21.2.11

MORRER VIVENDO

Oriovisto Guimarães, brindou os seus leitores com excelente texto intitulado Morrer Vivendo.
Não sei qual a religião do dinâmico Diretor Presidente do Grupo Positivo, mas a essência do que escreveu o coloca no mínimo como um privilegiado sensitivo dos problemas que afligem o ser humano. Vou transcrever o texto que publicou no jornal Gazeta do Povo no dia 19 passado:
“Aprender a viver e a morrer, essa é a grande missão que cada homem deve ser capaz de cumprir, na mais profunda solidão
As flores, as árvores, os animais, os homens e mesmo as estrelas nascem, vivem e morrem. Apenas nós, os homens, deixamo-nos atormentar por esse mar misterioso onde desaguam todos os rios da vida.
Dois mil anos atrás, Lucio Aneu Sêneca nos ensinou: “Deve-se aprender a viver por toda a vida e, por mais que tu talvez te espantes, a vida toda é um aprender a morrer”.
Aprender a viver e a morrer, essa é a grande missão que cada homem deve ser capaz de cumprir, na mais profunda solidão, exatamente naquela solidão insuperável que nos torna únicos.
Vida e morte, dentro de cada um de nós. Todo o tempo, nascem e morrem ilusões, sentimentos, descobertas, crenças, agonias. Impossível vida interior sem morte interior.
Viver é morrer. Morrer, todos os dias um pouco, é viver. Essa infindável sucessão dialética de morte e vida, sempre presente dentro de nós, alarga nossa compreensão da vida e de seu fim.
Aquele que não se desencanta é porque nunca se encantou. O conhecido morre diante do desconhecido. O canto dos pássaros mata o silêncio. O saber é a morte da ignorância. Impossível viver a magia sem deixar de viver o real.
Sem paixão, sem vontade, para que serve a razão? Nossos desequilíbrios são sempre provocados pela morte temporária de uma dessas três senhoras.
A noite, o sono e o descanso são uma espécie de morte diária, assim como o dia e o despertar anunciam o fim do repouso.
Alguém já disse: “Não se vive sem respirar, mas não se vive apenas para respirar”. Viver como as plantas ou os animais é pouco.
O humano é exatamente aquilo que escapa das leis da Física, da Química, da Biologia e mesmo da Economia. O humano é a consciência do universo que nasce, cresce, vive e ao silêncio do mistério retorna.
É triste o espetáculo encenado pelos mortos-vivos (zumbis?), incapazes de sonhar e dar vida ao humano por medo da morte.
Não sabem os tolos, que imaginam se preservar, que é impossível a vida sem a morte, que o medo em excesso impossibilita o pleno viver.
Unir o sentir, o pensar e o fazer. Amar as grandes perguntas é grande prazer para o homem, mas se constitui em verdadeiro tormento para os homens zumbis. Burocratas do impossível de ser normatizado, oportunistas sem ideal. Respiram para viver e tristemente vivem para respirar.
João Guimarães Rosa descreve muito bem o homem de alma pequena: “Ali tinha carrapato...que é que chupavam, para seu miudinho viver?”.
Fernando Pessoa mostra o caminho para a autoconstrução do humano: “Deus ao mar o perigo e o abismo deu, mas nele é que espelhou o céu”.
Morte ou vida, em vida! Opção de cada um?
Para os que ousam escalar a montanha, o horizonte é o prêmio. Do alto se pode ver mais longe, observar a planície, respirar o ar puro, aceitar e compreender todas as mortes que suportam a vida e, finalmente, morrer com um sorriso nos lábios. Haverá prêmio maior?
Oriovisto Guimarães é membro da Academia Paranaense de Letras.”

