Toda a evolução do espírito, por isso, está concentrada em
uma grande lei; a lei da dor, a lei viva das cousas criadas.
Efetivamente
tudo te vem d”Aquele que veste de verde e flores os campos, de neve os cimos
dos montes, de azul o céu, que dá asas e a voz canora aos pássaros, que povoou,
embelezou e transfigurou a Terra, fazendo nela descer a harmonia que te alegra
a existência com o espetáculo da vida universa.
Interroga e
escuta tudo o que te circunda: o sol, as estrelas, os astros, os oceanos, os
rios, as montanhas e as planícies responderão também por ti: ÊLE nos criou.
Se porém
deste realidade de expressão à tua vontade passada, as aflições, as
atribulações, isto é, os aspectos tangíveis do karma, esses são teus, do teu
livre arbítrio, criado pelos reflexos morais de teu passado e regulados por ti
para o teu futuro através da dura disciplina da conquista.
A dor,
física ou moral, assume nas suas gamas aspectos infinitos e para superá-la é
necessário que saibas temperar a tua vontade.
Do tormento
da mãe nasce a criatura, do tormento da terra nascem as flores e o fruto, do
tormento da vida nasce a morte, porque a vida não é senão um suceder-se de
instantes, horas, anos, nos quais o homem morre pouco a pouco.
Da dor da
morte nasce a vida, dirigida para novas auroras, para novos crepúsculos,
dirigida para o superamento da própria dor, para a existência consciente, para
Deus.
Tu mesmo és
a dor, o mundo e todas as cousas criadas de que fazes parte representam essa
lei viva e incriada e, enquanto estiveres na carne e no mundo, estarás na dor.
Tem a cor do teu sangue, está misturada com a tua carne, sustentada pelos teus
ossos, estremece na tua boca, brilha nos teus olhos.
Enquanto
desceres sobre a terra deverás descer na dor, nascerás padecendo, morrerás
padecendo porque esse foi o desejo da tua vontade consciente: purificares-te
através do sofrimento daquela matéria a que te tinhas dirigido com tanta ânsia.
E apenas
quando o tiveres superado, no teu íntimo brilhará de novo o fogo místico que
conheceu os antigos esplendores espirituais e só então poderás verificar que
não era, pois, tão tormentoso como num primeiro momento pudeste acreditar; e no
sofrimento reconhecerás o remédio amargo e precioso, capaz de curar pouco a
pouco os vícios da carne que te aflige.
Ama essa dor
que te apressa o caminho para o alto, ama-a reconhecendo-a como elemento da
purificação por ti querida e procurada, e supera-a. Porque, se desgostado pelo
seu amargor, procurares evitá-la, retardarás a tua cura e voltarás à Terra, no
ciclo contínuo dos renascimentos.
Escuta por
isso a voz intima do teu verdadeiro Eu, a voz que não conhece enganos, porque
descende da verdade e da luz. Começarás a sentir no teu coração uma pena sutil
e persistente, o aguilhão penetrante de um desejo desconhecido e inapagado que
não deixará mais sossegado e te dará nostalgia, até agora nunca experimentada,
de auras puras e de altos e livres céus e então, só então o amargo remédio da
dor se tornará querido a ti.
E quando,
reconhecendo o seu profundo poder, compreenderes como não te é imposta por
ninguém, como faz parte de ti e por ti sòmente é querida em virtude de lei
kármica, não mais a considerarás com amarga aversão.
Por sua
virtude poderás experimentar a alegria e avaliar a felicidade e pela sua lei equilibradora
do despertar terás a possibilidade de despertar do longo letargo a consciência
entorpecida.
A dor por ti
provada e superada, fazendo-te compreender a dos outros, terá o poder de
tornar-te mais generoso com os teus semelhantes, com as criaturas que Deus
coloca constantemente no teu caminho.
O
sofrimento, de fato, cria o amor, como o amor cria a vida. Se choraste saberás
enxugar as lágrimas alheias, se sofreste saberás amar, porque sentirás a
necessidade de ser amado.
Nada mais
falso do que dizer: << Os padecimentos e sofrimentos me endureceram e
irritaram>>, porque no fundo do teu Eu, não obstante a máscara de
aparente crueldade, terás ocultos tesouros de experiências e de amor que, no
momento oportuno, se manifestarão mesmo apesar de ti.
Quem, ao
contrário, mostra realmente uma cínica indiferença pelas penas alheias, não
esteve ainda na escola da dor, não se macerou nas suas leis, mas finge havê-las
sofrido para criar um álibi à sua própria maldade.
A dor,
portanto, é a prova da maturidade da consciência; uma é o fruto da outra. Por consciência
compreendo pureza de pensamento para o justo e o verdadeiro que exprimem a
obtenção das virtudes mais eleitas.
Nesse longo
ciclo da evolução padeceste por ti, por teu pai, por teu irmão, pelo filho,
sofreste pelo teu corpo e pelo teu espírito, lutaste à procura do bem e da
verdade, revistaste o espaço esperando nele encontrar a razão do teu sofrimento
e das criaturas que amaste, procuraste através da ciência o balsamo para lenir
o sofrimento que dilacera o corpo. Mas aparentemente a fadiga te pareceu vã,
porque a dor continuava a ser o aguilhão pungente dos sentidos humanos e
espirituais, à qual encontraste somente um alivio momentâneo.
Que caminho
não percorreste, porem, através das experiências que realizam, no fundo, a
vontade e os desígnios do Pai ?
Apesar do
teu Eu mortal não ter alguma recordação do Passado, a tua consciência desperta
no longo e tormentoso trabalho e, presidindo pouco a pouco o desenvolvimento da
vida psíquica, poderá afrontar provas sempre mais árduas, iluminando-te com a
força da sua maturidade.
ERGOS
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