8.4.11

KAMALOKA - PARTE 5/5

A quinta subdivisão do Kamaloka oferece muitas características novas. Seu aspecto é claramente luminoso e radiante; muito atraente para quem está habituado às cores sombrias da terra, esta região justifica o epíteto de astral, “estrelada”, dado ao conjunto do plano.
É aqui que se encontram todos os céus materializados que tão importante papel representam nas religiões populares do mundo inteiro. As “caçadas celestes” do índio pele vermelha, o Walhalla do escandinavo, o paraíso repleto de huris do muçulmano, a Nova-Jerusalém de ouro e portas de pedras preciosas do cristão; o céu cheio de liceus do reformador materialista. Todos os que se ligam desesperadamente à “letra que mata” encontram aqui a satisfação literal de seus desejos. Por seu poder imaginativo, alimentado pela casca estéril dos livros santos do mundo, constroem inconscientemente em matéria astral os “castelos no ar” que eles tanto sonharam.
As crenças religiosas mais bizarras encontram aqui a sua realização efêmera e informe e os sectários da letra de todas as religiões, exclusivamente desejosos da sua própria salvação no céu, mais materialistas que se pode imaginar, encontram satisfação neste lugar que lhes convém perfeitamente, rodeados como se acham das próprias condições às quais ajustaram sua fé.
Os religiosos e filantropos, que outra preocupação não tiveram senão executar seus próprios caprichos e impôs ao próximo a sua maneira de ver, em vez de trabalharem desinteressadamente pelo acréscimo da virtude e da felicidade humanas, estão aqui muito em evidencia. Organizam casas de educação, asilos, escolas, com grande satisfação pessoal, rejubilam-se em por, de vez em quando, sua mão astral em algum assunto ou questão terrestre por intermédio de um médium dócil, que dirigem com a maior condescendência. Edificam astralmente igrejas, casas, escolas, reproduzindo os céus materiais que ambicionaram; e, embora para um olhar mais clarividente estas construções possam parecer imperfeitas e muitas vezes grotescas, para eles nada deixam a desejar. Os sectários de uma mesma religião reúnem-se e cooperam entre si de maneiras diversas, formando comunidades que diferem entre si tanto como as comunidades análogas daqui em baixo. Quando são atraídos para a terra, procuram, em geral, os correligionários e os compatriotas, e isto não unicamente por afinidade natural, mas porque as barreiras da linguagem subsistem no Kamaloka, como se pode observar nas mensagens espíritas. As almas desta região tomam, às vezes, vivo interesse, nas tentativas feitas para estabelecer comunicações entre nosso mundo e o deles; e é daí e da região imediatamente superior que provêm os “espíritos-guias” de grande número de médiuns. Estas almas sabem que há diante delas uma possibilidade de existência mais elevada e que estão destinadas a passar, cedo ou tarde, a outros mundos onde as comunicações com a terra não serão mais possíveis.
A sexta região do Kamaloka, assemelha-se à quinta, mas é muito mais sutil. É sobretudo povoada de almas mais evoluídas, que acabam de gastar seu invólucro astral, através do qual suas energias mentais se manifestaram em grande parte, durante sua vida física. Sua detenção aí é devida ao papel preponderante representado pelo egoísmo em sua maneira delicada e fina, à gratificação de sua natureza sensível.
Tudo que as cerca é o que há de mais belo em Kamaloka, porque o seu pensamento creador modela a substancia luminosa desta região, em paisagens admiráveis, em oceanos de luz que se movem, montanhas com picos nevoentos e planícies férteis, cenas de uma beleza deslumbrante, mesmo comparadas a tudo que a terra possui de mais delicado.
Encontram-se aqui devotos de religiões, mas de um tipo um pouco mais elevado que os da subdivisão precedente, e tendo um sentimento mais justo de suas próprias limitações. Todos esperam com segurança deixar seu estado atual para passarem a uma esfera mais elevada.
A sétima subdivisão do kamaloka, a mais elevada, é ocupada quase exclusivamente pelos intelectuais, homens e mulheres, que foram na terra de um materialismo pronunciado, ou que de tal forma se adaptaram aos meios pelos quais o mental inferior adquire conhecimentos no corpo físico, que estes continuam prosseguindo tais conhecimentos, segundo o método antigo, porém com as faculdades mais desenvolvidas. Recordemos como instintivamente Carlos Lamb era hostil à idéia que no céu seria obrigado a abandonar seus livros queridos por “não sei que bizarro processo de intuição”. Mais de um sábio vive durante longos anos, às vezes séculos, segundo H.P.Blavatsky, em uma verdadeira biblioteca astral, percorrendo avidamente todas as obras que tratam do seu assunto favorito, e perfeitamente satisfeitos com sua sorte.