16.2.11

VIDA MODERNA

A capacidade para o isolamento não é alimentada pela nossa época. A presente Era da Tecnologia não estimula o gosto para o silêncio. Contudo, penso e creio na necessidade de um breve período de isolamento, um pequeno treino diário de meditação silenciosa. Assim se refresca o coração fatigado e a mente esgotada se inspira. A vida atual parece uma caldeira rugidora, para dentro qual os homens são arrastados. À medida que passam os dias, diminui a intimidade recôndita consigo mesmo e aumenta a intimidade com a caldeira.
Recorrer à meditação regular rende frutos abundantes, evidenciando a profundidade espiritual na firmeza em hora de decisão, na coragem para viver como se queira, sem depender da opinião alheia, e na estabilidade no meio da turbulenta época de hoje.
A pior conseqüência da vida moderna é a ausência do poder do pensamento profundo; na intensidade da vida febril de uma metrópole, o homem não tem tempo para pensar que a vida interior se vai paralisando, pois a única coisa de que se lembra é que está apressado. Mas a natureza não tem pressa. Demorou milhões de anos para fazer essa insignificante figura que avança rápida pelas ruas; pode bem aguardar ainda a chegada de outros tempos nos quais aquele homenzinho, vivendo uma existência mais tranqüila, com atividades menos agitadas, emerja das desgraças e agonias inflingidas por si próprio e fixe seu olhar na fonte do pensamento divino, que estava enterrada sob a ruidosa superfície de si mesmo e do seu meio ambiente.
Nossos sentidos físicos têm sido nossos amos e senhores; agora já é tempo de que sejamos nós os seus donos. No sagrado barco da alma, navegamos por mares aonde os sentidos corporais não nos podem acompanhar.

6.2.11

OS ANTIGOS MISTÉRIOS - PARTE 3/3

A idéia de sobrevivência não implica necessariamente que, em momento indeterminado no futuro, nos levantaremos de nossos túmulos. Não seria muito digno da nossa inteligência que nós nos confundíssemos com as residências carnais que habitamos. A palavra “ressurreição” criou amiúde na mente dos europeus medievais e na dos egípcios não iniciados, uma idéia falsa, puramente material, que nos obriga a tornar a descobrir as leis que governam a secreta constituição do homem.
Os maiores cérebros da antiguidade, os iniciados nos Mistérios eram mui versados nessas leis, mas, enquanto seus lábios estavam selados e as verdades guardadas nas penumbras das criptas, nenhuma dessas inibições nos é imposta expressamente hoje em dia.
Esses foram os Mistérios mais gloriosos dessa desaparecida instituição da antiguidade. Um dia, porém, chegou a degradação e a decadência do Egito, como em degradação e em decadência caíram todas as demais nações de outrora, e assim, cumpriu-se ao pé da letra o vaticínio de Hermes, o profeta precursor:
“Ó Egito, Egito! Terra que foste o solo da divindade, serás privada da presença dos deuses. De tua religião não sobrará senão palavrório e circunlóquios gravados nas pedras, relatando tua devoção perdida. Infelizmente, dirá chegado o dia em que os hieróglifos sagrados não serão mais do que ídolos. O mundo confundirá deuses com símbolos da sabedoria, acusando o grande Egito de haver adorado monstros infernais”.
