a evolução do espírito é necessário que o homem perca tudo o que, num ciclo, conquistou por meio de duras batalhas, para que um outro se possa iniciar.
            Não é realmente mais perfeita uma civilização que nasce absorvendo daquela que morre tudo o que de bom e de belo ela proporciona ao homem?
            A civilização egípcia foi mais perfeita do que a babilônica ou a assíria, assim como a grega foi mais perfeita do que a etrusca, e a romana mais que a grega.
            O que, da civilização europeia, o mundo todo não possuí? Não partiram da Itália, da França, da Espanha, de Portugal, da Alemanha, da Inglaterra, ciência, sabedoria, idioma, arte, leis?
            E não partiu, ainda, das mesmas fontes, a absurda pretensão do direito de dominar o mundo?
            Se tudo houvessem dado, se a sua civilização houvesse podido realizar um compromisso mútuo entre os direitos da matéria e os deveres do espírito, haveriam encontrado o caminho do amor e do equilíbrio; a vida não haveria perdido o seu valor e o espírito, cônscio dos seus deveres, se teria prendido a Deus e não ao materialismo ao qual a ciência do homem o havia conduzido. Deus quer que a luz brilhe sempre entre os homens e nunca a sombra que, mesmo revestida dos ouropéis do saber, perde o valor da sabedoria que é a maior virtude do espírito.
            Não é mais a fé o credo fervoroso de um povo ou de um grupo de povos que detêm a primazia da civilização. Eles se acreditam muito evoluídos, muito fortes e se outorgam autoridade para analisar Deus e Sua vontade como se tivessem a possibilidade de dobrá-La aos seus desejos. Julgam-se os críticos da obra espiritual dos seus pais e, para eles, o passado não é mais que uma curiosidade histórica, não compreendendo que dela deveriam tirar os ensinamentos para seu espírito.
            Cada ciclo, porém, revela a razão da vida e da morte e em cada agonia surge a realidade de um renovar-se perene, porque sòmente sobre as ardentes chagas da própria carne, da dor da matéria atormentada brotará a flor luminosa do espírito que se voltará sempre para Deus, como do tormento da terra arada surgirá a flor e o fruto para amadurecer à luz do Sol.

ERGOS
            

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