6.2.11

OS ANTIGOS MISTÉRIOS - PARTE 3/3

A idéia de sobrevivência não implica necessariamente que, em momento indeterminado no futuro, nos levantaremos de nossos túmulos. Não seria muito digno da nossa inteligência que nós nos confundíssemos com as residências carnais que habitamos. A palavra “ressurreição” criou amiúde na mente dos europeus medievais e na dos egípcios não iniciados, uma idéia falsa, puramente material, que nos obriga a tornar a descobrir as leis que governam a secreta constituição do homem.
Os maiores cérebros da antiguidade, os iniciados nos Mistérios eram mui versados nessas leis, mas, enquanto seus lábios estavam selados e as verdades guardadas nas penumbras das criptas, nenhuma dessas inibições nos é imposta expressamente hoje em dia.
Esses foram os Mistérios mais gloriosos dessa desaparecida instituição da antiguidade. Um dia, porém, chegou a degradação e a decadência do Egito, como em degradação e em decadência caíram todas as demais nações de outrora, e assim, cumpriu-se ao pé da letra o vaticínio de Hermes, o profeta precursor:
“Ó Egito, Egito! Terra que foste o solo da divindade, serás privada da presença dos deuses. De tua religião não sobrará senão palavrório e circunlóquios gravados nas pedras, relatando tua devoção perdida. Infelizmente, dirá chegado o dia em que os hieróglifos sagrados não serão mais do que ídolos. O mundo confundirá deuses com símbolos da sabedoria, acusando o grande Egito de haver adorado monstros infernais”.
E, de fato, chegou o dia em que o culto dos Mistérios caiu em mãos indignas; os homens perversos e egoístas, ávidos de aproveitar em seu próprio benefício a influência da poderosa instituição dos Mistérios, ante a qual se inclinaram as cabeças dos altivos Faraós, fizeram com que os sacerdotes se convertessem em foco de virulenta maldade, praticando ritos espantosos e sórdidos encantamentos da magia negra, e alguns dos seus Sumos-sacerdotes, os supostos ministros dos deuses perante os homens, se transformassem em satanases de forma humana e invocassem os mais pavorosos entes do inferno, com fins de inconfessável baixeza. A feitiçaria substituiu a espiritualidade genuína nos recintos sagrados Em caos e trevas sossobrou o país, e os Mistérios não tardaram a perder seu verdadeiro caráter e seu propósito elevado. Candidatos de valor era difícil encontrar e à medida que o tempo passava, eram cada vez mais escassos. Chegou o momento em que os hierofantes qualificados como que por alguma estranha Nêmesis, começaram a morrer ràpidamente, acabando por quase não existir como organismo. Faleceram sem haver preparado um número suficiente de sucessores para continuar a linhagem. Homens indignos ocuparam postos vagos. Incapacitados de cumprir adequadamente sua função no mundo, os poucos que haviam ficado sofreram seu destino assinalado. Preparando-se para o fim, tristes, embora serenos, fecharam seus livros secretos, e abandonando as criptas subterrâneas e câmaras dos santuários, lançaram seu último olhar magoado às suas moradas, e partiram.
Escrevi “foram-se serenamente”, porque no longínquo horizonte do destino egípcio divisaram o advento da reação inevitável da Natureza. Vislumbraram uma faixa de luz que estava destinada a atravessar o céu e a sua pátria e a expandir-se pelas nações vindouras. Perceberam a estrela do Cristo – Aquêle que lançaria abertamente a verdade básica da doutrina dos Mistérios sobre o mundo, sem reservas nem exclusões.
“O mistério que havia sido oculto desde milênios e gerações – como dissera um dos Apóstolos do Cristo – seria revelado às massas sofredoras e ao povo comum”. Todavia, o que as antigas instituições comunicavam a portas fechadas a uma minoria seleta, mediante um processo penoso, foi comunicado a todos pelo simples poder da fé. Jesus sentia demasiado amor em seu coração para se ocupar apenas de alguns poucos. Ele queria salvar aquêles que estavam sem salvação, indicando-lhes um procedimento que só requeria a fé em suas palavras. Não lhes ofereceu misteriosos processos ocultos de iniciação, mas apenas uma regra que, se a aceitassem, poderia lhes dar uma certeza da imortalidade da alma, tão grande quanto a dos Mistérios.
O Caminho Aberto de Jesus ensinava humildade e invocação à ajuda de um Poder Superior - Poder sempre disposto a conferir a certeza absoluta com uma só presença nos corações daqueles que permitissem Sua entrada. A confiança em suas doutrinas, acompanhada de humildade para não ceder à usurpação do intelecto, era tudo o que pedia Jesus. Ofereceu em troca a mais ampla das recompensas: a presença consciente do Pai, sabendo que ao seu contato se dissipariam todas as duvidas e o homem assimilaria por si mesmo a verdade da vida eterna sem ter que sofrer a experiência do transe. O homem poderia saber isto, porque a Mente do Pai teria impregnado seu intelecto, e com essa inefável impregnação a simples fé se transformaria em divina intuição.
Assim que as pesadas portas dos templos dos Mistérios egípcios se fecharam pela última vez, nunca mais os pés dos candidatos ansiosos pisaram os degraus sagrados que os conduziam à entrada do santuário, nem desceram o túnel da cripta. A história, porém, está sujeita ao desenvolvimento cíclico - o que foi, voltará a ser. Mais uma vez estamos envoltos em trevas, e de novo o homem, perturbado por necessidade congênita, busca restabelecer a união com os mundos que perdeu. Aliás, a esperança do autor é que surjam condições propícias, necessárias, e as pessoas indicadas para restabelecer, mais uma vez, nos cinco continentes, uma versão moderna dos Mistérios, modificada e adaptada à nossa época instável e caótica.

E que Mestre Jesus, nosso Pai Oxalá nos ilumine.

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