E, de fato, chegou o dia em que o culto dos Mistérios caiu em mãos indignas; os homens perversos e egoístas, ávidos de aproveitar em seu próprio benefício a influência da poderosa instituição dos Mistérios, ante a qual se inclinaram as cabeças dos altivos Faraós, fizeram com que os sacerdotes se convertessem em foco de virulenta maldade, praticando ritos espantosos e sórdidos encantamentos da magia negra, e alguns dos seus Sumos-sacerdotes, os supostos ministros dos deuses perante os homens, se transformassem em satanases de forma humana e invocassem os mais pavorosos entes do inferno, com fins de inconfessável baixeza. A feitiçaria substituiu a espiritualidade genuína nos recintos sagrados Em caos e trevas sossobrou o país, e os Mistérios não tardaram a perder seu verdadeiro caráter e seu propósito elevado. Candidatos de valor era difícil encontrar e à medida que o tempo passava, eram cada vez mais escassos. Chegou o momento em que os hierofantes qualificados como que por alguma estranha Nêmesis, começaram a morrer ràpidamente, acabando por quase não existir como organismo. Faleceram sem haver preparado um número suficiente de sucessores para continuar a linhagem. Homens indignos ocuparam postos vagos. Incapacitados de cumprir adequadamente sua função no mundo, os poucos que haviam ficado sofreram seu destino assinalado. Preparando-se para o fim, tristes, embora serenos, fecharam seus livros secretos, e abandonando as criptas subterrâneas e câmaras dos santuários, lançaram seu último olhar magoado às suas moradas, e partiram.
Escrevi “foram-se serenamente”, porque no longínquo horizonte do destino egípcio divisaram o advento da reação inevitável da Natureza. Vislumbraram uma faixa de luz que estava destinada a atravessar o céu e a sua pátria e a expandir-se pelas nações vindouras. Perceberam a estrela do Cristo – Aquêle que lançaria abertamente a verdade básica da doutrina dos Mistérios sobre o mundo, sem reservas nem exclusões.
“O mistério que havia sido oculto desde milênios e gerações – como dissera um dos Apóstolos do Cristo – seria revelado às massas sofredoras e ao povo comum”. Todavia, o que as antigas instituições comunicavam a portas fechadas a uma minoria seleta, mediante um processo penoso, foi comunicado a todos pelo simples poder da fé. Jesus sentia demasiado amor em seu coração para se ocupar apenas de alguns poucos. Ele queria salvar aquêles que estavam sem salvação, indicando-lhes um procedimento que só requeria a fé em suas palavras. Não lhes ofereceu misteriosos processos ocultos de iniciação, mas apenas uma regra que, se a aceitassem, poderia lhes dar uma certeza da imortalidade da alma, tão grande quanto a dos Mistérios.
O Caminho Aberto de Jesus ensinava humildade e invocação à ajuda de um Poder Superior - Poder sempre disposto a conferir a certeza absoluta com uma só presença nos corações daqueles que permitissem Sua entrada. A confiança em suas doutrinas, acompanhada de humildade para não ceder à usurpação do intelecto, era tudo o que pedia Jesus. Ofereceu em troca a mais ampla das recompensas: a presença consciente do Pai, sabendo que ao seu contato se dissipariam todas as duvidas e o homem assimilaria por si mesmo a verdade da vida eterna sem ter que sofrer a experiência do transe. O homem poderia saber isto, porque a Mente do Pai teria impregnado seu intelecto, e com essa inefável impregnação a simples fé se transformaria em divina intuição.
Assim que as pesadas portas dos templos dos Mistérios egípcios se fecharam pela última vez, nunca mais os pés dos candidatos ansiosos pisaram os degraus sagrados que os conduziam à entrada do santuário, nem desceram o túnel da cripta. A história, porém, está sujeita ao desenvolvimento cíclico - o que foi, voltará a ser. Mais uma vez estamos envoltos em trevas, e de novo o homem, perturbado por necessidade congênita, busca restabelecer a união com os mundos que perdeu. Aliás, a esperança do autor é que surjam condições propícias, necessárias, e as pessoas indicadas para restabelecer, mais uma vez, nos cinco continentes, uma versão moderna dos Mistérios, modificada e adaptada à nossa época instável e caótica.