Aqueles que concentram toda sua energia sobre qualquer linha de investigação intelectual, e que rejeitaram seu corpo físico sem ter acalmado a sede de conhecimentos, continuam perseguindo seus ideais com uma persistência infatigável, unidos por esse trabalho ao mundo físico. Frequentemente esses homens ainda se mostram céticos, quanto às possibilidades superiores que os esperam e recuam diante da perspectiva do que lhes parece ser realmente uma segunda morte: a perda do conhecimento que precede ao nascimento da alma para uma vida superior do céu. Políticos, homens de Estado, homens de ciência, demoram algum tempo nesta região, despojando-se lentamente de seus invólucros astrais, presos ainda à existência terrestre pelo vivo interesse que tomam pelos movimentos nos quais desempenharam papeis importantes, e pelo esforço que fazem para executar, no astral, alguns projetos que a morte impediu de realizar.
Para todos, salvo para a pequena minoria que não experimentou na terra um único movimento de amor desinteressado ou de aspiração intelectual, que viveu sem nunca ter reconhecido alguma coisa mais elevada que o seu “eu” – para todos chega, cedo ou tarde, um tempo em que finalmente se desatam as prisões do corpo astral.
A alma torna-se momentaneamente inconsciente de tudo que a rodeia – inconsciência semelhante à que se segue a morte física; em seguida é despertada por um sentimento de intensa felicidade, tão grande que é impossível imaginar aqui em baixo a felicidade do mundo celeste, ao qual, por sua própria natureza, a alma pertence. Pode ter alimentado muitas paixões baixas e vis, muitos desejos triviais e sórdidos, mas também ela conheceu os resplendores de uma natureza mais alta, clarões vagos, esparsos, vindos de uma região mais pura. Agora chega, para estes esplendores, o tempo da colheita, e por mais pobres e fracos que sejam, é justo que a alma recolha os seus frutos. Eis porque o homem vai mais longe afim de recolher esta messe celeste e assimilar-lhe os frutos.
O cadáver astral, como o chamam às vezes, ou a “casca astral” da entidade que partiu, compõe-se de restos das sete camadas concêntricas precedentemente descritas, restos mantidos em conjunto ainda, pelo pouco magnetismo anímico que algum tempo perdura. Cada camada, por sua vez, já se desagregou formando fragmentos esparsos, que ficam ligados, por atração magnética, às outras camadas que ainda subsistem. Quando todas já estão reduzidas a esta condição, incluindo a sétima, que é a mais interior, o homem escapa abandonando estes resíduos. A “casca” flutua sem direção, através do mundo astral, repetindo, embora fracamente e de maneira automática, suas costumadas vibrações. À medida que o magnetismo restante dispersa, a casca dissolve-se cada vez mais, e acaba por se decompor totalmente, restituindo seus materiais ao deposito comum da matéria astral, como o corpo físico restitui ao mundo físico os elementos com os quais se compõe.
Esta casca astral erra aqui e ali, ao sabor das correntes astrais; e, se não estiver muito decomposta, pode ser vitalizada pelo magnetismo das almas encarnadas na terra, tornando-se assim capaz de alguma atividade. Ela absorve o magnetismo como a esponja absorve a água, e reveste-se então de uma aparência ilusória de vida, repetindo com uma intenção acentuada as vibrações às quais outrora se acostumou. Estas vibrações são muitas vezes despertadas sob a ação de algum pensamento comum à alma desaparecida e aos amigos terrestres, e a “casca” assim vitalizada pode representar sofrivelmente o papel de inteligência comunicante. Ela entretanto distingue-se – além do emprego da visão astral – pela repetição automática dos pensamentos familiares, assim como pela ausência completa de toda a idéia original e de conhecimentos adquiridos depois da morte física.
Assim como as almas podem ser entravadas em seu progresso por amigos ignorantes e irrefletidos, assim também é possível ir em seu auxílio com esforços sábios e bem dirigidos. Eis porque todas as religiões conservam alguns traços da sabedoria oculta dos seus fundadores, prescrevendo o emprego das “orações pelos mortos”.
Estas preces, assim como as cerimônias que as acompanham, são mais ou menos eficazes conforme o conhecimento, o amor e o poder da vontade que as animam. Têm por base o principio universal das vibrações, por meio do qual o universo é construído, mantido e transformado, Os sons proferidos produzem vibrações, modelando a matéria astral em formas determinadas, animadas pelo pensamento que as palavras encerram.
Estas formas-pensamentos são dirigidas para a entidade purgatorial e, agindo sobre seu corpo astral, apressam sua dissolução. Com a decadência do saber oculto, estas cerimônias tornaram-se cada vez menos eficazes, até serem de utilidade quase nula. Entretanto, quando elas são executadas por um homem de conhecimentos, exercem a influencia desejada. Demais, cada um pode ajudar seus mortos amados, enviando-lhes pensamentos de amor e de paz, fazendo votos por seu progresso rápido através do Kamaloka e de sua libertação dos entreves astrais.
Que nossos mortos nunca sigam, solitários, seu caminho, privados do socorro de nossas formas-pensamentos amantes. Abandonados dos anjos da guarda que os devem guiar e encoraja-los em sua marcha para a suprema felicidade.

Fim.

Nenhum comentário:

Postar um comentário