31.7.12

O DUPLO EU



Quando o Divino Respirar emanou o inefável sopro que devia dar alma e voz ao infinito reino das sombras, a matéria inerte, despertada pelo Supremo Querer, serviu à vida do homem.
           A natureza tornou-se o seu reino prodigioso que, ocultando na imanência natural a transcendência do espírito cósmico, devia fatalmente exprimi-la transfigurando os seus primeiros valores.
            E quando a existência criada encheu o vácuo espacial com a sua manifestação, à vontade do espírito foi confiada a trama de seu destino desconhecido.
            Desde então descobrir o mistério das origens converteu-se no tormento mortificante que te impelia à aflita procura da Verdade. Ansioso na tentativa de extrair da imensidade cósmica o segredo da unidade de que guardas a oculta herança e de que te sentes partícipe, aprendeste através do sofrimento humano que o espírito, tênue centelha emanada do Fogo Eterno, leva em si a marca da sua divindade.
        Porém não te basta mais intuir a fonte originária da qual brota a vida; tu tens sede e queres dessedentar-te na fonte maravilhosa daquelas origens ainda ocultas. Elas te serão reveladas pouco a pouco mediante a realização dos valores espirituais que, sendo a intrínsica realidade do Absoluto, sustêm a manifestação das fôrças vivas do homem.
                Porque tudo está contido nos admiráveis aspectos da vida universa, o absurdo real, o espírito e a matéria, o  pensamento e a ação; ela, plasmando a substância sob o impulso de um misterioso querer, torna-se a alma das cousas passadas e a linfa das futuras, pronta a elevar-se nos soberbos vôos para os céus irradiantes de azul ou a precipitar-se atraída pela convidativa e misteriosa voz dos desejos.
                No seu eterno dualismo, sempre em harmonia nos seus contrastes, tu encontrarás a síntese de todos os aspectos e de todas as leis que disciplinam o criado, onde, do microcosmos ao macrocosmos, o equilíbrio com o seu dinamismo, imprimindo um impulso perene a toda manifestação, realiza o prodigioso processo evolutivo.
                A luz se tornará o espírito da sombra, o espaço assinalará o ritmo do tempo, o negativo combaterá o positivo e assim por diante até às formas mais humanas que, no seu campo de ação, compreendem tudo no duplo aspecto: a vida e a morte. A primeira, manifestação concreta do espírito no ciclo da carne; a segunda, realidade abstrata da carne subjugada pela lei da evolução, fôrça inelutável que ninguém conseguirá deter nunca.
                Nessa grande cadeira a centelha energética espiritual do perecível remonta ao eterno ciclo, enquanto a centelha energética material volta como fôrça informe ao Absoluto e n”Êle repousa.
                Duas expressões do Eu, diversas uma da outra, das quais surge o princípio dominante do universo cosmos, e onde se oculta e se manifesta a transcendência e a imanência divinas.
                Esses caracteres que fazem parte do Eu espiritual e do Eu material são transmitidos por Deus que é transcendente porque representa o inconcebível, a irrealidade real, a absurda verdade do Todo que tudo transfigura no Seu sopro criador, e é imanente porque está no homem, no seu espírito e na sua consciência, na sua carne e na sua palavra, porque tudo Lhe pertence, o absoluto e o relativo, o permanente e o transitório, o necessário e o contingente.
                D”Ele só, Princípio de cada cousa, Manancial Onipotente e Motor Imóvel, emana a realidade universal da poeira estelar. E é por essa razão que, atraído pelo brilhante resplandecer dos mundos, o teu desejo vai  em busca da felicidade perdida. Mas o ardor da alma deve deter-se nos umbrais do imprecrustável  Poder, até quando, compreendendo a sua imanência, transfigurar-te-ás na divina transcendência.
                 Por isso, no fascinante mistério da existência, no perene e constante dualismo entre a perecibilidade da matéria e a eternidade do espírito, tu, realizando o maravilhoso ciclo da polaridade da lei, encontrarás, refletidas em ti mesmo, a imanência e transcendência divinas.
                Muitas vezes, durante o caminho da vida, a matéria ofusca a consciência contrastando, em uma luta surda, o espírito que procura arduamente afirmar os seus valores supremos.
                Mas tu, meu filho, afronta conscientemente essa luta tormentosa que, realizando o ciclo humano, te oferece a possibilidade de adquirir as admiráveis virtudes graças às quais poderás levantar-te, da amarga simbiose da carne, da amarga simbiose da carne, à unidade do espírito.
                Só então, no especo sem limites, na calma terrificante do vácuo infinito, o teu espírito vibrará de novo na inefável felicidade do Absoluto.
                Porque no duplo Eu da matéria-espírito, na união harmônica do negativo e positivo dos teus valores espirituais, terás encontrado o equilíbrio.
                E na ânsia universal de um novo vórtice, a tua vontade anulará o passado e o futuro em um eterno presente onde refulgirá o esplendoroso mistério da ressurreição. Ressurreição do espírito do tormento da carne, ressurreição da carne no triunfo do espírito.
ERGOS  

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