E que Mestre Jesus, nosso Pai Oxalá nos ilumine.

OS ANTIGOS MISTÉRIOS - PARTE 2/3

Numerosos papiros e inscrições murais demonstram a intensidade com que os primitivos egípcios reverenciaram o rito de Osíris, e revelam o temor dos nativos ao mirar aqueles a quem se permitia penetrar nos santuários reservados e nas criptas consagradas, onde se realizavam as fases mais sagradas do ritual secreto. Havia o grau supremo e final de iniciação, em que as almas não eram simplesmente desprendidas dos corpos mergulhados na morte aparente, para provar a verdade da sobrevivência depois do grande traspasse, mas eram levadas às esferas mais altas do ser, ao reino mesmo do Criador. Nessa maravilhosa experiência, a mente finita do homem se punha em contato com a Mente Infinita da sua divindade superior. Era-lhe dado entrar, por um breve instante, em silenciosa e magnânima comunhão com o Pai Nosso, e esse fugaz contato de êxtase indizível era suficiente para lhe mudar toda atitude para com a vida. Havia comungado com o elemento mais santo que existe no ser, descoberto um raio inefável da Deidade do seu verdadeiro e recôndito Eu, de cujo corpo a alma que sobrevive à morte é apenas uma roupagem intangível. Verdadeiramente, e de fato, havia nascido de novo no mais elevado sentido da palavra. O iniciado dessa forma tornava-se Adepto perfeito e, segundo o que dizem os hieróglifos - podia esperar os favores dos deuses durante a vida e o estado de paraíso depois da morte".
Essa experiência era vivida em transe, ainda que exteriormente se assemelhasse ao transe hipnótico empregado nos primeiros graus da iniciação, mas era fundamentalmente distinta. Nenhum poder hipnótico lha poderia conferir, nenhuma cerimônia mágica jamais lha poderia evocar! Somente os supremos hierofantes, unidos às suas divindades, e suas vontades fundidas com a sua, poderiam, com sua tremenda fôrça divina, tornar o candidato consciente da sua natureza superior. Esta foi a revelação mais nobre e mais impressionante que foi acessível ao homem egípcio, e ainda hoje o é ao homem atual, embora por outros métodos e diversos caminhos.
A experiência da iniciação era uma reprodução em miniatura da experiência destinada a ser vivida por todo o gênero humano através dos processos da evolução. A única diferença é que, como a primeira é uma conquista forçada, era obtida pelo crescimento rápido, um processo artificial como o transe, enquanto que o desenvolvimento psíquico e espiritual deve se processar naturalmente.
A experiência refletia dentro da alma todo o drama da evolução humana e o iniludível destino do homem.
O princípio em que se baseavam as experiências era que a natureza física do homem podia ser paralisada temporariamente mediante profundo sono letárgico, e sua natureza psíquica, habitualmente latente, podia ser despertada por um processo conhecido só pelos hierofantes. Visto por qualquer observador, o homem induzido artificialmente ao estado de coma pareceria na realidade morto. Com efeito, na linguagem simbólica dos Mistérios, dir-se-ia que "tinha descido na tumba" ou "sepultado na cova". Privado dessa maneira da sua vitalidade, o corpo, as forças das suas paixões e desejos pessoais estão temporariamente adormecidos; o candidato fica realmente morto para todas as coisas mundanas, enquanto a sua consciência, seu ser anímico, se separa da carne. Só nesse estado era possível ao homem perceber o mundo espiritual tal como é percebido pelos próprios espíritos - ter visões dos deuses e anjos, pairar no espaço infinito - conhecer seu mais recôndito ser e ... finalmente, o DEUS VERDADEIRO.
Este homem pode dizer com razão que esteve morto e ressuscitou, pois simbólica e literalmente esteve dormindo na tumba e passou pelo milagre da ressurreição, acordando para nova compreensão do significado espiritual da morte e lembranças da vida divina que palpita no seu coração. Trazia consigo os estigmas do hierofante que havia produzido essa inesquecível experiência e, depois, os dois ficavam unidos para sempre por laços inquebrantáveis, íntimos e profundos. A doutrina da imortalidade da alma já não era uma simples doutrina; era um fato comprovado, demonstrado sem reservas ao iniciado. Ao despertar à luz do sol, podia dizer com absoluta certeza que tinha regressado ao mundo, totalmente transformado e renascido espiritualmente. Havia passado por céus e infernos e conhecido alguns dos seus segredos, porém também, daí por diante, a ajustar sua vida e conduta ao conhecimento de que esses dois mundos existem realmente. Transitava pela vida, ciente e seguro da imortalidade da alma, pondo em reserva as fontes em que havia bebido; mas, mesmo inconscientemente, não podia deixar de transmitir aos seus semelhantes sua certeza, renovando-lhes a fé mediante misteriosa telepatia inconsciente que sempre circula entre os homens. Não acreditava na morte, mas sim, na Vida, vida perene, auto-existente e sempre consciente. Acreditava naquilo que o hierofante havia descoberto nos resguardados retiros do templo; descobrira que existe a alma oriunda do raio do sol central, Deus para ele. A história de Osiris havia adquirido um sentido pessoal. Ao descobrir o próprio renascimento, descobrira Osiris que era o seu próprio ser imperecedouro.
Essa foi a verdadeira doutrina do sagrado texto mais antigo do Egito, O LIVRO DOS MORTOS que, todavia, em sua presente forma conhecida, é uma mistura de papiros referindo-se a mortos e mortos-vivos - os iniciados - e daí ser um tanto confuso. Que primitivamente, em sua forma original e intacta, pertenceu aos Mistérios, prova esta passagem: É um livro de um mistério supremo - que não o veja os olhos de nenhum homem (profano); seria abominação. Ocultai sua existência. Chama-se "O LIVRO DO MESTRE DO TEMPLO SECRETO".
Essa é a origem de que os defuntos (na realidade os iniciados) antepunham aos seus nomes o nome de Osiris, fato freqüentemente repetido no LIVRO DOS MORTOS. Nas primeiras versões dessa obra antiga, os defuntos diziam de si mesmos: "Eu sou Osiris". "Tornei-me como tu, vivo como os deuses", justificando dessa maneira a interpretação atual de que, morto, Osiris era na realidade o iniciado, o mergulhado em transe similar à morte.
Assim como no papiro de Nu ilustrado com pitorescas vinhetas, exclama um iniciado triunfante: "Sim, eu também sou Osiris. Tornei-me glorioso. Sentei-me na câmara de nascimento de Osiris, e nasci como ele. Abri a boca dos deuses. Sentei-me no mesmo lugar onde ele se senta".
Eis aí mais uma passagem de outro papiro do LIVRO:
"Elevei-me a Deus Venerado, o Mestre da Grande Morada".
Assim era a instrução recebida nos Mistérios, instituição tão prestigiada na antiguidade, e tão depreciada nos tempos modernos.
Podemos, pois, compreender o verdadeiro intuito das antigas religiões, se compreendermos também que seus heróis personificam a alma humana e suas aventuras representam experiências da alma em busca do Reino do Céu.
Osiris tornar-se-ia, então, a imagem do elemento divino do homem, e a história simbólica desse elemento está na sua descida ao mundo da matéria e sua reascensão à consciência espiritual.
Seu lendário retalhamento em catorze ou quarenta e dois pedaços simbolizava o atual desmembramento espiritual do ser humano, cuja harmonia de outrora foi quebrada. Sua razão foi divorciada de seus sentimentos, e a confusão e os propósitos desencontrados o jogaram de um lado para o outro. Assim, também, a história de Isis que, recolhendo os fragmentos esparsos do corpo de Osiris e renovando-lhe a vida, simbolizava a reintegração, primeiro, pelos Mistérios e, mais tarde, pela evolução da natureza belicosa do homem à perfeita harmonia, harmonia em que o espírito e o corpo se movem de comum acordo e a razão corre paralela aos sentimentos. Era o retorno à primordial unidade.
A doutrina suprema dos egípcios, o fundamento teórico dos graus superiores da iniciação, dizia que a alma deve voltar finalmente ao Ser Divino que a irradiou e, referindo-se ao regresso, falava "tornar-se Osiris". Considerava, portanto, que o homem, embora sujeito às leis da terra, era potencialmente Osiris. No manual secreto da iniciação, o LIVRO DOS MORTOS, admoesta-se a alma desprendida do candidato a proteger-se em suas grandes e perigosas viagens supra-terrestres, não só usando os amuletos, como também clamando com ousadia: "Eu sou Osiris"!
"Ó alma cega! - disse a mesma Escritura Sagrada - "apanha a tocha dos Mistérios e poderás na noite terrena vislumbrar teu duplo luminoso, teu Divino Ser. Segue esse guia celestial e ele será o Gênio, que possui a chave da tua existência passada e futura".
Por conseguinte, a iniciação equivalia a receber uma nova visão da vida, a visão espiritual que o gênero humano perdera num passado remoto, quando da sua "queda" do "paraíso" na matéria. Os Mistérios eram um meio, uma possibilidade de reascensão interior gradativa ao estado perfeito - à iluminação. Revelavam aqueles mundos misteriosos do Além do umbral da matéria e, posteriormente, o maior de todos os mistérios: a própria divindade do homem.Mostravam ao candidato, os mundos infernais tanto para por à prova seu caráter e sua resolução quanto para instruí-lo, e lhe abriam os mundos celestiais para animá-lo e rejubilá-lo. E se recorriam ao transe, não quer dizer que não havia ou não haja outros métodos; apenas era um processo que eles usavam, porém o Reino pode ser conquistado por outras vias; não é obrigatório que seja o transe.
Qual de nós está em condições de repetir as nobres palavras de um iniciado filósofo romano que disse: "Onde nós estamos não há morte - onde existe a morte lá não estamos. É a última e a maior dádiva da natureza, porque liberta o homem de todos os entraves e, no pior dos casos, é o fim do banquete que temos gozado".
Nossa atitude perante a morte subentende nossa atitude perante a vida. Os Mistérios mudavam a atitude do homem para com a morte, porquanto alternavam sua conduta de vida. Demonstravam que a morte não é mais do que o anverso da moeda da vida.
As investigações científicas, psíquicas e psicológicas estão mudando a atitude do mundo ocidental que, antes, considerava certos assuntos como irracionais e tolos. Essas pesquisas estão libertando as idéias dos antigos do desmerecido desdém em que jaziam, enquanto os outros conceitos mais jovens apareciam e desenvolviam sua virilidade pujante. Estamos começando a perceber quão sadias eram as idéias aparentemente insanas dos antigos. A prova da existência das forças imateriais sobressaltou nossa era agnóstica. Nossas sumidades científicas e os grandes pensadores estão se unindo às fileiras dos que crêem que a vida tem uma base espiritual. E o que eles estão pensando hoje, amanhã pensarão as massas. Começamos e, talvez com razão, depois de totalmente descrentes, a ser crentes fervorosos.
A primeira grande mensagem dos antigos Mistérios - NÃO EXISTE A MORTE - ainda que seja sempre susceptível de prova pessoal da experiência para poucos, está destinada a ser difundida para o mundo inteiro.

5.2.11

OS ANTIGOS MISTÉRIOS - PARTE 1/3

Aqueles que eram iniciados nos ANTIGOS MISTÉRIOS faziam juramento solene de jamais revelar o que se havia passado dentro das sagradas paredes. Antes de mais nada, devemos recordar o fato de que todos os anos eram poucos os iniciados nos Mistérios e, por isso, nunca houve número considerável de pessoas conhecedoras dos segredos. Sendo os juramentos cumpridos com toda fidelidade, nenhum escritor de antanho revelou ao público em que consistiam exatamente os Mistérios. Não obstante, as alusões, os comentários de autores clássicos, as frases fortuitas e as inscrições hieroglíficas que foram decifradas, são suficientes para nos permitir dar uma rápida vista d’olhos à natureza dessas obscuras e enigmáticas instituições místicas da antiguidade. Esse relance visual confirma que o propósito dos Mistérios no seu primeiro e imaculado estado, era indubitàvelmente muito elevado; pròpriamente dito, seu objetivo era tríplice: religioso, filosófico e ético.
“Salve tu que experimentaste o que nunca havias experimentado; passaste de homem a deus” – essa era a frase com a qual o iniciado órfico dos graus superiores era despedido no fim da cerimônia.
A quem batia lhe era aberta a porta do Templo dos Mistérios; mas ser admitido já era um outro assunto. Segundo as palavras de Pitágoras, ao excluir da sua Academia de Crotona os postulantes inadaptáveis, “ nem todo material serve para fazer-se um (deus) Mercúrio”.
A primeira etapa da iniciação – aquela que provava sobrevivência – trazia consigo uma terrível e pavorosa experiência, como prelúdio do deleitoso despertar no corpo da alma.
Em algumas iniciações preliminares, mas não em todas, houve tempo em que usavam meios artificiais para fazer crer ao candidato ter ele caído num poço perigoso, ou ter sido tragado por uma maré de ondas impetuosas, ou ser atacado por animais ferozes. Punham-se assim à prova o valor e a coragem do candidato.. Contudo, a prova mais espantosa era aquela em que nos graus adiantados lhe era concedida a clarividência momentânea, para que enfrentasse criaturas aterradoras do inferno.
“A mente no momento da morte é afetada e agitada como na iniciação nos Grandes Mistérios; a primeira etapa é mais do que incertezas, erros, divagações e trevas. Chegando ao limiar da morte e da iniciação, todas as coisas tomam aspecto terrível – tudo é horror, temor e terror. No entanto, ao fim deste espetáculo, a luz maravilhosa e divina se difunde ... e, perfeitos e iniciados são livres; coroados e triunfantes, transitam pela região da bem-aventurança”. Esta passagem procede de uma crônica antiga e foi conservada por Stobaeus, confirmando as experiências de todos os demais iniciados.
Nos antigos papiros encontra-se desenhado um candidato conduzido por Anúbis, deus da cabeça de chacal, mestre dos Mistérios, para a realização dessa prova. Anúbis o faz atravessar o umbral do mundo desconhecido, levando-o à presença de aparições aterradoras.
Os conhecimentos ensinados nestas escolas de iniciação haviam sido transmitidos diretamente da primitiva revelação da Verdade às primeiras civilizações, e deviam ser protegidos para que conservassem sua pureza. Assim, pois, compreende-se porque os segredos foram tão cuidadosamente ocultados e zelosamente preservados dos profanos.
O estado a que era submetido o candidato à iniciação não deve ser confundido com um sono comum; era um estado de transe que libertava seu ser consciente, um sono mágico em que ficava paradoxalmente desperto, lúcido, mas para um outro mundo.
Além do mais, seria um grave erro confundir essa sublime experiência com o manejo mental dos hipnotizadores modernos que mergulham o paciente num estado, cuja condição estranha eles mesmos não entendem; ao passo que os hierofantes dos Mistérios possuíam sabedoria tradicional secreta que lhes permitia exercer seus poderes com pleno conhecimento de causa. Os hipnotizadores extraem a mente subconsciente do paciente sem nada saber das mudanças de condição, enquanto que os hierofantes vigiavam todas as variações com seu poder de percepção. E, sobretudo, o hipnotizador é apenas capaz de elucidar questões relativas ao mundo material e à vida vegetativa, ao passo que os hierofantes penetravam mais fundo e sabiam conduzir a mente do candidato, passo a passo, pela experiência que abrangia os mundos espirituais, processo que não está no poder de nenhum hipnotizador moderno.
Observei todas as classes de fenômenos hipnóticos realizados tanto nos países orientais como nos ocidentais e, ainda que vários deles sejam indubitavelmente maravilhosos, não obstante, todos pertencem à ordem inferior. Não eram processos sagrados. Tinham interesse científico, sem dúvida, porém careciam de valor espiritual genuíno. Embora provando, ao arrancar o homem do abismo grosseiro da matéria, a existência de misteriosas fôrças subconscientes, não podiam leva-lo ao conhecimento consciente da alma como sendo algo vivo, imortal e independente do corpo.
Baseando-me na própria experiência que tive na Pirâmide e no testemunho deixado nos baixo-relevos dos templos, pude reconstruir o misterioso drama do rito mais secreto de Osíris. Esse rito sagrado não era nem mais nem menos do que um processo cuja composição de forças hipnóticas, mágica e espiritual libertava por algumas horas e, às vezes dias, a alma do candidato da servidão da carne para que, quando regressasse à vida, tivesse sempre presente na memória sua transcedental experiência e conseqüentemente ordenasse sua vida. A crença na sobrevivência da alma, era robustecida na convicção pela evidência oriunda do conhecimento pessoal.
O que significava para ele, só podia ser apreciado por aquêles que tivessem passado por experiência similar. Ainda na época de hoje, alguns passam involuntária e inesperadamente por uma Parte dessa experiência. Conheço um caso ocorrido durante a guerra. Um ex-oficial da Fôrça Aérea foi anestesiado para ser submetido à uma intervenção cirúrgica. A droga produziu um efeito muito curioso; insensibilizou-o à dor sem obnubilhar-lhe a consciência. O paciente não adormeceu; pelo contrário, ficou lúcido, flutuando no ar, acima da mesa da operação, e observava tranqüilamente como se estivesse assistindo à operação de um corpo alheio! Este episódio provocou uma mudança radical no seu caráter; materialista que era, converteu-se num crente na existência da alma e, a partir desse momento, viveu com um novo objetivo e esperança.
Quem eram esses hierofantes cujo poder provocava nos homens tão estupenda transformação? Veneráveis guardiões desta elevada escola, forçosamente eram sempre muito poucos; mas em certa época abrangeram todos os Sumo-sacerdotes do Egito como também alguns membros superiores do clero. Conservavam seus conhecimentos no maior segredo e com tanto hermetismo, que nas épocas clássicas e palavra Egito chegou a ser sinônimo de “mistério”. No Museu do Louvre, em Paris, na galeria egípcia, há um sarcófago de Sumo-sacerdote de Mênfis, Ptah-Mer, em cujo epitáfio se lêem as seguintes palavras: “Penetrou nos mistérios de todos os santuários; para ele não havia nada oculto. Cobriu com o véu o que havia visto”. Os hierofantes eram obrigados a manter essa extraordinária reserva, por motivos deles conhecidos. A necessidade de excluir os céticos e zombeteiros dos experimentos tão perigosos para a vida do candidato, torna-se tão evidente, como é óbvio o despropósito de lançar pérolas diante de porcos.Seja como for, é mais provável que nem todos estivessem suficientemente preparados ou dispostos para enfrentar uma experiência dessa envergadura, que lhes poderia provocar a loucura ou mesmo a própria morte; assim os Mistérios tornaram-se um privilégio de poucos. Muitos batiam às portas dos Templos, mas em vão; outros eram submetidos a uma série gradual de provas, que lhes abatia seu valor ou lhes diminuía o anseio de serem iniciados. Nessa forma de seleção natural, mediante processo eliminatório, a iniciação nos Mistérios chegou a ser a instituição mais exclusiva da antiguidade, e os segredos que existiam por trás das suas bem guardadas portas, eram sempre revelados sob o solene juramento de jamais serem divulgados. Todos os homens que passavam por aquelas portas, pertenciam em seguida, definitivamente, à uma sociedade secreta que vivia e trabalhava entre as massas profanas com um objetivo mais elevado e conhecimento mais profundo. “Dizem que aquêles que tinham participado dos Mistérios, tornavam-se mais espirituais, mais justos e melhores em todos os sentidos” – escreveu Diodoro, um visitante da Sicília.
Não eram as iniciações limitadas apenas ao Egito. As mais remotas civilizações herdaram os Mistérios de uma civilização ainda mais antiga, e eram parte da primitiva revelação feita por deuses ao gênero humano. Quase todos os povos de todas as raças, antes da era cristã, possuíam sua instituição e tradição dos Mistérios. Os romanos, os celtas, os druidas da Britânia, os gregos, os cretenses, os sírios, os hindus, os persas, os maias e os índios norte-americanos,, entre outros, tiveram seus templos e correspondentes ritos, com um sistema análogo de iluminação gradual para os iniciados. Aristóteles não hesitou em declarar que ele considerava o bem-estar da Grécia assegurado pelos Mistérios Eleusianos. Sócrates observou que “os que conhecem os Mistérios, asseguravam-se agradabilíssimas esperanças na hora da morte”. Entre os antigos que davam a entender ou confessavam abertamente sua iniciação nos Mistérios, podemos mencionar os nomes de Aristides o orador, Menipo de Babilônia, Sófocles o dramaturgo, Ésquilo o poeta, Sólon o legislador, Cícero, Heráclito de Éfeso, Píndaro e Pitágoras.
Ainda hoje, nos graus superiores de jiu-jitsu, no Japão, graus conhecidos sòmente por alguns, por que envolviam segredos convenientes só a poucos, o candidato tem que seguir um curso de Mistérios espirituais. No momento apropriado, ele é impelido a passar por uma cerimônia de iniciação, em que deve ser “estrangulado” pelo mestre. O ato de “estrangulamento” não requer mais de um minuto, e o discípulo fica deitado no sofá, substancialmente morto. Enquanto permanece nesse estado, seu espírito se desprende do corpo e recebe a experiência do Além. Depois de passar o tempo determinado para a morte, o mestre faz com que ele volte à vida mediante uma prática misteriosa, cujo nome intraduzível é o de “wkappo”. Aquele que volta dessa maravilhosa experiência, é um iniciado. Como também, ainda hoje, os maçons conservam alguns restos dessas instituições, cujas raízes remontam ao Egito. Os membros da maçonaria mencionam Pitágoras como um exemplo desta antiga instituição – sabem eles que ele foi iniciado no Egito? Os que instituíram os graus na maçonaria, adotaram vários dos símbolos significativos dos Mistérios egípcios.

“ESTE É UM ALERTA AOS “umbandistas”.

Que a inevitável corrupção da humanidade tenha produzido a desaparição ou retraimento dos hierofantes genuínos, substituídos por homens não iluminados, causando assim a degeneração dos Mistérios em grosseiras caricaturas daquilo que foram; que homens perversos desejosos de conquistar poderes de magia negra tenham conseguido plenamente seus intuitos apropriando-se dessas instituições no Egito, como em outras parte do mundo; que o que havia sido originalmente uma instituição pura, sagrada, exclusiva e dedicada a conservar viva a chama do conhecimento espiritual, se converteu num instrumento ofensivo e degradante das forças corruptoras, são fatos históricos que levaram à merecida desaparição das jóias mais raras da antiguidade.
Entretanto, se seus segredos pereceram com eles, a sabedoria, que em seus dias mais gloriosos fora outorgada aos homens, está evidenciada pela lista de nomes ilustres que buscaram e acharam, ou aos quais foi oferecida e aceita a sublime experiência da iniciação. (Salve meu amado PAI JOÃO DE BENGUELA).